Na manhã seguinte, o telefone de Johnny tocou cedo. Era seu velho amigo.
— Johnny... — a voz do outro lado estava séria. — Parece que achei algo sobre o cara que você me mandou a foto.
Johnny sentou-se na cama, completamente alerta.
— Fala, o que você descobriu?
— O cara é viciado em drogas, tem problemas com bebida, e mais... tem passagem por assassinato. Cumpriu 10 anos, mas agora está solto.
Johnny respirou fundo. Isso era sério, mas ainda não era o suficiente para uma acusação.
— Isso não prova que ele é o culpado — Johnny respondeu, mantendo a calma habitual.
— Ainda não, mas podemos ficar de olho nele. Ele tem algo a esconder, tenho certeza. Podemos nos encontrar mais tarde e discutir isso.
Johnny concordou e, algumas horas depois, encontraram-se. Durante a conversa, algo inesperado surgiu: uma corrente de prata havia sido encontrada na cena do crime, uma peça que não pertencia aos pais de Ana e Laura. Era um indício, e Johnny imediatamente pediu que a corrente fosse enviada para o laboratório.
— Se encontrarmos digitais nessa corrente, poderemos identificar quem estava lá — disse ele, a mente já formulando teorias.
No entanto, no mesmo dia, um tiroteio eclodiu no centro da cidade, e Johnny correu até o local. Para sua surpresa, o homem que ele havia encontrado na noite anterior estava entre os feridos.
— Ainda está vivo... — murmurou Johnny, enquanto observava o homem ser levado para o hospital. Algo estava errado, e ele sabia que aquele homem estava escondendo mais do que dizia.
Johnny o seguiu até o hospital, determinado a fazer perguntas, mas o homem, mesmo ferido, recusou-se a falar. Ele sabia mais do que queria admitir, e Johnny sentia que estava perto de uma grande revelação.
— Fique aqui e mantenha os olhos nele — Johnny disse ao amigo, antes de se despedir.
Ele então voltou para a delegacia, pronto para falar com o Capitão Harry.
— Acho que estamos chegando perto de algo grande, Harry... muito perto.
O Capitão Harry encarava Johnny com uma seriedade quase paternal.
— Detetive Donovan, eu confio em você... Sei que está fazendo o seu melhor. — Ele fez uma pausa, respirando fundo, os olhos marejados. — Encontre o desgraçado que fez isso.
Johnny sentiu o peso da responsabilidade nas palavras de Harry. Ele sabia que aquela investigação não era apenas um caso comum para o capitão. Os pais de Ana e Laura tinham sido grandes amigos dele, e a perda os atingira de maneira pessoal. Johnny assentiu, mas antes que pudesse responder, seu telefone vibrou. Era Laura, ligando em um tom de preocupação.
— Detetive Johnny, acabei de ouvir sobre o tiroteio... por favor, me diga que está tudo bem! — A voz de Laura tremia de ansiedade.
Johnny suspirou, cansado, mas procurou manter a calma na resposta.
— Estou bem, Laura. Foi um incidente no centro, mas o cara que estamos investigando foi atingido. Não posso dizer muito mais por agora, mas estamos no caminho certo.
Do outro lado da linha, Laura fez uma breve pausa antes de falar novamente, dessa vez em um tom mais suave, quase implorando.
— Johnny, eu sei que você está fazendo tudo o que pode... mas por favor, fique de olho em Ana. Ela está sozinha, e eu tenho tanto medo de que algo aconteça com ela...
Johnny respirou fundo. Ele não era do tipo que cuidava das pessoas — seu trabalho era solucionar problemas, caçar criminosos, e não ser babá. Mas ao ouvir a fragilidade na voz de Laura, ele cedeu.
— Eu vou cuidar disso, Laura. Fique tranquila.
Encerrando a ligação, Johnny olhou para Harry.
— Vai ficar tudo bem, Capitão. Mas agora preciso ver alguém.
Harry assentiu em silêncio, sua confiança no detetive era palpável, mas a dor pelos amigos perdidos ainda estava cravada em seu olhar.
Johnny saiu rapidamente da delegacia e dirigiu direto para a casa de Ana. O trânsito estava tranquilo, mas sua mente estava agitada. Ele não conseguia afastar a imagem da fragilidade de Ana e a preocupação de Laura. Quando chegou à casa, sentiu um arrepio de inquietação ao ver a porta da frente entreaberta. Isso não era um bom sinal.
— Ana? — chamou ele, esperando uma resposta. Nada. — Ana!
O silêncio era sufocante. Ele chamou mais uma vez, sem resposta. O instinto investigativo assumiu o controle. Johnny puxou a arma do coldre e entrou na casa com passos cautelosos. Cada cômodo que ele atravessava parecia mais vazio, a tensão crescendo a cada movimento.
Ele subiu as escadas lentamente, os olhos atentos a qualquer sinal de perigo. Quando alcançou o andar superior, ouviu um barulho vindo do banheiro. A porta se abriu bruscamente, revelando Ana, enrolada apenas em uma toalha branca, os cabelos úmidos e o rosto pálido de susto.
— Meu Deus, Johnny! — gritou Ana, completamente assustada ao vê-lo armado. — O que está fazendo aqui?
Johnny abaixou a arma imediatamente, visivelmente constrangido.
— Eu... eu encontrei a porta aberta e te chamei várias vezes. Ninguém respondeu, então entrei. Achei que algo tivesse acontecido. Me desculpe — disse ele, a voz um pouco hesitante. — Já estou indo. Está tudo bem?
Ana, ainda com a respiração acelerada, levou alguns segundos para processar a situação. Ela balançou a cabeça, tentando acalmar o próprio coração.
— Eu devo ter esquecido a porta quando entrei... Vim direto para o banheiro tomar um banho. Estou exausta... mas sim, está tudo bem. — Ela tentou sorrir, mas o cansaço e a tristeza eram visíveis.
Johnny assentiu, ainda observando-a com uma expressão indecifrável. Ele havia lidado com situações tensas a vida toda, mas aquela era diferente. Algo na vulnerabilidade de Ana mexia com ele de uma forma que ele não estava acostumado. Tentando se recompor, ele disse:
— Qualquer coisa... me ligue. — E entregou o cartão mais uma vez, dessa vez com uma intensidade maior em suas palavras.
Ana, apesar do susto inicial, sentiu-se estranhamente grata pela presença dele. Enquanto ele caminhava em direção à porta, ela parou e o olhou fixamente.
— Johnny... obrigada. De verdade.
Ele parou por um instante, incapaz de responder, e saiu sem dizer mais nada. No carro, Johnny respirou fundo, passando a mão pela cabeça. Ele estava envolvido demais. Este caso não era como os outros. Algo maior o puxava, e não era só a responsabilidade de resolver o crime. Era algo pessoal agora. O rosto de Ana, a fragilidade de Laura, a dor do Capitão Harry... tudo estava misturado em sua mente, e ele sabia que não sairia dessa até que resolvesse o caso.
Enquanto dirigia pela cidade, Johnny não conseguia afastar a sensação de que estava lidando com algo muito mais sombrio do que parecia. O assassino não havia deixado praticamente nenhuma falha — tudo tinha sido meticulosamente calculado. Isso o preocupava. Quem quer que tivesse feito aquilo sabia exatamente o que estava fazendo. Era alguém bom, alguém que entendia os meandros de um crime perfeito. E agora, o que mais o incomodava, era a certeza de que estavam sendo observados.Ao retornar à delegacia, Johnny sabia que estava lidando com um inimigo invisível, alguém perigoso demais para ser subestimado. E isso o assustava mais do que qualquer coisa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cruzando Destinos
Romance▪︎ Na pequena cidade um detetive Johnny Donovan enfrenta um caso brutal de assassinato que o leva a cruzar caminhos com Ana, a filha das vítimas. À medida que a tensão entre eles aumenta, Johnny se vê dividido entre seu dever e a crescente atração p...