TRINTA E SETE.

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Eu nunca fiquei tanto tempo em silêncio com a Ceci como ficamos ontem, e ao mesmo tempo que queria saber o que estava se passando na cabeça dela, queria entender o que estava se passando na minha

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Eu nunca fiquei tanto tempo em silêncio com a Ceci como ficamos ontem, e ao mesmo tempo que queria saber o que estava se passando na cabeça dela, queria entender o que estava se passando na minha.

Sentia milhares de coisa ao mesmo tempo. Medo, angustia, surpresa e ao mesmo tempo, parecia que iamos sair daqui e tudo ia... Seguir como era antes, sendo que simplesmente não. Parecia que tinha vivido um ano em um dia.

De manhã, estava ansioso pra terminar o dia com ela deitada no meu peito e agora, ela de fato estava, mas com dor, na cama de um hospital e não éramos mais dois, e sim, três.

Eu sou um cara dramático, tenho plena consciencia disso e as vezes faço até de propósito pra tirar uma risada gostosa dela, mas no momento que ouvi o barulho dos estilhaços enquanto conversamos, senti literalmente meu coração apertar.

Sabia que tinha acontecido algo ruim e por sorte, ela sempre compartilhava a localização ao entrar em taxis ou carros por aplicativo. Ela estava perto de casa, mas não perto do CT e quando cheguei ao local do ocorrido, a ambulância tinha acabado de sair.

Esperar por notícias dela foi a coisa mais angustiante que já senti. Não conseguia ligar pra ninguém, falar com ninguém, só... Sentir o balançar das minhas pernas e acabar com todas as minhas unhas.

Só consegui reagir quando soube que ela estava bem, vendo ela do vidro durante o exame que realizava. Ela não tinha se machucado de forma grave, não quebrou nenhuma parte do corpo, mas mesmo assim, ver ela com carinha de dor enquanto dormia, chapadinha de remédio, foi uma merda.

Só então avisei o pessoal, evitando falar pra Aline pra não preocupa-la, decisão que todos concordaram, já que ela estava bem. Por estar apenas em observação, não permitiram visitas, mas me deixaram ficar durante a noite, o que pra mim, já estava ótimo.

A cama do hospital era enorme e eu, dei um jeitinho de deitar com ela, mas mal preguei o olho, acordando sentindo todos os meus músculos se contraírem.

Tentei me mexer delicadamente e senti a cama levantar devagar, arregalando os olhos.

- Meu Deus, meu Deus, meu Deus. - Falei rapidamente, procurando o botão, o apertando, vendo a Ceci acordar já dando risada.

- Que ódio de você.

- Te machuquei? Ta tudo bem? - Ela riu de novo, coçando os olhos e os abrindo.

- Nunca, benzinho. Ta tudo bem. - Bocejou, apagando novamente.

Aproveitei a deixa e levantei, indo pro banheiro, fazendo minhas higienes e saindo, a observando, dando um sorrisinho. Deixei sua troca de roupa alo do lado, junto com seus documentos e fechei a mochila. Já tive vontade de muita coisa, mas certeza que nada se comparava a vontade que estava de não ir treinar hoje.

- Amor, eu... Preciso ir treinar. O de hoje vai ser aberto, então vai ser rápido e eu prometo voltar logo pra cá, tá? - Falei baixinho,  abaixado do seu lado, acariciando seu cabelo. - A Maju vai chegar daqui a pouco e antes do almoço, venho te buscar pra gente ir pra casa. - Ela assentiu, certeza que doida pra me mandar ficar quieto e deixar ela dormir, me fazendo segurar o riso.

Beijei sua testa, esperei a enfermeira chegar pra dose da medicação e saí, indo pro treino. Era doido porque de cinco pensamentos que tinha, no meio de dois a ficha caia de que simplesmente tinha um bebezinho na barriga da Cecilia.

Estacionei na garagem do CT e suspirei, encostando no banco e pegando o celular, como se estivesse com tempo. A internet era uma sacanagem, juro que o primeiro anúncio que apareceu no instagram, foi de um Air Jordan infantil, me fazendo clicar e ir passeando por toda a página, olhando cada um. Era muito pequenininho.

- Ta com tempo livre? - Ouvi o Vini bater no vidro e me assustei, travando o celular rapidamente.

- E você com saudade, né? - Soltei assim que desci do carro.

- Você já falou mil vezes, mas como ela tá? Ta bem mesmo?

- Tá bem, de mais grave, só o ombro que luxou. De resto, tudo certo. Vai ser liberada na hora do almoço.

- Maju acabou de chegar lá, mas não me respondeu ainda. Vocês sendo tão alma gemeas que até a lesão é a mesma. - Ri, concordando. - Mas porra, que alivio, passei a tarde de ontem preocupadão.

- Nem me fale. - Suspirei. - Ainda bem que ta tudo certo, no almoço ela vai ser liberada já.

- E tu acha que rola visitar ela hoje ou melhor ir amanhã, durante a semana? - Não fazia ideia de como ela estaria quando acordasse, então recuei ao responder. - Quando tu ver ela, responde. É melhor.

- Isso! Aviso vocês quando chegarmos em casa. - Fizemos um toque, entrando no CT. E a primeira pergunta de todo mundo, foi a mesma do Vini, até do vô Ancelloti, que ainda pediu o endereço pra mandar flores. De fato, se tinha alguém que não gostava de Cecilia, eu não conhecia.

Treinos abertos pras famílias praticamente não existiam. Treinamos por uma hora e depois, já estava todo mundo em campo, jogando bola, tirando foto, correndo. Observei o Alaba com a filhinha dele, que estava aqui durante esses dias.

Ele jogava ela pra cima e ele, se divertia, enchendo ela de beijos, fazendo eu dar um sorrisinho e sentir dois bracinhos abraçar minhas pernas.

- Amigo! - Vi um cabelinho cacheado, rindo e pegando o Djamal, filho do Rudiger no colo.

- E aí, meu parceirinho. - Fizemos nosso toque.

- Que saudade. - Nos abraçamos.

- Faz tempo que não aparece por aqui, estava com saudades também. - Fiz cócegas nele, que riu.

- Brinca comigo? - Levantou a bola de futebol americano  e eu nem respondi, apenas me afastei, enquanto ele jogava pra mim.

Fomos tomando cada vez mais distancia, até meu olhar cruzar com do Ancelloti, me olhando sério, olhando pro próprio ombro e fazendo eu olhar pro meu, lembrando da lesão e segurando o riso, indo sentar quietinho.

- Pode continuar, vou brincando com você daqui. - Soltei pro Djamal, que jogou a bola animado, enquanto eu pegava com o ombro bom.

- E segue sendo o mais amado pelas crianças de Madrid. - Rudiger sentou do meu lado.

- E o Djamal o maior que nós temos.

- Ele é apaixonado por isso. - Dessa vez, ele que segurou a bola, levantando e jogando pra ele ainda mais longe, enquanto ele corria atrás, animado.

- Você vira outro com eles. Uma criança de 1,90. - Ele gargalhou.

- Talvez, pior até que os dois... Sou apaixonado por eles. É um amor totalmente diferente do que já senti. O melhor que já senti, na real... - Deu um sorrisinho e eu, automaticamente, acompanhei. - Quando você tiver o seu, vai me entender. - Deu uns tapinhas no meu ombro, levantando rapidamente e pegando a bola que Djamal tinha jogado, enquanto eu sentia frio na barriga, vendo ele  sentar pouco depois.

E só então, consegui identificar o sentimento. Na real, eram vários e o medo ainda se fazia presente, mas a real, é que eu estava definitivamente feliz. Assustado e feliz. E devia ter deixado isso claro assim que recebi a notícia.

- Eu... Tenho que buscar a minha pretinha. - Ou minhas?

 - Ou minhas?

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SPECIAL II • JUDE BELLINGHAM Onde histórias criam vida. Descubra agora