O ginásio estava em completa ebulição. O som da torcida brasileira misturava-se ao dos italianos, criando uma tensão palpável no ar. A Itália era uma das seleções mais poderosas do mundo, e tínhamos plena consciência disso. Mas estávamos ali por algo maior: o ouro olímpico.
O primeiro set começou com as italianas mostrando a que vieram. Paola Egonu era uma máquina de potência e precisão, disparando ataques impossíveis de defender. Nos primeiros pontos, parecia que estávamos sendo sufocadas. Thaisa entrou como central, posicionando-se rapidamente para os bloqueios, mas o ataque italiano explorava nossos buracos com uma habilidade assustadora.
— Vamos, meninas! — Gabriela gritava a cada pausa, tentando nos manter unidas. Sua presença era um pilar, um lembrete constante de que precisávamos lutar juntas.
u estava no banco, enquanto Rosa começava o set como oposta. Sentada, meu coração batia tão forte que podia sentir em cada fibra do meu corpo.
Rosa estava brilhante, conectando ataques que conseguiam perfurar a defesa italiana, mas a Itália devolvia na mesma intensidade. Thaisa, como central, lutava para ajustar os bloqueios, mas as italianas exploravam nossos erros com precisão cirúrgica. Gabriela, nossa levantadora, fazia o impossível para manter o time unido, distribuindo bolas rápidas para Julia Bergman e Ana Cristina, que atacavam pelas pontas com agilidade.
Zé nos pediu uma pausa.
— Meninas, ajustem o bloqueio! A Egonu está explorando a diagonal curta. Façam ela jogar na paralela.
Voltamos à quadra mais atentas, mas o primeiro set terminou 25 a 21 para a Itália. Eu entrei no final, mas não consegui mudar o resultado.
No segundo set, foi minha vez de começar como oposta. Respirei fundo enquanto Gabriela se posicionava para o primeiro saque. As palavras de Rosa, antes de me sentar, ainda ecoavam na minha mente:
— Vai lá e faz o que você sabe fazer, Helena.
Carol entrou no lugar de Thaisa e brilhou nos bloqueios. Ela parou Egonu em uma sequência impressionante, virando o placar ao nosso favor. Ana Cristina, revezando com Julia Bergman, distribuiu ataques rápidos pelas pontas, confundindo a defesa italiana. Quando Julia entrou, sua precisão nos ataques na diagonal abriu espaços importantes para a gente respirar.
Gabriela, como sempre, era a líder em quadra. A cada ponto, ela nos abraçava ou gritava palavras de incentivo. Quando consegui um saque ace, ela correu até mim e me levantou do chão em outro abraço apertado.
— Você tá incrível! Continua assim!
Fechamos o segundo set em 25 a 19, e o ginásio explodiu em euforia. Agora era um empate.
O terceiro set foi um teste de nervos. A Itália ajustou sua estratégia, e o jogo virou uma batalha de resistência. Thaisa voltou para a quadra e mostrou por que era uma das melhores centrais do mundo. Seus bloqueios duplos, ao lado de Gabriela, eram um espetáculo de técnica. Carol e Thaisa se revezavam tão bem que a Itália parecia começar a hesitar em alguns ataques.
Ana Cristina, no fundo da quadra, mostrou um saque flutuante mortal, mas a Itália reagia rapidamente, devolvendo bolas impossíveis. Quando conseguimos um rally longo, foi Gabriela que apareceu com um ataque decisivo no fundo da quadra. Ganhamos o set por 28 a 26, e parecia que a maré estava virando.
Mas o quarto set trouxe a pressão italiana de volta. Egonu encontrou seu ritmo novamente, e nossa recepção começou a falhar. Julia Bergman tentou liderar o ataque, mas as italianas marcaram bem suas bolas. No meio do set, Gabriela me chamou ao lado.
— Helena, olha pra mim. A gente vai virar isso juntas, entendeu? Eu preciso de você agora.
Assenti, sentindo o peso das palavras dela. O set terminou em 25 a 22 para a Itália, e tudo se resumiria ao quinto set.
Chegamos ao tie-break com os nervos à flor da pele. O ginásio inteiro parecia segurar a respiração a cada ponto. Comecei o set como oposta, e logo no primeiro rally, a Itália tentou explorar nossa recepção. Gabriela correu para salvar uma bola impossível e me entregou um levantamento perfeito. Ataquei na diagonal curta, e a bola caiu.
Gabriela veio correndo e me abraçou, me rodopiando no ar.
— É isso, Helena! Vamos buscar esse ouro!
Carol entrou e brilhou com um bloqueio simples em Egonu, virando o placar a nosso favor.
No último rally, a bola parecia não querer cair. A Itália atacava com tudo, mas nossa defesa, liderada por Gabriela e Nyeme, estava impecável. Quando finalmente consegui uma bola perfeita, saltei com todas as minhas forças e ataquei na paralela.
A bola tocou no chão. Ponto do Brasil.
O apito final ecoou no ginásio, e o mundo ao meu redor parecia desacelerar. O grito da torcida, a explosão de alegria das minhas companheiras, tudo se misturava em uma onda de emoção que quase me derrubava. Estávamos no topo do mundo.
Foi quando a vi. Gabriela vinha correndo em minha direção, o sorriso mais brilhante que já tinha visto iluminando seu rosto. Ela me envolveu em um abraço tão apertado que me tirou do chão, rindo de felicidade.
— Helena! Nós conseguimos! — A voz dela era pura alegria, e senti meu coração derreter com aquele momento.
Ela se afastou um pouco, segurando meus ombros, os olhos presos nos meus.
— Mas sabe de uma coisa? — começou, ainda sorrindo. — Essa foi a vitória secundária. A principal foi quando você me deixou experienciar, novamente, como é estar ao seu lado. Isso... isso é o meu ouro.Eu não consegui dizer nada. Minha mente ficou completamente vazia, incapaz de formar palavras. Gabriela continuava me olhando, e naquele momento, eu percebi que não havia mais dúvidas, não havia mais medos. Só havia ela.
Sem pensar, puxei Gabriela para mim. Nossos lábios se encontraram com uma intensidade que parecia conter tudo: a tensão, a saudade, o amor que eu vinha tentando esconder. O ginásio inteiro pareceu desaparecer; era como se só existíssemos nós duas ali.
O som da torcida explodiu ao nosso redor, e só então me dei conta de que o mundo estava assistindo. Gabriela se afastou por um segundo, surpresa, mas logo sorriu e voltou a me beijar, como se não houvesse mais nada no universo que importasse além daquele momento.
Quando finalmente nos separamos, ela riu baixinho, ainda me segurando pelas mãos.
— Acho que o mundo todo sabe agora.Eu sorri, com o rosto vermelho, mas sem arrependimento algum.
— Então que eles saibam. Eu não me importo mais.Gabriela passou os braços pelos meus ombros e me puxou para outro abraço apertado, enquanto o resto do time se aproximava, rindo, gritando e pulando de alegria. Rosa, é claro, foi a primeira a nos provocar, gritando:
— Finalmente! Já não aguentava mais esse drama!A celebração continuou, mas para mim, aquele beijo no meio da quadra já era o maior prêmio que eu poderia receber. Estávamos no topo do mundo, juntas, e não havia nada que pudesse tirar isso de nós.
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Se ela quiser, eu também quero
RomanceA linha tênue entre o passado e o presente precisa ser rompida para que Helena possa, além de superar traumas antigos, avançar na sua própria felicidade. Helena Gambatto retorna às suas raizes quando aceita a convocação para as olimpíadas e será obr...