Prólogo

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  E ela se jogou da janela do 17º andar. 

De maneira crua e fria, como a neve que toca o chão em tempos gélidos, e a tudo endurece. Ela se jogou, sem deixar explicação, sem dar satisfações para tal feito. 

Simplesmente, debruçou-se ao parapeito da janela, e saltou,com as feições contraídas, e pânico em seu olhar. 

Seu corpo frágil e delgado encontrou fim ao chocar-se em atrito com o concreto da calçada, e meros espectadores avistavam acena, como se aquela catástrofe fosse um grande espetáculo, embora suas feições levantassem intensas linhas franzidas, sinal claro de aflição ao verem tão bela jovem tirando a própria vida, sem motivo aparente. 

O rastro de sangue já permeava a entrada do Prédio neoclássico, à frente do portão de ferro em tom cinza escuro. As labaredas das janelas se enchiam de olhares curiosos que mais interessados estavam em verem a tragédia, do que se comoverem com ela. 

Pobres almas desoladas! 

A humanidade se perdia em meio à tamanha indiscreta curiosidade. Queriam ver o corpo da moça, como quem finge se importar com uma fatalidade real. Queriam saber o motivo pelo qual ela se jogara, para serem os primeiros a comentarem quando a reportagem chegasse para relatarem o ocorrido. 

Mas, apesar do ato hediondo aparentar espanto nas vidas alheias, em mim já não causava mais surpresas. Aquele não havia sido o primeiro suicídio nos últimos meses. E nem seria o último! 

Por mais que a vida me fosse tão bela em sua tamanha sensibilidade – até mesmo em seus piores sofrimentos, pois ela não facilitara para mim nos últimos tempos –, eu sabia que o relógio corria contra mim. 

E que, naquele momento, mesmo observando ao longe a última garota a cometer suicídio vidrando diante de meus olhos, a consciência em mim lembrava que meu tempo também estava contado. 

Afinal, eu seria a próxima a morrer!  


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