Cap 45

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Jack

Hoje é o dia em que recebo alta do hospital. Após duas semanas de intensa observação, finalmente posso sair. Em uma cadeira de rodas? Sim, mas só até meu braço se recuperar o suficiente para que eu possa usar uma muleta.

— Está tudo bem? — minha mãe pergunta, sua voz suave, enquanto o enfermeiro me ajuda a me acomodar na cadeira de rodas. — Como está se sentindo, filho? — Ela se agacha ao meu lado, os olhos cheios de preocupação.

— Estou bem. Não queria precisar disso, mas estou — sorrio, tentando tranquilizá-la.

Ela nunca deixou de me visitar, e meu pai... bom, ele também veio, embora só apareça quando acha que estou dormindo. Ele fica um pouco, pede desculpas e sai de mansinho. E eu, bom, finjo que estou dormindo. Não sei quem é mais covarde, ele por não me encarar de verdade, ou eu por manter os olhos fechados, evitando a conversa que ambos tememos. Talvez ainda não estejamos prontos.

— Logo vai se livrar dessa cadeira — o enfermeiro sorri enquanto ajusta o apoio dos pés. — Seguindo as recomendações do médico, prometo que em breve estará andando.

Andando meio manco, ele esqueceu de mencionar. Foi um acidente grave, e mesmo sabendo que a fisioterapia vai me ajudar a recuperar a mobilidade, sei que o andar nunca será o mesmo.

— Cheguei! — A voz alegre de Skyler me faz olhar para a porta, e lá está ela, radiante, com um vestido amarelo que realça seus cabelos ruivos soltos pelos ombros. Ela está linda.

— Que bom, filha — minha mãe sorri.

— Estou melhor agora? — brinco, passando a mão pelo cabelo recém-cortado e pela barba feita. — Até me deram um trato.

— Está um gato — Skyler ri, vindo até mim e depositando um beijo suave nos meus lábios.

— Eca, que casal meloso — ouço Thomas zombar enquanto entra, seguido por Collie.

— Vocês também vieram? — digo, genuinamente grato. — Valeu mesmo, pessoal.

— Claro, não íamos perder o dia da sua alta! — Collie responde, batendo levemente no meu ombro saudável.

...

Já em casa, Collie e Thomas me ajudam a sair da cadeira e me acomodam no sofá. Chloe vai passar o fim de semana aqui e vai trazer Rufus. Skyler vai ficar comigo por alguns dias, ela disse que vai cuidar de mim.

— Olha só, Thomas — Collie cutuca meu braço — os músculos do fortão deram uma sumida. Quem diria.

— Ha ha, muito engraçado — reviro os olhos. — Espera só até eu melhorar. Vou treinar tanto que vocês não vão me reconhecer.

— Parem com isso, ele está ótimo — Skyler intervém, se sentando ao meu lado e lançando um olhar protetor para os dois. — Vocês são uns palhaços.

— Meu Deus, que babona — Thomas provoca, rindo.

— Não está meio tarde? Vocês não têm um lugar pra ir? — brinco, piscando.

— O quê? Tá nos expulsando agora? — Collie finge indignação, dando um tapa leve no peito de Thomas.

— Estamos sendo enxotados — Thomas concorda, fingindo tristeza. — Absurdo.

— Ei, Jack! Eles podem ficar para o jantar se quiserem — Skyler diz, franzindo o cenho para mim.

— Não, Skyler, está tudo bem. — Collie ri. — A gente estava só brincando. Vamos deixar vocês à vontade. Se precisarem de algo, é só ligar.

— Obrigada, de verdade — Skyler se levanta e abraça os dois. — Não sei o que teria feito sem vocês durante esses meses difíceis.

Os dois me olham, sorrisos presunçosos nos rostos.

— Ei! Seus folgados, parem de sorrir desse jeito! — reclamo, fingindo irritação, mas Skyler apenas ri.

— Não sei qual de vocês três é o mais bobo — ela diz, revirando os olhos com um sorriso. — Vamos, vou acompanhá-los até a porta.

— Olhos no teto, seus espertinhos! — aviso enquanto eles saem, rindo às gargalhadas.

Assim que os dois saem, Skyler vem até mim e deposita um beijo demorado em meus lábios, me deixo levar e tento colocar o braço ao redor de sua cintura. Sou parado apenas pela fisgada de dor que me atinge.

— Ou...desculpe — sorrio para ela — O corpo meio quebrado atrapalha um pouco.

— Como ainda está meio quebrado, tem que pegar leve — ela leva a mão ao meu rosto o acariciando — Vamos, me conte o que sonhou, pois fiquei muito curiosa, e o senhor? Só me enrolou — ela cutuca meu braço de leve me fazendo sorrir.

— Foi um sonho perfeito — digo e solto um suspiro — Me lembrei daquela nossa conversa no parque, eu estava embriagado pela sensação, eu tinha você ao meu lado e...tínhamos uma família, um garoto e uma garotinha, eram gêmeos — pego a mão dela — Foi uma loucura, eu? Pai de menina? Mas foi... — Paro de falar quando olhos nos olhos dela e a vejo emocionada com lágrimas brilhando feito diamantes.

— Era isso que você estava sonhando enquanto estava em coma? Eu pensei que você estivesse sozinho e perdido... — As lágrimas rolam pelo seu rosto.

— Não houve um momento sequer em que você não esteve comigo — Levanto o meu braço bom e seco suas lágrimas com a palma da mão.

— Qual era o nome deles? — ela pergunta e sorri em meio ao choro.

— Shophie e Johnny — digo e sorrio me lembrando de como foi boa a experiência de ter duas pequenas cópias nossas.

Esse é um sonho que eu desejo mais do que tudo fazer com que se torne realidade a partir de agora...

— Ela era uma mine você, Sky. Porém tinha os olhos verdes. Já o Johnny, meu Deus, me assustou o fato de que era tão parecido comigo.

— Jack, meu Deus! Você está me fazendo desejar muitíssimo ter gêmeos agora mesmo — ela ri — É o sonho mais fofo de todos — ela olha para nossas mãos entrelaçadas em cima de minha perna esquerda e depois novamente para meus olhos.

— A partir de agora, eu prometo a você que vou realizar todos os sonhos lindos que tivermos juntos — digo e me inclino um pouco deixando um leve selar em sua testa.

— Tá legal papai — ela ri — Foram muitas emoções por hoje, não acha? Você precisa descansar um pouco, vamos para a cama.

— Meu Deus — eu tombo a cabeça para trás e fecho os olhos — Tenho você bem aqui comigo e não posso fazer nadinha, isso é frustrante sabia? Não consigo me mexer direito ainda e sinto muito a sua falta — digo olhando para sua boca.

— É mesmo uma pena — ela diz e suspira rindo — Agora só quando você melhorar um pouco mais, tá bem apressadinho?

— Essa não era a resposta que eu esperava ouvir sabia?

— Bom, ordens médicas, são ordens médicas. Nem adianta fazer essa carinha de cachorro abandonado, não vai funcionar — ela se levanta do sofá e puxa a cadeira de rodas para perto.

Então ela me ajuda a sentar na mesma e anda comigo pela sala, passando pelo corredor até chegar ao quarto. Nesse momento me sinto frustrado mas então ela abaixa a cabeça até a minha orelha e sussurra:

— Se você se comportar como um bom menino para melhorar logo, vai poder beijar cada pedacinho de mim, apenas seja comportado, sim? — ela morde o lóbulo da minha orelha me provocando e volta a empurrar a cadeira de rodas em direção a cama.

— Golpe baixo ruiva, golpe baixo! — digo e ela ri.

CONTINUA...

Paixão ArdenteOnde histórias criam vida. Descubra agora