•Capítulo 14 - Escolha.

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Na manhã seguinte, Ana acordou com uma dor de cabeça latejante, os olhos inchados, resultado da bebida da noite anterior. "Ai, que dor de cabeça terrível", murmurou para si mesma, enquanto se levantava cambaleante. O chão frio da sala  parecia ecoar sua dor interna. Ao desenrolar o pano da mão, viu que o corte estava pior do que pensava. "— Merda", sussurrou, observando o sangue seco ao redor da ferida.

Foi até o banheiro, lavou o rosto, tentando espantar a ressaca e a tristeza que pareciam grudar nela. A água fria lhe deu um pequeno alívio, mas não o suficiente. Fez um curativo apressado na mão, sem muita preocupação, e, suspirando, pegou o telefone. Precisava falar com alguém, e a única pessoa que fazia sentido naquele momento era Laura.

Do outro lado, Laura atendeu rapidamente, sua voz tranquila e acolhedora. — Ana? Está tudo bem?

— Sim, está... tudo bem, respondeu Ana com poucas palavras, mas Laura conhecia o tom de voz da irmã. Ela sabia que algo estava errado.

—O que aconteceu? Você parece distante, insistiu Laura.

Ana hesitou, não queria despejar todo o turbilhão de emoções que sentia. Mas, ao mesmo tempo, precisava desabafar. — Eu... eu não sei. Passamos uma noite juntos, foi incrível... mas agora, não sei o que está acontecendo. Ele sumiu, Laura. Parece que tudo mudou.

Laura suspirou do outro lado da linha, com aquela calma típica de quem compreendia a vida de um jeito mais sereno. —Ana, eu sei... isso é confuso, mas às vezes as pessoas precisam de um tempo. Talvez ele esteja apenas com medo, sabe? A correria, o trabalho, e tudo o que aconteceu com nossos  pais... deve estar demais para ele também.

—Você acha?, Ana perguntou, tentando se agarrar a essa explicação.

— Sim, acho. Johnny é um bom homem. Ele só precisa de um pouco de espaço, para entender o que sente. Se for para ser, vai ser. Deixa o tempo fazer o trabalho dele.

Ana ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo as palavras da irmã. —Você tem razão, Laura. Eu vou ficar bem.

—Quer vir aqui para casa? Podemos conversar mais.

—Não, obrigada. Preciso de um tempo sozinha, Ana respondeu. Despediram-se, e ao desligar o telefone, Ana se jogou no sofá, ainda perdida, mas um pouco mais leve. Pelo menos, ela tinha alguém em quem confiar

Enquanto isso, na delegacia, Johnny caminhava com passos pesados até a sala de Capitão Harry. A cabeça ainda cheia de pensamentos sobre Ana e sobre o caso. Ao chegar, cumprimentou a equipe rapidamente e seguiu direto para a sala do capitão.

—Harry, preciso falar com você. disse, tentando disfarçar a confusão que sentia.

Harry levantou os olhos de alguns papéis e acenou para ele se sentar. — Claro, Johnny. Senta aí.

Johnny, ainda perturbado, jogou-se na cadeira. — Eu ainda estou pensando no caso... Ele matou os pais de Ana, mas... algo está errado. Preciso ver o assassino de novo.

—Tá certo. Vai em frente , disse Harry, apontando para a sala de interrogatório.

Johnny entrou na sala, onde o assassino estava sentado, algemado, com um sorriso frio no rosto. A raiva crescia dentro dele ao ver aquele homem, que parecia completamente indiferente ao horror que havia causado. Sem dizer uma palavra, Johnny jogou algumas fotos das vítimas na mesa. —Olha bem para isso. Por quê? Por que eles?

O assassino, mantendo aquele olhar calculista, deu um pequeno sorriso antes de responder: — Você se acha esperto, não é, Johnny

— Eu? Não sou esperto. Mas você, você acha que está no controle de tudo. Me diga, por que eles?

O homem riu. Uma risada alta e cruel que fez Johnny apertar os punhos. O detetive bateu com força na mesa, fazendo o assassino parar de rir abruptamente e encará-lo com um olhar frio. — Johnny, Johnny... você acha que é comigo que está lidando? Não sou eu. Fiz o que fiz, mas tem mais coisas acontecendo. Está tudo à sua volta, mas você não está vendo.

—Chega de joguinhos! Quem mais está envolvido? Johnny estava quase explodindo de raiva, tentando controlar o impulso de pular sobre aquele homem.

O assassino sorriu de canto, completamente despreocupado. — Me prender foi um favor. O mal que você tanto procura ainda está lá fora... e está mais perto do que você imagina.

As palavras ecoaram na cabeça de Johnny. Ele sabia que o homem estava blefando, ou será que não? Era um psicopata, mas... algo naquelas palavras mexia com ele. Ele se virou e saiu da sala, respirando fundo, tentando controlar a raiva. Foi até Harry e contou tudo o que o assassino dissera.

Harry o ouviu com uma expressão séria, e depois de um silêncio pesado, respondeu: — Johnny, acho que ele não está blefando. Hoje de manhã houve uma tentativa de homicídio. Por sorte, ninguém se machucou, mas talvez o que ele disse faça sentido. Talvez o mal ainda esteja lá fora... e seja alguém que você já conhece.

Johnny respirou fundo, tentando processar a informação. As peças do quebra-cabeça começavam a se encaixar, mas de uma forma que ele não esperava. Olhando diretamente nos olhos de Harry, sem hesitar, disse: — Sim. Eu aceito sua proposta. Vou ficar na cidade.

Harry sorriu, com um brilho de satisfação nos olhos. —Bem-vindo, meu amigo. Vou providenciar um lugar para você morar, sair daquele hotel. Se quiser, posso mandar alguém buscar suas coisas na sua cidade.

Johnny sorriu levemente, embora sua mente estivesse a mil. "Obrigado, Harry, mas eu mesmo vou buscar minhas coisas. Preciso de um tempo para processar tudo isso. Mas estou de volta."

Com isso, Johnny saiu da delegacia. Ele sabia que estava tomando a decisão certa, mas a dúvida ainda o corroía. Será que estava ficando por causa do caso... ou por Ana? Ele dirigiu em direção à sua antiga cidade, com a cabeça cheia de perguntas e o coração pesado, pronto para começar uma nova vida, mas sem saber ao certo o que o futuro lhe reservava.

Cruzando DestinosOnde histórias criam vida. Descubra agora