Eu estava de volta ao mesmo ponto que sempre revisitava. Durante a festa, tudo parecia perfeito, mas o pós-festa era um verdadeiro turbilhão. A pressão do lado direito da minha cabeça pulsava, como se quisesse me forçar a vomitar.
Abri os olhos lentamente, encarando o familiar conjunto de móveis ao meu redor. Era a segunda vez que acordava ali, e, de algum modo, a rotina se repetia: eu, embriagada, despertando ao lado de Gabriela. Desta vez, porém, tudo se resumia a este cômodo.
Virei-me para o lado, fitando a cama vazia que antes abrigara Gabriela, e um pensamento inquietante me ocorreu: onde ela estaria naquela manhã? Estaria com Sheilla?
Sentei-me na beirada da cama, o incômodo da dúvida intensificando o nó no meu estômago. Decidi que precisava de um banho. A raiva pulsava em minhas veias, e eu encarei a porta do banheiro. Foi então que, quase sem querer, um post-it colado na cabeceira chamou minha atenção.
"Fui correr, mas jamais seria capaz de te acordar por isso. Vou aproveitar minha saída para comprar alguns suprimentos pós-bebedeira para você. Por favor, esteja no quarto quando eu voltar. Sinto muito pela confusão com a Sheilla ontem, mas não me arrependo de nada.
- Gabi
Obs: Larissa estava insistentemente te ligando. Espero que você não retorne para ela : )"Fiquei parada, encarando o bilhete, absorvendo cada palavra. A confusão com Sheilla voltava à minha mente, nebulosa, como uma lembrança que eu queria enterrar, mas que insistia em emergir. O sorriso implícito no emoji ao final da mensagem de Gabi só tornava tudo mais confuso. Ela não se arrependia, mas e eu? Eu sentia o arrependimento pesando nos meus ombros como uma pedra.
Levantei-me com dificuldade, as pernas bambas, e fui até o banheiro. A água quente escorrendo pelo meu corpo trouxe um breve alívio, como se lavasse não só o cansaço, mas também a ansiedade que se acumulava desde a noite anterior. Mas nem mesmo a água conseguia apagar as perguntas que latejavam na minha mente. O que realmente havia acontecido entre Gabi e Sheilla? E por que Larissa estava me ligando tão insistentemente?
Enquanto o vapor tomava conta do banheiro, tentei organizar meus pensamentos. Larissa, minha ex, tinha o péssimo hábito de aparecer nos momentos mais inoportunos, como se soubesse quando eu estava emocionalmente vulnerável. Era uma sensação sufocante, como se ela ainda tivesse algum tipo de controle sobre mim, mesmo depois de tanto tempo.
Saí do banho, a cabeça um pouco mais clara, mas a confusão ainda presente. Vesti uma roupa qualquer e me sentei na cama novamente, encarando o celular. Havia várias chamadas perdidas de Larissa, além de uma mensagem curta: "Precisamos conversar."
Deixei o celular de lado. Minha mente estava dividida entre o que fazer quando Gabi voltasse e se eu deveria ou não responder a Larissa. O post-it na cabeceira agora parecia um lembrete de algo mais profundo, algo que eu precisava encarar: minha própria indecisão. Eu sempre me via entre o passado e o presente, entre Larissa e Gabi, entre o desejo de seguir em frente e a necessidade de resolver o que ficou para trás.
O som da porta se abrindo me trouxe de volta ao presente. Gabi entrou, carregando sacolas e com um sorriso cansado no rosto. Seus olhos me encontraram, e por um breve momento, eu quis acreditar que tudo poderia voltar a ser simples, como nas festas em que nos conhecemos.
- Comprei suas coisas preferidas - disse ela, colocando as sacolas no chão. - Você está melhor?
Eu queria responder que sim, que tudo estava bem, mas a verdade era que eu não sabia como estava.
Quando Gabi entrou no quarto, o ar pareceu ficar mais pesado. Ela sorriu de leve, mas eu sabia que aquilo era uma tentativa frágil de esconder o que realmente estava se passando. O jeito como ela mexia nas sacolas, sem fazer contato visual, só reforçava o que eu já temia: ela estava desconfortável. Desde que acordei, tudo o que conseguia pensar era no que aconteceu entre nós e, principalmente, na discussão dela com Sheilla.
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Se ela quiser, eu também quero
RomansaA linha tênue entre o passado e o presente precisa ser rompida para que Helena possa, além de superar traumas antigos, avançar na sua própria felicidade. Helena Gambatto retorna às suas raizes quando aceita a convocação para as olimpíadas e será obr...