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Deitadas na cama de solteiro, o silêncio preenchia o espaço entre nós, pontuado apenas pela respiração suave de Gabriela ao meu lado. Ela deslizava o dedo pelo meu ombro, numa carícia lenta e gentil, enquanto eu olhava para o teto, sentindo ainda as reverberações de tudo que aconteceu no carro. Minhas mãos estavam ligeiramente trêmulas, mas a presença dela ali, tão próxima e tão certa, fazia tudo parecer mais fácil de processar.

De repente, a voz dela, baixa e suave, cortou o silêncio:

— Você é a mulher mais linda que eu já vi, Helena.

A declaração me pegou desprevenida, trazendo uma mistura de surpresa e um leve calor que subiu para o rosto. Eu virei a cabeça em direção a ela, deixando meu olhar cair sobre o dedo que continuava fazendo carinho em meu ombro. Cada toque parecia quase reverberar, como se ela pudesse me ancorar àquele momento apenas com a ponta dos dedos.

Gabriela observava cada reação minha, seus olhos atentos e ternos, como se estivesse tentando captar cada emoção que passava pelo meu rosto.

Gabriela começou a deslizar a mão para o meu cabelo, cuidadosamente colocando as mechas para trás, o toque tão suave que parecia quase um afago. Em seguida, o dedão dela deslizou pela minha bochecha, acariciando cada linha do meu rosto com uma delicadeza que fazia meu coração acelerar.

— Sabe... — ela começou, com a voz baixa, quase em um sussurro. — Eu tive tanto medo de você não me dar uma segunda chance. De te perder pra sempre.

Ela me olhava com uma intensidade que me deixava completamente absorvida, as palavras dela pareciam me envolver, penetrando fundo na barreira que eu sempre erguia para me proteger. Não consegui responder de imediato, apenas continuei a encará-la, absorvendo cada nuance do rosto dela, cada expressão que passava por aqueles olhos que me fitavam com uma vulnerabilidade sincera.

— Achei que você nunca fosse me perdoar, que seguiria em frente sem mim — ela continuou, a voz embargada. — Mas agora estamos aqui... e eu não posso nem descrever o quanto isso significa pra mim.

Eu sentia meu coração apertar, afetada por tudo o que ela dizia. Havia tanto em jogo, tanto que eu nunca tinha permitido a ninguém, e ali estava ela, vulnerável, aberta, entregando cada parte de si para mim.

Gabriela deslizou o dedão pela minha bochecha, o olhar dela se fixando no meu como se estivesse buscando algo além da superfície.

— Helena... — ela começou, a voz suave, quase como um pedido. — Não deixe o que ele fez continuar te afetando. Eu sei que é difícil, mas eu quero ser a única parte do passado que você carrega. Quero que as únicas memórias que você guarde desse tempo sejam as nossas.

Senti meu coração acelerar, um peso que parecia me acompanhar há anos lentamente se dissolvendo naquelas palavras. Eu a olhava fixamente, a intensidade do momento nos envolvendo. Os olhos de Gabriela desceram, pousando sobre minha boca. E, pela primeira vez, eu realmente acreditei que nós duas merecíamos estar juntas, livres de tudo que tinha nos machucado antes.

Deixando que toda a minha vontade e sentimento transbordassem, inclinei-me para ela e a beijei, sem pressa, apaixonada, deixando que cada instante ficasse gravado na memória. Ela me puxou para mais perto, correspondendo com a mesma entrega, como se também quisesse eternizar cada segundo.

Ali, nos braços dela, senti a certeza de que, juntas, poderíamos transformar todas as lembranças difíceis em novas memórias – memórias que finalmente me trariam paz.

Deslizei para o lado, apoiando meu peso em um dos braços até rolar suavemente sobre Gabriela. Deitei-me junto a ela, aninhando minha cabeça em seu ombro e, com um dedo, tracei lentamente a linha de seu maxilar, sentindo a suavidade de sua pele. Gabriela começou a acariciar minha cabeça, os dedos afundando-se com delicadeza em meu cabelo, enquanto a outra mão descansava na minha cintura, o toque leve e reconfortante.

Se ela quiser, eu também queroOnde histórias criam vida. Descubra agora