•Capítulo 5 - O Desejo e o Horror

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Johnny Donovan sentia o peso da noite em seus ombros enquanto dirigia pelas ruas vazias da cidade. A mente estava embaralhada, não pelo caso complicado que estava investigando, mas por algo muito mais pessoal. Ana.

Ele sempre foi um detetive focado, mantendo uma barreira profissional entre ele e as pessoas envolvidas nos casos. Mas Ana... ela era diferente. Algo nela o deixava inquieto, e isso o perturbava profundamente. Sua fragilidade depois da tragédia com seu pai o tocou de um jeito que ele não esperava. Johnny queria protegê-la, queria estar perto dela. Sentia uma urgência inexplicável de mantê-la segura, de ser a rocha em que ela pudesse se apoiar. E isso o assustava.

Ele balançou a cabeça, tentando se concentrar na estrada. "Foco, Johnny, foco. O assassino ainda está solto." Mas, por mais que tentasse, o rosto de Ana surgia em sua mente, o sorriso tímido e os olhos sombrios que escondiam tantas dores. Havia algo nela que ele não conseguia ignorar.

Seu celular vibrou no banco do passageiro, arrancando-o de seus pensamentos. Ele pegou o aparelho e viu que era seu amigo da delegacia.

– "Johnny..." A voz do outro lado soava tensa, quase exausta. "Temos outro caso. Uma nova vítima. Os mesmos padrões, os mesmos detalhes do assassinato do pai de Ana. Mas... há algo diferente desta vez. Uma falha. Ele cometeu um erro."

Johnny sentiu o coração acelerar. Mais uma morte naquela cidade que costumava ser tão tranquila. Mais uma vítima de um assassino que parecia meticulosamente cuidadoso... até agora.

– "Estou a caminho," respondeu Johnny, desligando o celular antes mesmo que seu amigo pudesse dar mais detalhes. Ele acelerou o carro, sentindo uma mistura de urgência e uma nova esperança. Finalmente, o assassino havia escorregado.

Ao chegar ao local do crime, as luzes vermelhas e azuis dos carros da polícia iluminavam a cena, lançando sombras longas e distorcidas nas casas ao redor. Havia algo surreal em estar ali novamente, diante de mais uma vida perdida.Ele passou pela fita amarela e se aproximou do corpo.

A vítima era uma jovem mulher, seus cabelos loiros espalhados pela calçada como uma triste moldura ao redor do rosto pálido. Tudo parecia familiar. As marcas precisas, o corte limpo na garganta. O trabalho do mesmo assassino, sem dúvidas. Mas desta vez, havia algo a mais.
Johnny se ajoelhou ao lado do corpo, observando cada detalhe. Foi então que ele viu: uma pequena mancha de sangue no canto do sapato da vítima. Era sutil, quase imperceptível, mas o suficiente para sugerir que ela havia tentado lutar. O assassino não havia calculado esse movimento. Ela resistiu mais do que ele esperava, e no calor do momento, ele deixou uma marca. Um vestígio de que, talvez, não fosse tão infalível quanto pensava.

– "Achei algo," disse Johnny em voz baixa para seu parceiro que se aproximava.

– "O que foi?" perguntou o colega, a expressão cansada.

– "Essa marca no sapato... Ela deve ter acertado ele. O sangue é dela, mas a direção da mancha sugere que ela o atingiu enquanto ele a atacava. Se conseguirmos encontrar vestígios de onde ele estava, podemos rastrear a rota de fuga."

Johnny estava cheio de adrenalina agora, a mente funcionando a mil. O assassino finalmente havia cometido um erro, e ele não deixaria essa oportunidade escapar. Mas, mesmo enquanto pensava nisso, a imagem de Ana continuava surgindo. Como ele poderia focar completamente no caso quando seus pensamentos sempre voltavam para ela? Ele respirou fundo, tentando afastar a confusão.

– "Preciso de espaço," disse ele, afastando-se um pouco da cena do crime. O ar parecia pesado, sufocante. Ele olhou para o céu escuro e respirou fundo, tentando clarear a mente. "Concentre-se. Foco."

Mas era como se a presença do assassino estivesse ali, invisível, observando, rindo de sua fraqueza. Quem quer que fosse, esse era alguém que gostava de brincar com suas vítimas, de controlar cada detalhe. E agora ele sabia que Johnny estava próximo demais. Será que o próximo movimento seria contra Ana?
O pensamento fez um calafrio percorrer sua espinha. Não, ele não podia deixar isso acontecer. Ana já havia perdido os pais  Johnny faria qualquer coisa para impedir que ela sofresse mais. Mais do que nunca, ele precisava de respostas.

Enquanto isso, na escuridão de algum lugar desconhecido, o assassino observava, talvez com a mesma frieza com que planejara cada crime. A falha que deixara para trás não era grande, mas era o suficiente para que Johnny começasse a rastreá-lo.

Ele sabia que estava lidando com alguém perigoso, mas também sabia que não iria parar até pegar o responsável.
Johnny respirou fundo novamente, apertando os punhos ao lado do corpo. O desejo de estar perto de Ana ainda o assombrava, mas agora havia algo mais urgente. Ele precisava resolver esse caso antes que o assassino tomasse a próxima vida... ou se aproximasse ainda mais de quem ele mais queria proteger.

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