Quando o jogo começou, eu já sentia o peso de tudo o que precisava extravasar. Cada saque, cada levantamento e cada bloqueio eram como uma válvula de escape, onde eu depositava a força de todos os sentimentos que estava carregando. A Polônia era um time forte, mas eu sabia que hoje não podia deixar nada abalar o foco.
Nos primeiros minutos, Gabriela deu o ritmo com um saque poderoso, e logo ganhamos os primeiros pontos. Eu sentia o olhar dela de tempos em tempos, mas me forçava a olhar apenas para a bola, me concentrando inteiramente no próximo movimento.
Minha raiva e angústia viraram impulso. Cada salto para atacar era mais alto, cada bloqueio era mais preciso, como se eu estivesse lutando contra algo maior dentro de mim. A Polônia não estava facilitando, mas eu também não estava disposta a dar espaço. As adversárias não conseguiam antecipar minha velocidade ou minha força, e eu via nos olhos delas um misto de surpresa e frustração.
Gabriela jogava de forma brilhante ao meu lado. Cada toque de bola dela era impecável, como se ela também estivesse concentrando tudo naquela partida. Com um passe perfeito, ela armou um ataque
Gabriela deu um passe perfeito, e eu senti o momento exato para atacar. Meu corpo reagiu automaticamente, e o som da bola tocando o chão do outro lado da quadra foi como um grito silencioso de alívio. Ponto para o Brasil.
O primeiro set avançava, e a Polônia tentava endurecer a defesa, mas nosso ritmo estava inabalável. Gabriela estava em sintonia total com o time, principalmente comigo, e a forma como ela distribuía as jogadas fazia nossa equipe brilhar. No final do set, com uma última cortada poderosa, encerramos com uma vitória sólida de 25 a 17.
No intervalo, meu coração ainda estava acelerado, mas, ao voltar para a quadra, era como se nada mais importasse. As emoções que normalmente me fariam hesitar só me davam mais força. Gabriela e eu trocamos um rápido olhar, quase como um entendimento silencioso. Ela sabia o quanto eu estava colocando naquele jogo e, talvez por isso, me dava o apoio exato que eu precisava — sem falar nada, sem quebrar o foco.
No segundo set, nossa energia foi avassaladora. A Polônia começou a ficar desestabilizada, e eu conseguia ver que nosso ritmo intenso estava fazendo efeito. Cada vez que Gabriela fazia uma jogada de precisão, eu me esforçava ainda mais para finalizar. Meu corpo estava cansado, mas meu coração continuava batendo com a mesma determinação.
Fechamos o segundo set com um 25 a 14. Durante o breve intervalo, a equipe comemorou, mas eu me mantive quieta, focada, respirando fundo, preparando-me para o terceiro set. Gabriela parecia respeitar meu silêncio, mantendo-se perto sem forçar nenhuma conversa.
No terceiro set, a Polônia começou a soltar ataques mais agressivos, e nossa defesa foi testada. Em um rally longo, cada ponto parecia durar uma eternidade. Eu bloqueava, atacava, e defendia com toda a força que tinha, e Gabriela continuava como um pilar, distribuindo os passes certos e criando as oportunidades ideais para finalizarmos. Com um último ataque, encerramos o set e o jogo em 25 a 16.
Quando o apito final soou, um alívio tomou conta de mim, mas, ao mesmo tempo, uma onda de emoções ameaçou subir novamente. O time comemorava, e eu forçava um sorriso para acompanhar. Gabriela veio até mim, os olhos brilhando, e por um segundo senti como se ela pudesse ver além da vitória, além da quadra.
Eu mal me virei e vi Sheila correndo na direção de Gabriela, com um sorriso exagerado e os braços erguidos em comemoração. Ela parecia entusiasmada demais, quase como se quisesse que todo mundo visse que estava ali, do lado dela. Meu coração deu um salto, e minha felicidade pela vitória se dissipou em segundos.
Gabriela a olhou surpresa, mas não recuou. A cena me atingiu como um soco, e senti aquele nó familiar na garganta. Respirei fundo, tentando não demonstrar, mas já sabia que minha expressão havia endurecido. Peguei minha mochila e saí em direção ao banco de reservas, tentando não olhar para trás.
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Se ela quiser, eu também quero
RomanceA linha tênue entre o passado e o presente precisa ser rompida para que Helena possa, além de superar traumas antigos, avançar na sua própria felicidade. Helena Gambatto retorna às suas raizes quando aceita a convocação para as olimpíadas e será obr...