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Gabriela me encostou suavemente contra a parede, ainda segurando meu rosto com firmeza e continuando a me beijar com a mesma intensidade de antes. Instintivamente, segurei seus pulsos, sentindo o calor da sua pele contra a minha enquanto acariciava o local com o dedão, como se quisesse me ancorar naquele momento. O ambiente estava escuro, e tudo ao redor parecia não importar mais. Apenas nós duas.

Lentamente, ela foi interrompendo o beijo, mas sem se afastar. Nossas testas se encontraram, e eu fiquei ali, de olhos semiabertos, encarando seus lábios de pertinho, sentindo uma angústia leve tomar conta de mim. Gabriela sempre conseguia me desarmar, e essa proximidade repentina me deixava um pouco vulnerável.

— Eu ouvi boatos — ela murmurou, sua respiração calma misturando-se com a minha.

— Que boatos? — perguntei, sem conseguir esconder a curiosidade e a apreensão na voz.

Gabriela manteve os olhos fechados por um instante, como se estivesse pesando suas próximas palavras.

— Que envolvem o acidente.

Meu estômago se apertou. O acidente. O passado que eu tinha tanto esforço para enterrar voltava, sem aviso. Eu tentei me preparar, mas minha voz saiu mais hesitante do que eu gostaria.

— Qual parte do evento você sabe? — perguntei, tentando parecer tranquila, mas meu coração já estava acelerado.

Ela me encarou de perto, seus olhos buscando os meus com a mesma intensidade de sempre.

— Me diga você.

Engoli seco, minha cabeça girando em busca de forças para continuar. Mas, antes que o desconforto me dominasse completamente, senti o dedão dela acariciar suavemente meu rosto, seguido por uma série de pequenos beijinhos que Gabriela distribuía com ternura pelo meu rosto. Era como se ela estivesse me dizendo, com aqueles gestos, que eu não precisava ter medo, que estava segura ali com ela.

Abracei sua cintura, buscando apoio e segurança. O toque dela me reconfortava, me dava coragem para enfrentar aquilo. E, finalmente, comecei a falar.

— Isso é terrível para mim... — confessei, baixinho.

— Você só precisa ir até onde quiser me contar — Gabriela respondeu, dando mais um beijinho rápido no meu rosto, sem pressionar, apenas me incentivando a seguir no meu próprio ritmo.

Suspirei fundo, tentando organizar meus pensamentos e controlar o peso que aquelas memórias ainda traziam.

— Ethan era ciumento. A gente brigou feio um dia — comecei, enquanto sentia os lábios de Gabriela tocarem meu rosto novamente, em um gesto de apoio silencioso.

— Decidi que não dava mais, que ia sair de casa e nunca mais voltar. Falei isso pra ele... — outro beijinho, rápido, mas cheio de carinho. Eu me sentia um pouco mais forte com cada toque.

Continuei, as palavras saindo com mais dificuldade. — Ele não aceitou. Disse que as coisas não podiam terminar assim, que eu devia perdoá-lo.

Mais um beijo.

— Ele saiu do apartamento por um tempo, e eu comecei a arrumar minhas malas. Demorou um pouco, mas eu queria sair de lá de uma vez.

Gabriela continuou ouvindo em silêncio, seus beijinhos constantes em meu rosto me acalmando, me ajudando a não perder o fio da história.

— Quando ele voltou, continuou implorando pra eu ficar. Mas eu... — hesitei por um segundo, sentindo o peso daquele momento, mas Gabriela me deu mais um beijinho rápido, encorajando-me a seguir. — Eu me recusei. Saí de casa com a mala.

As memórias ficaram mais claras, dolorosamente vívidas. — Fui andando até o meu carro, ouvindo os gritos dele atrás de mim.

Fiquei em silêncio por um momento, e Gabriela me deu mais um beijo, como se soubesse que aquele era o ponto mais difícil. Eu respirei fundo, tentando não me afundar completamente nas lembranças.

— Eu acordei no hospital... — minha voz tremeu um pouco. — Ele cortou o cabo do freio.

As palavras ficaram no ar, pesadas e cruéis. Gabriela permaneceu em silêncio, mas seu abraço apertou ao meu redor, como se quisesse me proteger de tudo aquilo, de todo o mal que já tinha passado. Eu sabia que ela não precisava dizer nada. Ela estava ali, comigo. E isso, por enquanto, era suficiente.

Gabriela permaneceu em silêncio, mantendo nossas testas encostadas enquanto continuava a fazer carinho no meu rosto. Sua respiração era calma, constante, e, por mais que eu me sentisse afundando nas lembranças dolorosas, a presença dela ali me ancorava. A cada toque, sentia um apoio sincero, algo que nunca havia experimentado daquela forma antes.

Mas, ao mesmo tempo, a dor emocional que veio à tona com a memória de Ethan me deixava vulnerável, como se estivesse sendo exposta de uma forma que nunca quis estar. Minha respiração começou a ficar mais pesada, e as memórias me sufocavam lentamente. No entanto, o carinho de Gabriela me mantinha ali, presente. Ela me permitia sentir, sem me julgar.

— Está pronta para me permitir invadir mais uma memória sua? — Gabriela perguntou de repente, quebrando o silêncio com a voz baixa, mas firme.

Levantei o olhar, um pouco confusa. — Como assim? — perguntei, tentando entender o que ela queria dizer.

Ela sorriu de leve, um sorriso suave, e respondeu: — Eu te disse que queria que você se lembrasse de mim em cada uma das piores.

Havia dito isso. E agora eu entendia o que ela queria — ela queria estar comigo nesses momentos sombrios, ser o oposto do que eu havia vivido com Ethan. Um contraste de dor e amor.

Suspirei, concordando. — Ata. Sim.

Gabriela me deu mais um olhar intenso e, sem dizer nada, pediu que eu esperasse. Ela saiu do quarto apressada, deixando-me sozinha com meus pensamentos. O vazio que ficou depois que ela saiu foi preenchido pela dor que eu tentava, mais uma vez, sufocar. Fui até o banheiro, pegando meu pijama, decidida a me trocar e tentar seguir em frente, de alguma maneira.

Tirei a blusa e, automaticamente, meus dedos deslizaram até a cicatriz na parte baixa direita da minha cintura. O lugar exato onde eu fui perfurada no acidente. A cicatriz era pequena, mas cada toque nela trazia uma enxurrada de lembranças amargas, de dor física e emocional. Eu passei o dedo por ela lentamente, como se tentasse apagar o que havia acontecido — mas o passado sempre ficava, como aquela marca.

O silêncio era pesado, e Gabriela estava demorando. Eu terminei de me trocar, colocando o pijama, mas o incômodo daquela memória ainda estava comigo. Estava prestes a me deitar quando ouvi o barulho da porta do quarto se abrindo de forma apressada.

Gabriela apareceu na porta, um pouco ofegante, os olhos focados em mim. Parecia que tinha corrido, o que me fez levantar uma sobrancelha em surpresa.

— O que você fez? — perguntei, cruzando os braços, embora minha voz soasse menos dura do que eu esperava.

Ela ergueu a mão direita, exibindo a chave pendurada em um de seus dedos.

— Vamos transar no carro — o seu sorriso se alargou.

— Espera, o que? — estava boquiaberta com a proposta repentina.

Antes que eu pudesse apropriadamente repensar o que estava de fato acontecendo, Gabriela se precipitou para dentro do quarto me agarrando pelo braço.

— Vamos, eu não quero perder tempo. Preciso aproveitar cada segundo.

— Gabriela, espera...

Fui interrompida pelo baque da porta do nosso quarto sendo trancada atrás de mim enquanto Gabriela me arrastava pelo corredor.

Se ela quiser, eu também queroOnde histórias criam vida. Descubra agora