PART I
Kalissa Roux Soul's
Dias atuais
New Jersey
1 mês depoisPRIMEIRA SEMANA
Agora eu sei sobre o tempo. Sei que horas são, sei que dia é, sei os minutos, os segundos, os milésimos. Sei porque ele faz questão de mostrar, e sei porque o quarto onde estou não é tão sujo quanto o outro, nem mofado. A janela, pequena, permite que os raios solares ou lunares entrem no cômodo. A casa é ainda menor em comparação à outra que conheço, embora, na verdade, eu nem conheça bem. A única coisa que sei de cor, como a palma da minha mão, é o quarto onde ficava trancada.
Ainda tento espiar pelas frestas da porta para ver o que há além deste quarto, mas nunca consigo enxergar muita coisa. Para ser sincera, não consigo ver nada. Ele ordenou que eu o chamasse de "meu senhor", mais uma vez. No início, eu me recusei. Pode parecer algo estúpido, recusar as ordens de quem tem o controle total da situação. Então, que eu seja estúpida.
Quando me recusei, ele me queimou. O cigarro afundando em minha coxa foi doloroso, mas o orgulho e a insistência de não chorar na frente dele me impediram de derramar uma única lágrima. Isso o irritou, mas eu não me importei. Prefiro que ele me mate um pouco a cada dia do que deixá-lo me dominar. Pelo menos, é assim que eu penso.
Quando ele arrancou um pedaço da minha pele enquanto gravava o vídeo para William, eu chorei. Chorei tanto que sentia meus pulmões prestes a explodir. Não por estar sendo cortada, mas por saber que William me veria assim: fraca e frágil, exatamente como eu havia dito em nossa briga. E também por saber que ele surtaria ao me ver nesse estado. Por que esses pensamentos vêm à minha cabeça? Eu não quero, mas é como se viessem por pura maldade. Coisas boas e ruins estão todas aqui, nessa caixinha que chamamos de mente. E, apesar de eu tentar me apegar aos bons pensamentos, os ruins nunca me deixam esquecê-los.
Não é uma questão de querer ser forte, é de precisar ser forte. Consegui a minha liberdade uma vez, sobrevivi a ele. Por que não conseguiria de novo? Claro, as coisas estão bem diferentes. Mike havia conversado comigo sobre nosso "acordo". Sempre que ele me estupra, me bate, me mutila, eu olho diretamente em seus olhos, mas tudo o que ele vê é a minha raiva e a sede de vingança. Um dia, ele abriu a boca para dizer que ainda me ama, que me amava desde que eu era criança, e que continua me amando. Mas confessou que eu estava tão diferente que ele preferia minha versão de quando era pequena. Eu ri. Gargalhei na cara dele. Que coisa doentia de se dizer.
Na primeira gargalhada, ele não esboçou nenhuma reação, mas, quando continuei, ele se irritou. Levei um tapa, depois dois, e logo uma sequência de socos no estômago, até vomitar e desmaiar sobre meu próprio vômito, mais uma vez. Quando acordei, as solas dos meus pés estavam cortadas, e o sangue no chão era a prova da mutilação que ele havia feito em mim. Foi nesse exato momento que não consegui mais segurar o choro. Ele saiu como uma rajada, capaz de quebrar até o concreto mais firme. Eu conseguia sentir a satisfação dele, a pura e louca satisfação de ouvir meus gritos suplicando por misericórdia, meu choro clamando por libertação. Ele conseguiu o que queria. Queria ouvir meu desespero agonizante, e eu, infelizmente, entreguei isso a ele.
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CALIPSO (Máscaras Imperfeitas #1)
RomanceAVISO: ESTE LIVRO É UM DARK ROMANCE TODA SEXTA AS 20:00 CAPÍTULO NOVO Em meio às ruas cinzentas de New Jersey, Kalissa, uma patinadora artística de gelo, é envolvida em um jogo perigoso de perseguição e obsessão. Durante uma noite em um Escape Ro...