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Eu acreditei fielmente de que a confraternização no restaurante seria apenas do time, isto pois a comissão técnica tem trabalhado a plenos pulmões desde antes da nossa chegada em Paris. Mas Larissa estava aqui.

Vê-la depois do nosso término não foi doloroso, porque a nossa maturidade nos fez - eventualmente - ficarmos em bons termos umas com as outras. Ela se levantou para me cumprimentar e parecia tão feliz em me ver quanto qualquer uma ali na mesa. Antes mesmo que eu pudesse cumprimentar todas, ou fugir dali considerando o coro de aplausos que me acompanhava, Larissa se apressou em minha direção me abraçando com força.

- Eu sabia que você iria vir mas, mesmo assim, te ver aqui me dá um alívio absurdo. - ela sussurrou.

Retribui o seu abraço.

- Lari, eu mal acreditava que viria até estar aqui, não posso te julgar por isso.

Ela afrouxou o aperto e colocou suas mãos no meu rosto enquanto se unia aos demais comentários sobre meu comparecimento. Carol se espreitou para o meu lado, agarrando o meu braço.

- Que beleza, teremos remember em Paris. - falou próxima ao meu ouvido.

- Eu juro que se ela ouvir a sua bobeira eu vou matar você.

Ela me arrastou até a mesa e me acompanhou enquanto eu cumprimentava todas as meninas. Bom, quase todas. É claro que ela se afastou para "assegurar minha privacidade" quando fui falar com Gabriela.

O nosso reencontro não foi tão estranho como imaginei que seria. Não que estivéssemos superando algum confronto, nunca chegamos e ter alguma briga que pudesse vir a justificar a existência de alguma raiva ou ódio entre nós. Mas ter nutrido sentimentos por ela por longos anos, ter a impressão de que era mútuo e, logo em seguida, receber a notícia de que ela estava em um relacionamento sério com outra pessoa que não eu foi um golpe que tive grandes dificuldades para digerir.

Estávamos jogando juntas pela seleção quando isso aconteceu, me lembro como se fosse ontem de vê-las interagindo intimamente juntas. Comentei com a Carol que acreditava ter algo ali para além da amizade, que ainda não havia sido assumido, mas ela afirmou com certeza absoluta de que não havia nada, finalizando com um comentário sobre "ela só fala de você, Lena". Toda a internet só sabia comentar sobre as interações entre Gabi e Sheilla. Poucos dias depois, sentada no banco durante um treino oficial, avistei as duas dando um beijo rápido de cumprimento. Me lembro de ter dito para Carol que ela a tinha escolhido, a qual demorou para perceber sobre o que eu estava falando.

Eu estava pronta para chorar. Me levantei e saí, simplesmente. Zé Roberto me chamava enquanto me distanciava com pressa do local, o que chamou a atenção de todas presentes.

Acredito que a tranquilidade com a qual cumprimentei-a tem ligação com o fato de que, com o transcorrer do tempo, me acostumei a conviver com o sentimento e o guardei apenas como uma recordação dos bons tempos que passamos juntas, apesar de tudo. Eu superei o que aconteceu, encontra-la não me traz nenhum sentimento ruim.

Assim que terminamos o abraço já me apressei em ocupar o lugar de Carol na mesa que era infinitamente mais bem posicionado do que o banco que me haviam sido separado.

Começamos a beber e Larissa não demorou a se deslocar para ficar ao meu lado, ela sempre foi uma pessoa reservada e estar perto de mim com quem manteve muito contato faz com que ela se sinta mais confortável e simplesmente aproveitar a noite. Apesar disso, ela mantém a mesma mania de quando estávamos juntas: quanto mais a bebida faz efeito, mais começa a trabalhar na coisa do toque físico. 

Acredito ser justificável se acostumar com as manias das pessoas quando vocês mantem um relacionamento por dois anos e, por isso, só percebo a sua mão em meu joelho no primeiro momento de contato, poucos segundos após já me esqueço completamente e mal sinto a carícia que ela faz. 

Certo, talvez não seja o costume, pode ser que a bebida tenha sua parte nisso.

Intensificamos a porcentagem de álcool nas bebidas e a quantidade delas. Apesar da queda em meu desempenho quando o assunto é festa, hoje em especial estou disposta a fazer o máximo para retornar às minhas raízes e entregar para essas garotas a mesma companhia que costumava ter antigamente.

- Qual será agora, senhorita?

- Whisky, dose dupla, pode colocar gelo e rodelas de laranja por favor, mas absolutamente nenhuma outra bebida para diluir.

Daroit me encara erguendo as sobrancelhas. Dou de ombros brincando com ela, oferecendo o meu melhor para encenar como se o que estou fazendo não fosse ter nenhum efeito sobre mim.

- Vá devagar Lê, você não pode estar mal amanhã.

- Manera Helena, amanhã tem treino logo cedo, por favor. - É a primeira vez que realmente ouço a voz de Gabriela sendo dirigida para mim desde que me sentei. Larissa a encara.

- Eu estou bem, é claro que estou. Se eu compreender estar passando dos limites irei embora na hora, se for esse o objetivo de vocês.

- Helena você sabe que...

Me levanto repentinamente pois não quero ouvir os seus sermões agora. O garçom tem o timing perfeito com meu whisky e já me apresso em erguê-lo e puxar um brinde em nossa homenagem.

Apesar da passagem do tempo e a frequência com a qual os garçons renovavam os drinks dispostos sobre a mesa, Carol parecia intacta. 

- Lena, você não está fazendo jus a todos os sites que contavam como você passava as noites pós treino em bares.

- Eu disse a você que duvidava muito disso Carol, a Lê não é de beber dessa forma. - Larissa ria enquanto afagava o meu ombro esquerdo.

Neste ponto as imagens a minha volta passavam mais rápido e as risadas a minha volta pareciam mais altas. Sequer percebi que eu mesma estava rindo.

- Por Deus, eu sabia que era melhor ter ficado no quarto.

- Deveríamos brindar agora, é a primeira vez que a Helena não foge cedo de nós dentro dos últimos dois anos. - a voz de Thaisa soava como o estampido de uma arma perto de mim.

A pontuação dela sobre ser a primeira vez que eu não as deixo no bar dentro dos últimos dois anos me afeta de certa forma e, considerando meu estado atual, a possibilidade de que ela perceba que é coincidentemente a data na qual começou a namorar com uma terceira pessoa me acerta em cheio.

Agora sinto que preciso me deitar o mais breve possível, antes que eu comece a falar o que não deveria.

Carol me conhece o suficiente para saber no que estou pensando, mas não é eficiente o suficiente em me fazer calar a boca a tempo.

- Desculpa, eu posso ter demorado muito tempo para processar o toco público que levei, mas agora estou lidando bem com isso.

Thaisa ri alto, achando genuinamente engraçado o meu comentário. Larissa se enrijece ao meu lado, talvez porque a forma como falei tenha colocado o nosso relacionamento - que está dentro desse período de dois anos - como o esparadrapo que todos já acreditavam ter sido. 

- Não acredito, Helena Kudiess foi realmente recusada? Muitos homens e mulheres matariam para ter a oportunidade de que você os olhe, quem dirá de ter a opção de te tocar.

- Nem me fale Thaisa, eu não faço ideia de como alguém em sã consciência seria capaz disso.

Estamos realmente bêbadas e eu preciso começar a pesar mais as minhas palavras.

- Isso não é verdade, Lena estava muito bem acompanhada. - Carol se apressou em minha direção - Meia noite cinderela, hora de fugir do baile.

Senti os seus braços me agarrando enquanto me esforçava para voltar para meu lugar.

- Na minha conta Ca, vou arrastar essa aqui comigo agora.

Se ela quiser, eu também queroOnde histórias criam vida. Descubra agora