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Minha raiva estava fervendo, queimando cada parte do meu corpo. Quando vi Gabriela se aproximar, senti um calafrio. Ela se sentou ao meu lado, ainda com aquele olhar preocupado, e perguntou, com a voz suave:

— O que aconteceu, Helena?

Eu apenas a encarei, tentando manter o controle, e respondi, seca:

— Nada.

Ela não pareceu satisfeita. Sua expressão se suavizou, mas continuou:

— Ethan disse alguma coisa?

Eu sabia que ela estava tentando entender, mas as palavras pareciam irritantes demais naquele momento. Não queria falar sobre isso. Então, com uma frieza que nem eu mesma reconhecia, respondi:

— Você teria visto se estivesse comigo.

Gabriela parecia perplexa com minha reação. Ela tentou justificar:

— Eu avisei que ia buscar comida, e não tinha visto o Ethan por perto.

Aquela tentativa dela de suavizar a situação só fez minha raiva crescer. Meus pensamentos estavam agitados, e a frustração tomava conta de mim. Me levantei de repente, sem olhar para ela.

— Tem algo que eu preciso fazer. Depois a gente se fala. — A voz saiu mais ríspida do que eu pretendia.

Gabriela, ainda confusa, perguntou:

— O que está acontecendo, Helena?

Eu não podia ficar ali, não podia explicar, não queria falar. Sem uma resposta, dei as costas e comecei a andar em direção ao campo, sentindo a raiva se intensificando com cada passo. Senti que Gabriela me chamava, gritando meu nome, mas não podia mais suportar. Precisava de um tempo longe dela, longe de tudo.

Atravessando uma multidão de atletas, consegui me enfiar entre eles, rapidamente saindo do campo de visão de Gabriela. A pressão no meu peito aumentou, mas a distância me deu um pouco de alívio.

Eu não podia continuar ali, não agora. Precisava de espaço, de um lugar onde pudesse parar de pensar. O mais rápido possível, me esgueirei pelos cantos do campo, escolhendo os caminhos mais afastados, para garantir que Gabriela não me visse. Quando finalmente entrei no hotel, respirei aliviada. Lá, pelo menos, eu poderia ter algum tempo sozinha.

No corredor, entrei no elevador e apertei o botão do andar. Com o barulho das portas se fechando, não pude evitar de puxar meu celular e ligar para Carol. Quando ela atendeu, a voz brincalhona dela soou, aliviando um pouco da tensão que eu sentia.

— E aí, garota, como está a minha campeã? — Carol disse, como sempre, com aquela energia irreverente.

Eu não estava com cabeça para brincadeiras. Deixei a frustração transparecer na minha voz:

— Carol, vai até o quarto da Rosamaria, por favor.

Ela parecia estranhar a mudança no meu tom.

— Oi? Tá tudo bem? — perguntou ela, mas eu já havia desligado, não dando espaço para mais conversas.

Me dirigindo ao quarto de Rosamaria, bati na porta com força. Eu não queria ser delicada, não queria ser educada. Eu precisava de respostas, e não tinha tempo para mais nada. O barulho das batidas ecoou pelos corredores vazios, e logo a porta foi aberta.

Rosa apareceu na porta, de pijama, com um sorriso zombeteiro no rosto.

— Quem é o ogro que está batendo assim na porta? — ela brincou, sem saber o que estava por vir.

Se ela quiser, eu também queroOnde histórias criam vida. Descubra agora