O dia em que te deixei - II

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Para Helena, minha estrela mais brilhante,

Escrevo esta carta com o coração pesado e a alma inundada de emoções que não consigo conter. Cada palavra aqui é uma tentativa desesperada de traduzir o que sinto, embora eu saiba que jamais poderei expressar completamente a profundidade do meu amor por você. Desde que nossos caminhos se cruzaram, meu mundo tem sido dividido entre momentos de luz absoluta e uma escuridão avassaladora — tudo dependendo da sua presença.

Penso em você constantemente. Sua risada é um eco nos meus dias mais silenciosos, seu sorriso é o amanhecer que ilumina minha existência. Mas, nos últimos tempos, há algo que me faz querer chorar toda vez que olho para trás ou penso no que poderíamos ter sido. A realidade me lembra que não devemos ficar juntas agora. E dói. Dói mais do que qualquer coisa que já experimentei. Dói porque sei que te amo mais do que a mim mesma, mais do que palavras podem descrever, mais do que o ar que respiro. E, ao mesmo tempo, esse amor me obriga a querer o seu bem acima de tudo.

Amar você é a coisa mais difícil e mais bonita que já vivi. É um paradoxo cruel, Helena. Amar significa, sim, lutar, reivindicar, segurar firme. Mas amar também é renunciar. E às vezes amar significa dar um passo para trás para que a pessoa que você ama possa dar um passo à frente. É isso que estou tentando fazer agora. Sei que parece egoísmo ou loucura. Sei que você tem percebido a distância que coloquei entre nós, e também sei que você tem tentado quebrar cada barreira que levanto. Mas, minha Helena, não entende que essa distância é a única coisa que me impede de sucumbir? Que é minha maneira de protegê-la — e talvez, de me proteger também?

Eu vou ficar com Sheilla. Não porque eu a ame. Não porque eu a queira. Mas porque preciso que você veja isso e me odeie. Preciso que você me tire do pedestal que colocou meu amor, e comece a olhar para si mesma com a reverência que merece. Meu maior medo, Helena, é que você tenha começado a acreditar que é insuficiente, que há algo de errado com você. Nada poderia estar mais longe da verdade. Você é tudo o que eu sempre quis, mas eu não posso ser tudo para você enquanto você não se enxergar como eu te vejo.

Sheilla não significa nada para mim. Eu a escolhi porque ela é fácil. Porque ela não mexe com as partes mais profundas e assustadoras de mim, como você faz. Você, com sua intensidade e luz, me obriga a confrontar quem sou, e isso é terrivelmente assustador. Sheilla é um porto seguro falso, uma mentira que conto a mim mesma porque a verdade — a verdade do que sinto por você — me assusta demais.

Helena, eu sei que você não acredita, mas cada vez que te vejo, meu coração grita por você. E cada vez que eu decido me afastar, uma parte de mim morre. Estou me destruindo pouco a pouco para que você possa se reconstruir. Não sei se isso faz sentido para você. Para mim, faz tanto que chega a doer.

Por favor, não desista de você mesma. Encontre força em sua própria luz. Ame-se da forma como eu te amo. Eu não sei o que o futuro nos reserva, mas sei que, onde quer que eu esteja, meu coração sempre estará com você. Você é meu lar, Helena. Sempre será.

Com todo o meu amor,
Gabriela

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Todas as cartas que vocês leram até o momento, exceto a "Com falta de amor", foram escritas por Gabriela para Helena.

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