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Quando chegou a hora do almoço, já estávamos exaustas devido à intensa prática e, acima de tudo, com muita fome. Embora não fosse uma obrigação, comer juntas fazia parte da rotina da seleção. A equipe e a comissão técnica costumam fazer as refeições no mesmo local, já que o hotel fornece as refeições, não havendo, portanto, necessidade de comer em locais separados. No entanto, nesta ocasião, tivemos a oportunidade de usufruir de uma prerrogativa inédita, inclusive em relação aos jogos de qualificação para as Olimpíadas: a possibilidade de sairmos à tarde para realizar outras atividades.

Apesar do convite de Larissa, ela não teve a oportunidade de se aproximar novamente para me informar que já podíamos partir. Assim que o treino foi concluído, Carolana me puxou, passando o braço pelo meu pescoço, em direção ao ônibus que nos levaria ao nosso destino final.

No entanto, apesar de sua iniciativa ter impedido que eu saísse com Larissa, Carol não foi quem se sentou ao meu lado no banco.

- Venha, Gabi, sequestrei esta gata aqui para que você não precise sentir ciúmes - disse Carol, com um tom brincalhão.

- Carol, por favor - respondi, um pouco constrangida.

- Relaxe, Lena, ela vai apreciar sentar ao seu lado - continuou Carol, enquanto Gabriela se dirigia ao assento ao meu lado.

Gabriela apenas sorria enquanto se acomodava. Carol continuava a nos perturbar. Gabriela começou a observar meu joelho enquanto eu balançava minha perna de maneira frenética. Eu estava nervosa não apenas em relação ao jogo, mas também com a investida repentina de Larissa. O relacionamento entre nós foi muito positivo durante as classificatórias, mas jamais imaginei que seria suficiente para receber um convite para retomar nosso relacionamento

Então, senti a mão de Gabriela repousar sobre meu joelho, forçando minha perna a parar de balançar.

- O que está te incomodando? - sua voz saiu em um sussurro.

- Nada além da ansiedade pelo jogo - respondi, tentando ocultar minha inquietação.

Senti a mão dela acariciar suavemente o local.

- Jogando da maneira como você tem feito, não vejo razão ou circunstância que justifique o medo de enfrentar a equipe adversária.

- Para você é fácil falar; você desempenha bem mesmo quando tenta não se destacar.

- É um elogio seu, mas meu desempenho é instável.

- Modéstia sua

- Realismo.

Voltei meu rosto para o lado e a vi me observando com um sorriso discreto. Não pude evitar uma leve risada ao perceber a descontração da situação. Seu olhar desceu lentamente até minha boca e, em seguida, para sua mão repousada sobre minha perna, começando a traçar pequenos círculos que iam até a metade da minha coxa. Observei os movimentos de sua mão, sentindo um nó se formar em meu estômago.

A aproximação repentina dela é tão inesperada quanto desconcertante. Eu me esforço para controlar a onda de emoções que ela provoca, mas é quase impossível desviar o olhar do nosso embate. Ela abre a boca, parece prestes a falar algo, mas logo a fecha, mergulhando o ambiente em um silêncio que se torna cada vez mais opressor. Eu, igualmente, me encontro sem palavras.

A quietude que se estabelece entre nós começa a se tornar palpavelmente desconfortável, e vejo sua mão se recolher para o colo, como se estivesse buscando um refúgio naquele gesto.

— Você sumiu. Como foi a passagem pelo exterior? — ela pergunta, quebrando o silêncio com um tom que mistura curiosidade e uma ponta de reprovação.

Se ela quiser, eu também queroOnde histórias criam vida. Descubra agora