Cap 38

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Jack

Por mais que eu tenha ficado preocupado por ela ter vindo até aqui. Também foi a melhor coisa que aconteceu nesses 20 dias que fiquei preso. Ter ela bem na minha frente dizendo que acredita em mim e que vai me esperar foi...incrível.

Me viro um pouco na cama dura e sinto uma fisgada no lugar onde fui cortado, o que me faz soltar um gemido baixo. Não menti quando disse que foi superficial, mas porra isso dói para um caralho.

- Ei, toma cuidado com essa ferida aí - um dos caras da cela que está na beliche acima de mim fala - Tem que ficar quieto para que não infeccione - ele desce na cama e para ao meu lado.

- Eu tô legal - digo fazendo um gesto com a mão - Pode voltar lá para cima, tô bem.

Ele tem a pele mais escura e o cabelo bem cheio e cacheado. Seus braços são cobertos por tatuagens e ele é bom...bem forte e músculoso. Com ele não rola brigar.

- Tem que ficar ligado. Esses caras acham uma faca alí, um caco de vidro aqui e estão preparados, se eles te marcarem já era, cê não vai ter paz.

- É, demorei para notar mas acabei experimentando - digo e solto uma risada - Não foi interessante levar um caco de vidro no estômago.

- Imagino, play boy - ele ri - Sou Joe, cola na minha que você fica bem - ele estica a mão para mim.

- Sou Jack - pego sua mão o cumprimentando - Mas por que resolveu falar comigo de repente?

- Tô a um tempo nessa vida, não compensa, mas eu nunca tive muita escolha nessa vida, Jack. Eu sei bem reconhecer alguém que está aqui, quando deveria estar lá fora rapaz.

- Sinto muito cara. E obrigado - digo.

- É assim que é - ele dá tapinhas de leve no meu ombro - Fica bem aí - ele diz e volta para sua cama na parte de cima da beliche.

...

Cinco dias depois, a minha ferida não dói tanto mais. Joe se mostrou um cara legal, ele é direto e duro com as palavras, eu gostei dele, apesar de ficar me chamando de play boy na maior parte do tempo, ele é um cara bom.

Todo mundo parece respeitar ele por aqui, e o fato de ele falar comigo, faz com que os outros caras fiquem na deles. Principalmente o doido que me esfaqueou, não que ele me olhe com muita amizade no pátio, na verdade ele me encara como se quisesse ter me matado. Mas como não foi nada de mais e essas brigas são corriqueiras aqui, o merda só pegou uma semana de solitária.

Nesse exato momento eu, Joe e mais alguns outros presidiários estamos varrendo o pátio, há folhas e poeira por todos os lados.

- Essa sua namorada que você falou, ela tá mesmo te esperando lá fora? - Joe pergunta.

- Ela está, Joe - sorrio - E isso é a única coisa que me conforta.

- Ela acredita na sua inocência?

- Eu tive medo de que ela não acreditasse, mas ela acredita em mim, e está me ajudando a achar um jeito de sair.

- Você tem sorte por isso, valorize essa mulher - ele toca no meu braço.

- Eu a amo muito - digo e continuo varrendo - Ela é a única pessoa no mundo a quem eu protegeria com a vida.

- A família é complicada?

- Bom...meu pai já me odiava antes de eu ser preso, agora ele com certeza me despreza mais ainda. Minha mãe, ela não é ruim, mas também nunca tomou meu partido e meu irmão é um desgraçado, um infeliz. É culpa dele eu estar aqui agora, e é culpa dele eu quase ter perdido a mulher que amo.

- É, família complicada - ele confirma.

- E você Joe? Qual a sua história?

- Não é uma história legal, não tenho ninguém me esperando e não tenho mais família. Eu entrei pro mundo do crime bem novo, Jack. Nunca tive muita opção, um furto aqui, um assalto a mão armada alí e um dia eu fui pego em flagrante, aí não teve jeito. Vim parar aqui, e só então percebi que não compensa, quero sair daqui cara, sair para não voltar. Vou dar um jeito na minha vida, assim que terminar de pagar o que devo pelos meus crimes aqui.

- Sei que vai conseguir - digo - Ainda tem muitos anos pela frente?

- Se eu continuar me comportando, saio em seis meses. Já faz muito tempo que estou aqui rapaz, você não faz ideia - ele fala enquanto desliza a vassoura no chão.

- Quando estiver lá fora, e eu também - digo e solto uma risada - Vamos sair para tomar algo, por minha conta. E eu te apresento a minha namorada.

- Tá marcado em play boy, vou lembrar que é por sua conta.

- Tá mais que marcado.

...

Mais tarde quando já estamos sentados na cela contando histórias vergonhosas da nossa juventude um guarda bate na grade da cela e todos olhamos em sua direção.

- Prisioneiro 743816, levanta a bunda daí e vem aqui - o guarda fala.

- Ei play boy, é seu número - ele fala e eu confirmo.

- É, é meu número - digo e me levanto do chão. Logo em seguida caminho até a porta da cela, onde o guarda espera.

- Parece que você vai sair - ele fala e fecha a cela atrás de mim, depois me algema.

Olho para trás, para Joe e falo:

- Estou indo, mas te espero para aquela bebida daqui a seis meses grandão.

- Tá marcado, play boy - ele diz me fazendo rir.

O guarda me leva pelo corredor e assim que chegamos a uma sala onde se encontram várias caixas e um balcão com um policial, meu advogado e alguns papéis, meu corpo fica aliviado.

- Doutor Richard - digo e ele olha em minha direção.

- Sua condicional foi liberada Jack - ele sorri - Você vai para casa.

- Isso é bom - digo e o policial ao meu lado fica na minha frente e abre as algemas.

- Passo a mão nos pulsos agora soltos e olho para os papéis em cima do balcão.

- Assine aqui, depois troque as roupas e pegue seus pertences Miller - o policial atrás do balcão fala indiferente.

Depois de assinar tudo e me trocar, saio da penitenciária com o Doutor Richar e olho bem ao redor. Finalmente ar puro e livre. Porra eu não aguentava mais ficar lá dentro.

- Agora que saiu, as coisas serão mais fáceis. Principalmente graças às informações que Skyler vem me passando - ele diz me fazendo franzir o cenho e olhar para ele.

- Ela está falando com você?

- Ela tem falado comigo e com seus subordinados fora do país. Parece que descobriram uma empresa laranja que foi passada para seu nome recentemente, não deu tempo suficiente de obterem sua assinatura e nem outros documentos importantes. O que é uma enorme ponta solta. Isso foi um ótimo álibi para você, foi assim que consegui sua condicional para que houvessem mais investigações.

- Ela está fazendo tudo isso? Mas ela não deveria, se David souber, pode ser complicado para ela.

- Tudo bem, ele não vai desconfiar, pois na cabeça dele sua condicional se deve ao seu ferimento, também utilizei esse argumento. Você foi ferido, mas as investigações não terminaram, e você poderia ser mais ferido aqui dentro sendo inocente. O que tornou as coisas mais fáceis ainda para te liberar por enquanto.

- Não pensei que diria isso, mas que bom que fui esfaqueado.

- Seu palhaço - ele leva a mão ao cenho e ri.

CONTINUA...

Paixão ArdenteOnde histórias criam vida. Descubra agora