22

97 16 19
                                    


Deitamos lado a lado na grama, deixando o sol aquecer nossos rostos e o almoço nos aquecer o estômago — com exceção do sorvete de salsinha, que eu sinceramente só consegui encarar algumas colheradas antes de desistir. Pousei o potinho ao meu lado, fazendo uma careta que arrancou uma risada de Gabriela.

— Tem que admitir, Lena... Eles se superaram nessa. Sorvete de salsinha! — Ela riu, rolando na grama para me observar de perto. Seus olhos brilhavam divertidos.

— Acho que é uma conspiração para nos desanimar de querer sobremesa, só pode. — Brinquei, apoiando a cabeça na mão e me virando para ela. — Daqui a pouco vão inventar sorvete de espinafre.

— Não duvido nada — ela riu, aproximando-se um pouco mais, nossos rostos a apenas alguns centímetros de distância. — Quem sabe um dia a gente não escapa daqui pra pegar um sorvete decente? Tipo um de chocolate, de verdade.

— Fechado! Só marcar o dia e a hora, que estou dentro. — Sorri para ela, sentindo o conforto de poder relaxar sem nenhuma preocupação — ou quase nenhuma, pelo menos naquele momento.

Ela se ajeitou, apoiando a cabeça no meu ombro e entrelaçando nossos dedos. Ficamos ali em silêncio, absorvendo a tranquilidade do instante. Com o vento leve balançando as folhas das árvores, me permiti fechar os olhos, tentando esquecer o peso que vinha carregando nas últimas semanas. A presença de Gabriela era reconfortante, quase uma âncora para manter minha sanidade.

— Sabe, Lena, eu queria que a gente pudesse ter mais momentos assim. Sem drama, sem complicações. — Ela suspirou, com a voz suave.

— Eu também — murmurei, apertando sua mão. — Esses momentos com você são o que me fazem sentir... em paz.

Ela virou o rosto para mim e deu um leve sorriso, seus olhos refletindo algo que eu não via há tempos: esperança. Era como se ela visse em nós algo que valesse a pena lutar.

— E vamos ter mais, prometo. — Ela falou baixinho, passando a ponta dos dedos suavemente pelo meu rosto. — Eu realmente quero fazer isso dar certo.

Olhei para ela, sentindo um calor inexplicável tomando conta do meu peito. Era um misto de felicidade e medo — medo de perder aquilo, mas também uma felicidade nova, uma centelha que eu achava já ter se apagado.

— Eu sei que é o que queremos — respondi, sincera. — Acho que temos uma chance, Gabi. Se continuarmos assim, deixando os problemas lá fora... podemos, sim.

Ela sorriu, e de repente, nada mais parecia importar. Nenhum sorvete ruim, nenhuma mensagem indesejada. Era só eu e Gabriela, deitadas na grama, rindo e compartilhando um momento de paz e cumplicidade.

Gabriela me olhou de lado, seu sorriso suavizando, mas com uma pontada de preocupação no olhar. Ela suspirou, hesitante, e finalmente perguntou:

— Lena, posso te perguntar uma coisa? Sobre... aquela crise de ansiedade.

Eu sorri, tentando tranquilizá-la. Gabriela sempre foi atenta, mas parecia estar especialmente vigilante nos últimos dias.

— Claro. Foi só um momento ruim, sabe? — respondi, tentando soar despreocupada. — Coisa que acontece. Acho que com a pressão das competições e tudo mais, faz parte.

Ela ainda parecia pouco convencida. O olhar dela passeou pelo meu rosto, analisando cada detalhe, cada pequena expressão.

— E outra coisa... você anda comendo cada vez menos. Está se alimentando direitinho? — Ela franziu o cenho, olhando de relance para o potinho de sorvete abandonado ao nosso lado.

Se ela quiser, eu também queroOnde histórias criam vida. Descubra agora