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No vestiário, enquanto ajusto os cadarços do tênis, minha mente está distante, presa em um redemoinho de pensamentos que não consigo controlar. Gabriela. Ela não sai da minha cabeça. Há dias ela tem me dado o espaço que acha que preciso, e, por mais que eu tenha achado que queria isso no início, agora percebo o quanto sinto a falta dela. O toque dela, a voz dela, até mesmo os sorrisos que eu me recusava a devolver.

Tudo o que aconteceu com Sheila ainda parece um golpe baixo e doloroso demais para simplesmente deixar passar. Foi uma ferida que não cicatrizou, uma dúvida que ainda ecoa, mesmo depois de tantas cartas, tantas palavras, tantas provas do que Gabriela sente por mim.

As cartas... elas se tornaram uma rotina. Todos os dias, eu as leio. Cada palavra me corta e, ao mesmo tempo, me abraça. É uma mistura de saudade e dor, um amor que eu ainda não sei como lidar. "O dia em que te deixei partir" foi a mais difícil de todas, mas também foi a que me fez enxergar o quanto Gabriela sofreu, mesmo quando parecia estar me rejeitando.

Hoje é a semifinal contra os Estados Unidos, e eu deveria estar focada no jogo, mas tudo o que consigo pensar é nela. No quanto sinto falta de olhar para o lado e encontrá-la, de ouvir a voz dela dizendo que tudo vai ficar bem. No quanto eu gostaria que, quando voltássemos para o hotel, ela estivesse lá, esperando por mim.

Os outros estão conversando, ajustando os uniformes, se preparando. Eu estou aqui, tentando colocar meu foco no jogo, mas minha mente insiste em voltar para Gabriela. Por mais que eu tente me convencer do contrário, a verdade é clara: eu amo ela. E, por mais que tudo tenha sido um caos, ainda dói pensar em como as coisas chegaram a esse ponto.

Enquanto ajustava as meias e as caneleiras, o vestiário parecia mais silencioso do que o normal, embora o som de vozes e risos distantes ainda ecoasse no fundo. Eu me encarava no espelho do armário aberto à minha frente, tentando me reconhecer na minha própria imagem. Tudo parecia tão confuso. Era como se o brilho da minha vida tivesse se apagado, e eu estivesse apenas tentando existir no meio de uma tempestade emocional que parecia não ter fim.

Gabriela não passou por aqui, e eu sabia o motivo. A semifinal contra os Estados Unidos era enorme, contra a atual campeã mundial. Gabriela, sendo quem ela é, estava com a equipe técnica, discutindo estratégias, como sempre fazia. Eu deveria estar pensando nisso também, mas não conseguia afastar minha mente do caos que era nossa história.

A verdade é que as cartas dela mudaram tudo. Antes, a dor de não saber o que realmente tinha acontecido entre nós era insuportável, um nó constante no meu peito. Mas agora, depois de ler suas palavras, tudo parecia fazer sentido de uma maneira cruelmente dolorosa. Gabriela estava certa. Naquela época, eu não sabia me amar. Eu abria mão de tudo — minha saúde, meu equilíbrio, minha paz — só para estar ao lado dela. E Gabriela, mesmo me amando, percebeu isso antes de mim. Ela me deu espaço para crescer, para aprender a me amar, mesmo que isso a tivesse destruído por dentro.

Eu quase podia ouvi-la dizer isso enquanto lia aquelas cartas. O quanto ela sofreu por me deixar partir, não porque não me amava, mas porque sabia que eu precisava de algo que ela não podia me dar: amor-próprio. Mas, ao invés de aproveitar essa oportunidade, eu me joguei no relacionamento mais destrutivo da minha vida.

Pensar em Ethan ainda era como reviver um pesadelo. Ele queria ser tudo para mim, queria que eu o colocasse acima de mim mesma, acima de qualquer coisa. Eu deixei isso acontecer, porque estava perdida e achava que precisava de alguém que me amasse o suficiente para tapar o buraco que Gabriela tinha deixado. Mas Ethan não me amava de verdade; ele queria posse, controle. E eu... eu perdi ainda mais de mim mesma.

Passei a mão na testa, tentando afastar as memórias que me sufocavam. Senti os olhos arderem, mas eu não ia chorar agora. Não aqui. Não antes desse jogo. Engoli em seco, ajustei a postura e fechei o armário. Precisava entrar em quadra e jogar como se nada disso estivesse acontecendo dentro de mim, mesmo que cada movimento fosse uma luta para segurar as lágrimas.

Se ela quiser, eu também queroOnde histórias criam vida. Descubra agora