•Capítulo 25 - Silêncios e Respostas

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Ana e Laura, exaustas, decidiram passar a noite em um hotel. As horas de viagem e as revelações devastadoras as deixaram em frangalhos, sem forças para voltar diretamente para casa. Assim que chegaram ao quarto, Laura, sem uma palavra, pegou algumas roupas e foi direto para o banheiro. Ela precisava de um longo banho para tentar organizar sua mente, um momento só dela, onde talvez pudesse se proteger das dores que ardiam em seu peito.

Ana observou a irmã desaparecer pelo corredor com o olhar perdido, e, por um instante, se viu sozinha, carregando em silêncio o peso de uma tristeza incompreensível. O celular em sua bolsa tocou, tirando-a do devaneio. Era Johnny.

Ela atendeu com uma voz quebrada: —Oi, Johnny.

Do outro lado da linha, ele respirou fundo, captando toda a dor nas poucas palavras dela. —Como vocês estão?

Ana suspirou, sem forças para elaborar. —Nada bem.

Johnny, querendo aliviar um pouco o peso da situação, disse com gentileza: —Eu queria poder estar com você esta noite. Sei que está tudo muito difícil pra você e pra Laura...

Ana o interrompeu, sua voz controlada e firme. —Vai ficar tudo bem, Johnny. Continua fazendo o seu trabalho… porque o meu agora vai ser cuidar da minha irmã.

Johnny compreendeu a dor contida nessas palavras e, com empatia, disse: —Tudo bem, qualquer coisa, me liga.

—Obrigada, Johnny. E ela desligou o telefone.

O silêncio preencheu o quarto novamente. Ana, tão devastada quanto Laura, se sentia igualmente traída, perdida em um mundo que antes parecia ter algum sentido. A visão do rosto das duas crianças na casa de Karen ainda não saía de sua mente; duas vidas inocentes que também haviam sido arruinadas pelas mentiras de Carlos. Mas, mesmo com toda a sua fragilidade, ela sabia que precisava se manter firme. Laura, a irmã que sempre fora tão forte, estava destroçada, despedaçada de uma forma que Ana nunca vira antes.

Pouco depois, Laura saiu do banheiro, ainda envolta em silêncio. Seu olhar estava distante, e ela se sentou na beira da cama, com a cabeça baixa, como se buscasse uma resposta para o caos que Carlos havia deixado para trás. “por que, Ana?” murmurou, quase como uma súplica. "O que eu fiz para merecer isso? Por que ele matou os meus pais? Por que nos enganou desse jeito? Eu… achava que o conhecia."

Ana se aproximou e segurou a mão da irmã com delicadeza. —Laura… ele é um monstro. Nada do que ele disse ou fez foi por sua causa. Ele manipulou a todos.

Mas Laura balançou a cabeça, sem conseguir aceitar. —É que… éramos casados há oito anos, Ana. Ele passava tanto tempo comigo, fazia planos. Ele parecia ser… perfeito. Como alguém capaz de tudo isso pode ter sido tão bom em fingir?

Aquela noite parecia um poço de tristeza sem fundo, e o que Laura mais queria era voltar para casa, ir até a delegacia, olhar Carlos nos olhos e exigir respostas. Ela queria entendê-lo, não para perdoá-lo, mas porque, sem isso, nada na sua vida faria mais sentido. Ele havia abandonado duas crianças, traído duas famílias, e o pior de tudo… ele havia matado os pais dela. Com que motivo? Por que tanto ódio? Ele não era o homem que ela conhecera – era um desconhecido que destruíra tudo o que tocara.

Ana, que costumava ser vista como a mais frágil entre as duas, sentou-se ao lado da irmã e a abraçou, permitindo que Laura chorasse em silêncio, libertando aos poucos a dor acumulada. E naquele abraço, Ana percebeu que, por mais vulnerável que Laura estivesse agora, era o momento dela ser o pilar que sua irmã precisava. Ela se deitou ao lado de Laura, sussurrando palavras de conforto até que ambas, exaustas, adormeceram.

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Na manhã seguinte, o despertar foi silencioso e pesado. Sem muito ânimo, elas arrumaram suas coisas. Nenhuma das duas teve vontade de tomar café ou de trocar mais palavras; o cansaço e o vazio ainda pairavam entre elas como uma sombra inescapável. Com o coração apertado, elas embarcaram no carro e iniciaram o caminho de volta para sua cidade, uma viagem longa e solitária que parecia prolongar a tristeza que carregavam.

Kilômetros passavam, mas o silêncio entre elas era absoluto. Cada uma estava perdida em seus próprios pensamentos, em sua própria dor. Laura olhava pela janela, observando a paisagem desmoronar ao redor dela como se refletisse o mundo interno que agora precisava reconstruir.

Ana, ao volante, mantinha uma expressão séria. Mesmo sofrendo, sabia que agora teria de ser a força que sustentaria sua irmã. Ela segurou o volante com determinação, sabendo que, por mais longa que fosse aquela estrada, ambas atravessariam aquela dor – juntas.

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