O sol começava a despontar quando Johnny se aproximou da casa de Laura. O céu, tingido de tons alaranjados, trazia uma calma ilusória, contrastando com o peso das novas revelações que o detetive carregava. O bilhete anônimo ainda estava em seu bolso, um lembrete constante de que o perigo estava longe de acabar. Ele bateu na porta, tentando reunir as palavras certas para iniciar uma conversa que poderia trazer à tona os segredos que ainda pairavam sobre o caso.Laura atendeu à porta com o semblante abatido. A noite parecia ter sido longa para ela também. Ao ver Johnny, seus olhos se encheram de uma preocupação que ela tentava esconder, mas falhava miseravelmente.
— Laura, precisamos conversar. Sobre você, Ana, Carlos e… Felipe — Johnny começou, entrando no pequeno hall de entrada e percebendo o ambiente silencioso e pesado, quase como se a casa também guardasse segredos.
Ela hesitou, mas acenou para que ele se sentasse. Puxou uma cadeira à frente dele e, com um suspiro, finalmente começou a falar.
— Johnny, eu sempre soube que esse passado poderia me assombrar um dia, mas nunca imaginei que chegaria a esse ponto. — Laura baixou o olhar. — Carlos e Felipe… Eles foram os maiores amigos que eu e Ana já tivemos, mas o ciúme e a rivalidade destruíram tudo.
— Conte-me mais sobre isso, Laura — ele incentivou, percebendo que estava diante de algo profundo e doloroso.
Ela respirou fundo, como se estivesse mergulhando de volta em memórias sombrias.
— Felipe e Carlos tinham uma ligação muito forte, quase como irmãos. Mas, no fundo, Felipe sempre quis mais do que amizade. Ele queria controle, poder... e queria que todos nós fôssemos parte disso. Quando Carlos decidiu que queria outra vida, longe das gangues e das alianças perigosas, Felipe sentiu-se traído. E... — ela pausou, a dor nítida em seu rosto. — E eu fiquei do lado de Carlos, o que só piorou a situação.
Johnny assentiu, percebendo que a raiz do conflito ia além de uma simples traição entre amigos. Era uma questão de lealdade, uma ferida que o tempo não curou, mas que pareceu apenas aprofundar.
— Felipe te culpava por apoiar a decisão de Carlos de sair? — Johnny perguntou, juntando as peças.
— Sim. Ele disse que eu o fiz “perder o controle” sobre o grupo, sobre nós. Depois disso, ele mudou, ficou obcecado. Eu e Ana nos afastamos dele, e quando ele foi preso, achamos que o pesadelo havia terminado. — Ela olhou para Johnny, seu rosto pálido e marcado pelo temor. — Mas acho que subestimamos a obsessão de Felipe. E… agora, com ele livre, tudo veio à tona de novo.
Johnny pegou o bilhete anônimo do bolso e o entregou a Laura, que leu com a expressão ainda mais alarmada.
— Tem mais pessoas envolvidas, Laura. Felipe não agiu sozinho, e se há mais gente disposta a seguir o que ele começou, precisamos saber quem são e o que eles querem.
Ela fechou os olhos, o rosto transparecendo uma luta interna. Após alguns segundos, Laura parecia decidida.
— Há uma pessoa... alguém que também fazia parte desse círculo e que sempre foi próximo de Felipe. Henrique… ele era como um braço direito para Felipe. Nunca foi preso, sempre soube se esconder, e ninguém ouviu falar dele nos últimos anos.
— Henrique. — Johnny repetiu, anotando o nome mentalmente. — Você acha que ele poderia estar ajudando Felipe agora?
— Se Felipe saiu da prisão com um plano, Henrique com certeza estaria envolvido. Ele sempre seguiu os passos de Felipe, sem questionar. — Laura olhou nos olhos de Johnny, um lampejo de medo brilhando em seu olhar. — Johnny, se Henrique realmente está nisso, as coisas são muito mais perigosas do que eu imaginava.
Johnny se levantou, a mente já calculando os próximos passos. A primeira coisa a fazer era rastrear Henrique e encontrar qualquer ligação dele com as ações recentes de Felipe. Com o passado de Laura e Ana ganhando novas camadas sombrias, Johnny sabia que o caso estava longe de ser solucionado.
Antes de sair, ele olhou para Laura.
— Eu prometo que vou proteger você e Ana. Esse ciclo de vingança acaba aqui.
Ela assentiu, mas, ao observar Johnny partir, uma sensação de que algo muito maior estava por vir a deixou imóvel. Porque, no fundo, ela sabia: o passado não estava apenas batendo à porta; ele estava determinado a entrar.
Johnny percorria o corredor da delegacia com passos firmes, analisando os relatórios de inteligência sobre Henrique. Em uma conversa com Ana e Laura, as memórias dolorosas surgiram novamente, revelando que Henrique havia sido cúmplice de Felipe em crimes antigos. Johnny percebeu que Henrique não era apenas um cúmplice; ele estava profundamente obcecado por vingança.
— Johnny, você acha que ele vai tentar algo contra nós? — perguntou Ana, com os olhos assustados.
Johnny assentiu, mantendo o tom firme. — Vou garantir que ele não chegue perto de vocês. Não vou deixar que ninguém mais sofra.
Mais tarde, Johnny recebeu uma nova pista que o levou a um armazém abandonado. Ele montou uma operação, mas ao chegar lá, encontrou o local vazio. Na escuridão, ele encontrou um bilhete de Henrique: "Se você acha que já viu tudo, mal pode esperar pelo que está por vir."
Johnny apertou o bilhete com força, sentindo o peso da ameaça. Ele sabia que a batalha estava longe de acabar.
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Cruzando Destinos
Romance▪︎ Na pequena cidade um detetive Johnny Donovan enfrenta um caso brutal de assassinato que o leva a cruzar caminhos com Ana, a filha das vítimas. À medida que a tensão entre eles aumenta, Johnny se vê dividido entre seu dever e a crescente atração p...