Capítulo 2

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Christopher Alexander

Eu poderia fazer uma lista de motivos enumerados que me levaram a odiar Dulce María desde o primeiro dia em que tive o desprazer de a conhecer. E o primeiro deles, sem sombra de dúvidas, seria a sua voz irritante.

Deus, eu preferia que Poncho gemesse no meu ouvido por setenta e duas horas consecutivas, sem intervalos, do que ouvi-la gritando com a porra da sua voz fina na minha cabeça.

Era chato. Ela em si é um porre sem fim.

Em segundo, seria esse seu instinto de chefe metida à besta. Já perdi a conta do número
de vezes em que tive de lembrá-la que ela era apenas mais uma funcionária, não uma de nós como Scott.

O terceiro, seria essa cara de bunda enjoativa que ela está dirigindo até mim agora.

Sinto vontade de vomitar. Poderia passar o resto da minha vida enumerando essa lista, mas, no fim, sei que há apenas um maldito ponto que eu nunca poderei falar sobre.

Jamais poderia abrir minha boca para desprezar sua beleza.

Porque a maldita deve ser uma das mulheres mais bonitas que eu já vi na minha vida.

Sua pele está brilhando, o que provavelmente significa que ela acabou de sair do banho e de se entupir daqueles cremes ridiculamente cheirosos que já viraram pauta de discussão entre nós dois, por mais que esse pareça ser um assunto bobo - afinal, tudo vira discussão quando se trata de Dulce e Christopher.

Seus cabelos castanhos estão presos em um rabo de cavalo alto, que me dá uma bela visão do seu pescoço, preenchido por uma correntinha de coração dourada, presente de Scott no seu aniversário do ano passado - o mesmo que convidei uma stripper só para lhe deixar com raiva.

E funcionou perfeitamente.

Suas íris castanhas me fitam com ódio, desgosto, fúria e todos os adjetivos possíveis para raiva. Seus lábios grossos estão franzidos, formando uma linha reta perfeita.

De braços cruzados e esperando pela minha reação, Dulce parece querer gritar mais um pouco.

E eu quero que ela grite. Porra, como quero.

— Vai se foder, Dulce.

É o necessário para que ela perca sua postura passiva. Agora, ela ficará passiva-agressiva. A minha parte favorita em todas as centenas de milhares de vezes em que brigamos.

— Ir me foder? Vai você, seu babaca dos infernos! — Grita, adentrando o ônibus e olhando para a garota. Por um momento, tinha me esquecido dela. Quando estou brigando com essa mulher, é como se o mundo desaparecesse. — Quem é você, hein?

— Belinda, sua vadia.

— Vadia? Essa... — murmura baixo, começando a falar e xingar sozinha. — Que porcaria é essa que você estava cheirando?

— Cocaína? — Belinda diz como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, dando risada. — Você tem o que, dezoito anos?

— Meninas, meninas. Se acalmem. — Intervenho na discussão, colocando-me de pé. Belinda continua sentada, deixando somente Dulce e eu frente a frente. Nesse momento, rio por ser uns 15 centímetros mais alto do que ela.  — A Belinda já estava de saída.

— Ah, estava? — Dulce ri debochada, cruzando os braços. — Não era isso que parecia. Você tem noção do quanto está nos atrasando, Christopher? Porra, estamos em turnê! Isso não é brincadeira, cara!

— Deus, como você é irritante — ignoro todo o seu sermão, deixando ela ainda mais
irritada.

— E você é insuportável! Irresponsável!

O SOM DO IMPROVÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora