O SOM DO IMPROVÁVEL

Epílogo

Christopher Alexander

1 ANO DEPOIS.

— Você vai se atrasar, Alex! LEVANTA DESSA CAMA AGORA! — Dulce grita, jogando um travesseiro na minha cara e caminhando furiosa na minha direção.

Estamos no México para o que deve ser o nosso décimo show da turnê mundial. Nosso novo álbum, “Confessions”, era mais um sucesso disparado. Nossas músicas autorais individuais competiam entre si pelo top 10 da billboard, onde “Too Much to Handle”, escrita por Poncho, ocupava o primeiro lugar. A minha, “I Married a Stranger”, estava em segundo. (Sim, eu havia escrito mais uma música falando sobre meu casamento falso com Dulce). “Not My Problem”, de Christian ocupava o terceiro.

Óbvio que os fãs pensavam que nós havíamos composto juntos, mas decidimos que cada um merecia algo individual nesse álbum. E o resultado foi perfeito.

Estou deitado na pequena cama de solteiro do nosso camarim, morrendo de preguiça de ir para os bastidores. Já é a quinta noite que durmo por apenas duas horas, e mal consigo me manter de pé. Só preciso de mais uns cinco minutinhos e...

— Vai logo, Christopher! — Dulce me puxa pelo braço com toda sua força, caindo de bunda no chão enquanto não me movo um dedo.

A gargalhada é inevitável.

— Sabe, esse não é mais o seu papel. — Sento na cama, alongando as costas. — Cadê a nova assistente? Ginny, Jenna...?

— Jennifer — corrige, dizendo o nome da nossa atual assistente administrativa. — Ela está na maquiagem. Aquela mulher não tem pulso para mandar em vocês. Com todo respeito.

Ela tem razão. Jennifer parece nos temer, ainda que nós mantenhamos máximo respeito por ela. Deve ser a quarta ou quinta assistente que Scott tenta nos arrumar e provavelmente falha.

— Que seja, prefiro ouvir você gritando meu nome.

Dulce revira os olhos, se levantando do chão.

— É sério, amor. Vai se atrasar se continuar de corpo mole.

— Em minha defesa, não durmo direito há dias. Dias! — enfatizo a última palavra, fazendo drama. — Só queria mais cinco minutinhos de nada. Vem cá, deita comigo.

— Não.

— Por favor, princesa.

— Tô falando sério, Alex. Nós vamos atrasar o show! — Corrigindo: ele vai atrasar o show.

Poncho e Christian logo invadem o camarim, impacientes. Os dois estão de braços cruzados, me encarando como se pudessem arrancar minha cabeça e dar para os canibais comerem.

Merda.

— Não nos faça chamar o Scott, cara — murmura Poncho.

— Ele já tá meio puto porque a produção errou no número de luzes, se ficar de atrasos e gracinhas, ele vai te comer vivo — completa Christian, andando na minha direção e erguendo a mão. — Vem logo.

— Você chamou eles, não foi? — pergunto para Dulce, que não disfarça o seu sorriso travesso.

Ela dá de ombros.

— Fiz o que achei necessário para te tirar da cama. Scott já está uma pilha de nervos, não precisamos dar mais trabalho para ele.

No último ano, meu empresário e Dulce estavam se aprofundando mais na relação “pai e filha”. Não com muita intimidade, mas sim, como os velhos amigos que os dois foram um dia. Scott confessou para mim que sente vontade de apresentá-la para sua família. Afinal, Dulce tem duas irmãs mais novas. Porém, ele sente receio. Medo de que ela se sinta invadida, ou até mesmo ofendida. Tentando buscar uma resposta pelo lado dela, quando fiz essa suposição, Dulce surpreendentemente confessou que sentia vontade de conhecê-los.
No fundo, eles querem mais um do outro. Ainda que não seja o momento de admitir.