No dia seguinte, enquanto me preparava para o jogo, sentia cada movimento pesar sobre mim. O uniforme que Rosa tinha buscado para mim estava bem arrumado na cama, e por mais que eu tentasse focar na partida, minha mente estava afundada em todo o tumulto dos últimos dias. Tomando banho, deixei as lágrimas escaparem uma última vez. Era uma mistura de exaustão e vazio, como se cada gota de água levasse um pouco de tudo o que eu havia sonhado com Gabriela.
Quando saí do banheiro, Rosa e Roberta já estavam prontas, me esperando com um olhar que variava entre compreensão e preocupação. Roberta foi a primeira a quebrar o silêncio.
— Lena, você está bem? — A voz dela era suave, mas firme. Ela tentava respeitar meu espaço, mas dava para ver que a preocupação estava ali.
Respirei fundo, forçando um sorriso que mal chegava a parecer real.
— Sim, vai ficar tudo bem, Ro. — Minha voz soou tranquila, talvez até convincente. — Estou pronta para o jogo.
Eu sabia que elas não acreditavam totalmente, mas preferi ignorar a compaixão nos olhares delas. Era um alívio ter desligado o telefone; era como se, pelo menos por algumas horas, eu pudesse me blindar de toda aquela dor e apenas focar no que estava por vir. Quando saímos do quarto, eu me concentrava em cada passo, em cada detalhe ao nosso redor, como se pudesse me distrair das lembranças da noite anterior.
Descemos juntas para o refeitório. Rosa e Roberta conversavam sobre alguma estratégia, e eu ouvia apenas o essencial, respondendo com pequenos acenos para disfarçar meu desligamento.
Foi quando a vi. Gabriela estava do outro lado do refeitório, conversando com alguns membros da equipe, mas dava para sentir o olhar dela me procurando, esperando alguma brecha. Só que, dessa vez, eu estava determinada. Não importava o quanto meu coração batesse descompassado ao vê-la. Mantive o olhar fixo para frente, como se ela fosse apenas mais uma pessoa ali, alguém que não fazia diferença.
Mesmo que por dentro eu sentisse como se cada tentativa de ignorá-la fosse um golpe, cada vez mais pesado e mais difícil de sustentar.
Rosa e Roberta seguiram comigo até a mesa, e eu fazia tudo para parecer focada, tranquila, como se nada tivesse mudado. Mas, por dentro, tudo o que eu sentia era a ausência do que já fomos e o medo constante do que nunca seríamos.
Enquanto estava sentada, eu sentia o olhar de Gabriela me queimando a distância, mas não dei o menor sinal de que a percebia. Não olharia para ela, não mostraria nem uma fração do turbilhão que estava me devastando por dentro. Cada segundo naquela mesa era uma tortura, e o nó no meu estômago parecia aumentar com a angústia. Em silêncio, mantive a compostura, como se estivesse perfeitamente bem, mesmo que a dor no estômago fizesse com que eu mal conseguisse encarar a comida à minha frente. Peguei algumas frutas, me forçando a comer aos poucos, embora cada pedaço parecesse um peso que mal descia.
Rosamaria notou meu desconforto e, depois de um tempo, tentou disfarçar a preocupação.
— Lena, você está bem mesmo? — sussurrou, olhando ao redor e fazendo o possível para que só eu ouvisse.
Respirei fundo, tentando apagar qualquer traço de dor da expressão, e olhei para Rosa com uma determinação que eu mal sentia.
— Rosa, só finge que está tudo bem, por favor. Principalmente na frente dela — pedi, controlando o tom de voz para não transparecer o desespero que me dominava.
Ela assentiu, o olhar dela se suavizando um pouco, talvez entendendo a minha necessidade de parecer forte, de não dar a Gabriela a chance de ver que eu estava frágil. Senti Rosa e Roberta me lançarem olhares de apoio, e isso me deu uma força mínima para permanecer ali, resistindo ao impulso de olhar para Gabriela, de tentar ler qualquer coisa em seu rosto que pudesse aliviar o que eu sentia.
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Se ela quiser, eu também quero
RomanceA linha tênue entre o passado e o presente precisa ser rompida para que Helena possa, além de superar traumas antigos, avançar na sua própria felicidade. Helena Gambatto retorna às suas raizes quando aceita a convocação para as olimpíadas e será obr...