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Suspirei profundamente enquanto encarava Gabriela, ainda desnorteada por tudo o que acabara de acontecer. Sua mão permanecia repousada no lado direito do meu rosto, e seu olhar corria por todo o meu corpo, como se estivesse memorizando cada detalhe. Eu estava sem palavras, incapaz de lidar com o turbilhão de emoções que se instalavam dentro de mim, enquanto a vergonha do momento anterior começava a apertar meu peito, dificultando minha respiração.

Gabriela, no entanto, não parecia sentir o menor desconforto com o que havíamos acabado de compartilhar. Pelo contrário, havia uma serenidade em seus olhos, misturada com algo mais profundo, algo que eu sempre reconheci, mas que tentei negar por tanto tempo. Ela me olhava com ternura, mas havia também uma certa determinação, como se quisesse muito mais do que aquele momento havia oferecido.

Soltei um suspiro pesado, tentando formular algo para dizer, mas fui interrompida pelo som de seu telefone tocando. O corpo dela tensionou contra o meu, e, sem que precisasse me dizer nada, eu já sabia quem ela temia que estivesse ligando. Gabriela tirou o telefone do bolso e, sem olhar para a tela, devolveu-o à mesma velocidade.

— Helena, eu sei que as coisas entre nós sempre foram complicadas... e eu sinto muito por tudo o que te fiz passar no passado. — Sua voz estava baixa, quase como um sussurro, mas cada palavra carregava o peso de uma confissão antiga. — Mas, por favor, me escuta agora. Sheilla não é o problema, ela nunca foi. O problema sempre fui eu, e eu sei disso. — Seus olhos encontraram os meus com uma intensidade que me fez tremer por dentro. — Mas eu quero mudar isso. Quero que nós possamos recomeçar.

Eu sabia que estava sendo honesta. Podia ver o quanto ela estava se esforçando para não repetir os erros de antes, para me mostrar que estava diferente. Mas a dor do passado ainda estava ali, latejando, e eu não podia simplesmente ignorar tudo o que havia acontecido.

— Gabriela, eu não sei se consigo... — comecei, mas a interrupção dela foi rápida.

— Só me dá uma chance. Só uma. — Sua voz soou quase como um pedido desesperado, mas havia uma firmeza ali que me fez hesitar. — Eu sei que errei, mas eu também sei que o que sentimos uma pela outra não acabou. E se você me der a chance, eu vou te provar que vale a pena. Eu vou te provar que mudei.

Minha mente estava confusa, dividida entre o medo de me machucar novamente e o desejo de acreditar que ela estava falando a verdade. Gabriela sempre teve essa capacidade de me desarmar, de me fazer considerar possibilidades que eu jamais permitiria a outra pessoa.

— Tudo o que eu quero é estar com você, Helena — continuou ela, seu olhar fixo em mim. — Eu quero te fazer feliz. Só me deixe tentar.

Eu senti um aperto no coração, e as palavras dela ecoaram na minha cabeça como um sussurro constante. Por mais que eu quisesse negar, parte de mim sabia que ela ainda tinha um lugar importante na minha vida. Talvez, contra todas as probabilidades, valesse a pena tentar de novo.

— Está bem — falei, finalmente cedendo. — Vou te dar uma chance. Mas saiba que, se me machucar de novo, Gabriela... não vai haver outra.

O alívio e a felicidade que passaram pelos olhos dela foram imediatos. Gabriela deu um pequeno sorriso, aquele sorriso que sempre me desarmou, e se aproximou um pouco mais.

— Eu não vou te decepcionar. Eu juro.

Ela me puxou para perto novamente, e desta vez, quando nossos lábios se encontraram, não havia mais hesitação. A insegurança que antes dominava meus pensamentos deu lugar a algo mais forte, algo que eu sabia que ainda estava lá, escondido sob as camadas de medo e dúvida.

Enquanto nos beijávamos, o mundo ao nosso redor pareceu desaparecer. Era como se, por um breve momento, tudo o que importava fosse nós duas, aqui, agora. E talvez, apenas talvez, essa nova chance pudesse ser exatamente o que eu precisava.

Se ela quiser, eu também queroOnde histórias criam vida. Descubra agora