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POV. Kateryna Hargreeves

O cheiro de café fresco e bacon fritando já tinha se tornado um detalhe comum nas manhãs de Kateryna. O movimento da lanchonete ia crescendo conforme o relógio avançava, e as pessoas vinham em busca de seu café da manhã antes de enfrentar mais um dia. Enquanto equilibrava duas xícaras de café numa bandeja, Kateryna observava as mesas cheias, já no automático, enquanto as conversas e risadas se misturavam com o som abafado da rádio.

— Seu café, Sr. Deighton — disse ela, sorrindo ao entregar a xícara ao policial sentado na ponta do balcão.

Andrew Deighton era um dos clientes regulares, um daqueles rostos familiares que ela aprendeu a gostar em meio ao caos de Dallas. Ele sempre sentava no mesmo lugar, pedindo a mesma coisa: café forte, sem açúcar, e panquecas com manteiga. A rotina dele era a mesma, mas para Kateryna, aquilo era um alívio bem-vindo em comparação à imprevisibilidade do resto da sua vida.

— Obrigado, Kat — respondeu ele, tirando o chapéu e deixando-o ao lado da xícara. — Dia cheio?

— O de sempre — ela riu, pegando um guardanapo e limpando uma pequena mancha de café que escorreu na mesa. — E você? Alguma coisa interessante acontecendo por aí?

— Oh, nada que valha a pena contar... — começou ele, mas foi interrompido pelo som agudo e insistente do rádio em seu cinto. Ele franziu a testa enquanto levava a mão ao aparelho, ajustando o volume.

Atenção, todas as unidades. Temos um código 3-15 no Sanatório Holbrook. Repito, código 3-15. Vinte e cinco pacientes escaparam. Muitos estão armados e são perigosos. Cuidado ao se aproximar. — A voz no rádio ecoou pela lanchonete, e Kateryna sentiu a tensão subir de imediato. Ela parou no meio de um movimento, segurando a respiração por um segundo, enquanto Andrew se levantava, o olhar subitamente focado e sério.

— Droga... — ele murmurou, largando alguns dólares no balcão e pegando o chapéu de volta. — Vou precisar ir agora, Kat. Isso vai virar um circo.

— Eu ouvi — respondeu Kateryna, os olhos ainda fixos no rádio enquanto processava a informação. — Fica bem, ok?

— Sempre — disse Andrew, já se dirigindo à porta, mas não antes de dar uma piscadela reconfortante.

Kateryna ficou por alguns segundos observando-o sair da lanchonete apressadamente, sentindo um leve arrepio percorrer sua espinha. O sanatório Holbrook. Ela conhecia aquele nome... Não só por ter ouvido algumas histórias dos clientes, mas por já ter passado perto de lá em uma das suas rondas noturnas pela cidade. A sensação de algo terrível se aproximando não era nova, mas desta vez parecia mais real, mais urgente.

Ela olhou ao redor, vendo a lanchonete cheia, mas de repente tudo pareceu distante, como se estivesse se desconectando daquele lugar. A inquietação se instalou dentro dela, e seus instintos gritaram que algo estava muito errado.

— Códigos... pacientes armados... — ela murmurou para si mesma, sentindo a necessidade de agir, mas sem saber exatamente como. Dois anos vivendo naquele tempo e Kateryna havia aprendido a se adaptar, a se esconder quando necessário. Mas a ideia de vinte e cinco pacientes perigosos à solta... Era demais para ignorar.

"Merda ...Sério Diego? E agora?" pensou ela, enquanto um turbilhão de pensamentos invadiam sua mente.

Ela não podia se expor demais, não podia simplesmente agir como fazia antes com seus irmãos. 

Kateryna esfregou as mãos sujas de graxa no avental, sentindo o cansaço do dia finalmente pesar sobre seus ombros

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Kateryna esfregou as mãos sujas de graxa no avental, sentindo o cansaço do dia finalmente pesar sobre seus ombros. O turno na lanchonete havia sido longo, especialmente após o tumulto causado pelo anúncio da fuga dos pacientes do sanatório. O dia parecia interminável, mas finalmente, era hora de ir embora. O sino sobre a porta da lanchonete tocou, marcando a saída de seu último cliente, e o silêncio trouxe uma sensação de alívio imediato.

Ela suspirou profundamente, puxando a gravata do uniforme e jogando-a sobre o balcão, pronta para fechar o caixa e finalmente sair. Mas o toque insistente do telefone quebrou a calmaria. Kateryna hesitou por um segundo antes de caminhar até o balcão e atender o telefone com um cansaço evidente na voz.

— Lanchonete Dallas, Kateryna falando — disse, tentando soar mais profissional do que realmente se sentia.

— Kateryna, sou eu, Maryanne. — A voz do outro lado da linha era familiar e amigável. Era Maryanne, a secretária da delegacia, alguém que Kateryna conhecia desde que começou a trabalhar ali. O tom dela, no entanto, não trazia boas notícias.

Kateryna franziu a testa, sentindo um leve desconforto se espalhar. Maryanne não ligava para a lanchonete a menos que algo sério estivesse acontecendo.

— Oi, Maryanne. O que houve? — perguntou Kateryna, já antecipando que o fim de seu dia estava longe de ser tranquilo.

— Bem, eu... queria te avisar que o seu irmão, Klaus... — Maryanne começou, hesitando por um segundo, como se estivesse escolhendo as palavras cuidadosamente. — Ele foi preso. Está aqui na delegacia. O xerife pediu que alguém viesse buscá-lo.

— O quê? Klaus? — Kateryna exclamou, a surpresa tomando conta. Fazia tanto tempo que ela não via ou ouvia sobre Klaus, e agora, do nada, ele estava na prisão? Claro que estava, era o Klaus. — O que ele fez dessa vez?

— Olha, não tenho todos os detalhes. Só sei que ele causou uma confusão num bar e acabou sendo detido. Parece que ele estava... hum... criando problemas. — explicou Maryanne, com um suspiro cansado.

Kateryna fechou os olhos por um segundo, tentando manter a calma. Klaus, sempre o rei do caos. Ela deveria estar acostumada a isso, mas a verdade é que, depois de dois anos sozinha naquele tempo, a ideia de lidar com Klaus em plena Dallas de 1963 parecia mais um peso do que uma solução.

— Certo, estou indo — respondeu ela, pegando a bolsa e já se preparando mentalmente para o que viria a seguir.

— Obrigada, Kat. — disse Maryanne antes de desligar.

Kateryna colocou o telefone no gancho, suspirando pesadamente. Era sempre algo com Klaus. Não importava o tempo, o lugar, ele sempre encontrava uma maneira de transformar tudo em um grande espetáculo. E agora, ele estava lá, preso, precisando que ela o salvasse. Mais uma vez.

Ela saiu pela porta da lanchonete, trancando-a rapidamente e caminhando em direção à rua. A noite estava fria, e ela apertou o casaco contra o corpo enquanto pensava no que faria. Não importava o que Klaus tivesse feito, ela iria buscá-lo. Afinal, ele ainda era seu irmão, mesmo sendo um imã de confusão.

Com os passos rápidos e determinados, Kateryna seguiu seu caminho em direção à delegacia, preparando-se para o reencontro que, com certeza, seria repleto de drama.

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