BLANK SPACE

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FELIX

— Ei, Raio de Sol — Hyunjin diz, vindo até mim com a foto em mãos.

— Fiquei surpreso que você a guardasse aqui em casa — falo a ele.

— Como você acabou de dizer, aqui é nossa casa. Eu guardo tudo que me é precioso aqui, Félix. O quarto na sede da segunda família tem literalmente apenas meu uniforme, algumas roupas e um pouco de dinheiro para emergências — ele me conta, e sinto meu coração bater mais rápido por isso. — E, além do mais, meu pai não pode ver nada relacionado a mim, ele surta. Ele literalmente quebrou um quarto quando viu uma foto dela.

Engulo em seco.

— Sinto muito — o consolo. — Não deve ter sido fácil.

— Não foi — ele concorda e, então, me estende a imagem.

A mulher lá é linda, e isso não é algo supérfluo. Ela é deslumbrante, como aquelas modelos que facilmente estampariam as capas da Vogue hoje em dia. Ela é alta, com a pele extremamente pálida, olhos e cabelos negros e os lábios vermelhos. A descrição perfeita da Branca de Neve.

Mas, acima de tudo, é impossível não notar que é como olhar uma versão feminina de Hyunjin. Tão linda, é tão bonito e simbólico ver que ele se parece com ela em exatamente tudo, em cada menor detalhe, quase como um espelho que lhe mostra você do sexo oposto.

— O que achou? — ele me questiona.

— Que estou vendo uma versão feminina de você — eu lhe digo. — Ela é linda, assim como você.

— Sabe, meu pai sempre me dizia que eu me parecia com ela, mas ele nunca me deixou ver uma foto dela. Eu não sabia nada dela, bem, eu ainda não sei, mas eu consegui algumas fotos. Ele as tinha trancadas em uma caixinha. Um dia, eu achei uma e peguei para falar com ele. Foi quando ele surtou e quebrou tudo. Nunca fiquei com tanto medo na vida. Era como se outro homem estivesse ali e não o meu pai — ele fala, e vejo suas lágrimas. Começo a acariciar os dedos de sua mão direita. — Eu sei que pode ser egoísta, mas eu queria saber mais sobre a mulher que me gerou, sobre a minha mãe. Você não pode culpar uma criança por querer conhecer a família dele, por querer saber de onde ele veio.

— Isso não é egoísta, meu amor. E você era uma criança, e toda criança é curiosa por essência. Seu pai, como o adulto, tinha que estar preparado para essa situação — aquele homem de merda ousou machucar um menininho por querer saber da mãe.

— Meu pai nunca foi muito bom com emoções — Hyunjin tenta justificar.

— Isso não é desculpa, meu amor — falo. — Ele era o responsável.

— Eu sei, mas ele passou por tanta coisa. Eu só sei que não é certo, mas ele também sofreu — ele me diz, e eu fico em silêncio porque, apesar de tudo, consigo entender Hyunjin, mesmo que não concorde, porque, para mim, o pai dele sempre parece estar querendo sair com a pobre vítima da situação.

E eu sinto que ele não é isso.

— Ei, posso te fazer uma pergunta?

— Claro.

— Você nunca pensou em conhecer sua família biológica? — ele me questiona.

— Não — eu respondo, sincero, enlaçando nossas mãos. Estamos há muito tempo juntos, mas nunca tocamos nesse assunto. Sempre que falamos de família, a única que eu mencionava era a minha, aquela que sempre esteve lá por mim: os Theerapanyakuls, meus pais, meu irmão e meus tios. — Sabe, meu pai uma vez me perguntou se eu queria conhecê-los, mas eu simplesmente disse não. Eu acho que foi o que era pra ser. Se eles não podiam criar um bebê, bem, eu fiz as pazes com isso, porque eu tenho uma família incrível. Eu realmente espero que, onde quer que eles estejam, que estejam tão bem e felizes quanto eu. Mas se eles não me quiseram, por que eu deveria querer saber sobre eles? Eu acho que algumas coisas só são para ser. O destino se encarrega disso. Eu posso não ter nascido filho dos meus pais ou irmão de Itt, mas eu estava destinado a isso, até porque família é sobre amor, não tem nada a ver com sangue.

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