Após horas de viagem em silêncio, Ana e Laura finalmente chegaram à cidade. O peso dos últimos dias ainda pairava sobre elas, mas havia uma decisão inabalável no olhar de Laura. Sem hesitar, ela olhou para a irmã ao seu lado e pediu, firme: —Ana, me leve direto para a delegacia.
Ana sabia o que isso significava. Sem questionar, dirigiu até o local onde Carlos estava detido. Capitão Harry, ao vê-las, não escondeu sua própria dor e respeito – ele conhecera os pais delas e sentia o peso da tragédia que tomara conta da família. Quando Laura pediu para ver Carlos pela última vez, ele assentiu em silêncio, entendendo que era necessário um encerramento, um acerto final.
Na sala fria de interrogatório, Laura entrou sozinha. Carlos estava sentado, algemado, com o olhar baixo, sabendo que nada que dissesse poderia justificar os danos irreparáveis que causara. Ao ver Laura, ele ergueu os olhos, e naquele instante, percebeu que estava diante de uma mulher quebrada, mas de olhar firme e irredutível.
Laura, com a voz baixa, fria e calculada, começou a falar. —Carlos, eu vim aqui hoje para dizer que, por mim, você nunca deveria ter saído daquela cela. Tudo o que você fez, todos os anos que passamos juntos, não significaram absolutamente nada para você, não é? Você mentiu, traiu, enganou… E tudo isso porque temia ser pobre? Porque tinha medo de perder seu conforto?
Carlos, visivelmente arrependido, a escutava sem coragem de interromper, sem ousar pronunciar qualquer defesa. Ela continuou, suas palavras cruas e impregnadas de dor.
—Você sabia o quanto eu amava os meus pais. Sabia o quanto eu confiava em você. E agora eu sei que tudo isso era uma farsa. Tive que olhar nos olhos de duas crianças inocentes, que você também traiu, e de uma mulher que não fazia ideia da minha existência. E você me usou… você usou a nossa vida juntos como uma fachada para esconder quem realmente era.
Carlos, com os olhos marejados, tentou se explicar, mas o olhar devastado de Laura o calou. Ela o encarou, a raiva mesclada ao desprezo, e, com um tom firme, declarou: —Se o seu medo era ficar sem nada, Carlos, então é bom você se acostumar. Todos os bens, tudo o que você construiu para manter essa mentira de uma vida de luxo, agora pertencem a Karen e às crianças que você abandonou. Eu mesma fiz questão disso.
Carlos abaixou a cabeça, esmagado por suas palavras. Ele balbuciou um pedido de perdão, mas Laura o interrompeu com frieza. —Não. Agora você será esquecido. Tudo o que você fez, todo o caos que causou, vai ficar marcado em você. O assassino não está mais à solta. Ele está sentado bem na minha frente, e este é o fim da nossa história.
Ela virou as costas para ele, deixando-o lá, preso na própria consciência, e caminhou até a porta. Ao cruzar o olhar com o Capitão Harry, sussurrou: —Acabou aqui. E saiu da delegacia sem olhar para trás.
Ana esperava por ela no carro. Quando Laura entrou, não houve palavras. Ana apenas deu partida e dirigiu para casa. Ao chegarem, ela estacionou, sentindo que algo estava para mudar. —Laura, quer que eu fique?
Laura olhou para a irmã, com um sorriso cansado, mas determinado. —Obrigada por tudo, Ana. Eu te amo… mas agora preciso sair daqui, respirar. Quero viajar.
Ana, surpresa, perguntou: —Viajar? Para onde?
Laura suspirou, pensativa. —Eu não sei. Eu só… preciso me afastar de tudo isso, me reencontrar. Eu sabia que tinha algo errado com Carlos, mas jamais imaginei essa monstruosidade. Eu até poderia aceitar uma traição, mas ele destruiu a minha vida, a nossa família. Preciso de um tempo pra entender tudo isso.
Ana, com o coração apertado, colocou a mão no ombro da irmã, acariciando uma mecha de cabelo que caía sobre seu rosto. —Eu vou com você, Laura. Sou sua irmã, quero estar com você.
Laura sorriu com gratidão, mas balançou a cabeça. —Obrigada, mas esse é um momento que eu preciso enfrentar sozinha. Além disso, faz dias que você e o Johnny não têm um tempo para vocês… Eu preciso desse tempo sozinha, entende?
Ana sabia que a irmã precisava se reconectar consigo mesma e, apesar de querer estar ao lado dela, compreendeu. Com um nó na garganta, ela abraçou Laura com força. —Promete que vai me ligar todos os dias?
Laura sorriu, emocionada, e disse: —Prometo.
Assim, Ana a deixou em casa e voltou para sua própria residência. Ao entrar, o silêncio pareceu ecoar por todos os cômodos. Cada canto vazio, cada detalhe da mobília lembrava a solidão que agora preenchia seu lar. Sentiu o peso da realidade, sentiu a saudade que a partida da irmã lhe trouxe. Era como se as paredes ampliassem o vazio, dando mais espaço para os pensamentos confusos e a tristeza.
Ana se permitiu um longo suspiro, tentando dissipar a angústia. Sabia que o tempo ajudaria, mas por ora, estava sozinha, e tudo o que restava era esperar…
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Cruzando Destinos
Romance▪︎ Na pequena cidade um detetive Johnny Donovan enfrenta um caso brutal de assassinato que o leva a cruzar caminhos com Ana, a filha das vítimas. À medida que a tensão entre eles aumenta, Johnny se vê dividido entre seu dever e a crescente atração p...