Capítulo 5

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Dulce María

Minha cabeça parece pesar uma tonelada quando acordo pela manhã.

Gostaria de dizer que foi devido à noite passada. Que todo aquele estresse e aquela situação assustadora com a fã lunática, além de me deixarem traumatizada, também me deixaram “de ressaca”, vamos assim dizer.

Mas se eu dissesse tudo isso, estaria mentindo.

Minha cabeça parece pesar uma tonelada pelo tanto de notificações que não param de chegar no meu celular. Mesmo com a tela inteira trincada, ele ainda está funcionando.

Ontem quando cheguei no hotel, coloquei o dispositivo no modo avião justamente porque não queria que as notícias me perturbassem. Eu já sabia que meu escândalo com a fã pararia nos tabloides,
então quis poupar minha saúde mental pelo menos por um tempo.

Agora, está na hora de encarar a realidade.
Olho no relógio de parede. São sete da manhã. Com certeza todos os meninos – e Scott – ainda estão dormindo, levando em conta que só sairemos daqui no final da tarde. Mas as redes sociais não levam tempo para agirem. Antes de pegar meu celular, vou até o banheiro para que ele carregue todas as notificações que preciso checar.

Mentalmente começo a pensar em uma
nota de esclarecimento, a qual, pela primeira vez, será em minha própria defesa, e não de algum dos meninos. Caramba. Em cinco anos de carreira, nunca imaginei que esse momento fosse chegar.

Flashbacks da noite passada invadem minha mente, quase me causando um arrepio. Não
queria ter ido aquela festa. Deus, não gosto dessas coisas. Não com astros do rock e celebridades.

Na adolescência, eu e Maite costumávamos sair escondidas dos pais dela. Íamos a bares
clandestinos e baladas que não pediam identidade para garotas. Pelo menos, não para nós. Mas lá, não havia pessoas famosas ou extremamente ricas. No máximo, um riquinho ou outro, que nem eram tão ricos assim como nós costumávamos achar.

Estar no meio de celebridades é diferente.

Há toda uma pressão - se você não se comporta, se não finge ao máximo ser um deles ou agir como eles, você não é ninguém.

E é exatamente assim que me sinto quando vou para esses lugares: uma grande ninguém. Não gosto de ser vista. Não gosto que os fãs saibam meu nome. Gosto de viver no escuro. Atrás das câmeras, dos holofotes, dos tabloides, de tudo. Saber que vou ter de me explicar porque uma insana pulou em cima de mim enquanto tinha um ataque
de ciúmes do Christopher ainda por cima, me faz querer vomitar todo o meu jantar de ontem. E o café da manhã, se eu tivesse tomado.

Escovo meus dentes e lavo meu rosto. Enquanto volto para o quarto, continuo pensando no que irei escrever. Não vou conceder nenhuma entrevista. Não, nem pensar. Apenas uma nota de esclarecimento é o suficiente. E precisa ser em terceira pessoa, para não saberem que sou a
autora.

Algo como: “Na noite passada (28/02), Dulce María, assistente administrativa da nossa
banda (Furia Azteca) foi vítima de agressão vinda de uma fã. Em nenhum momento Dulce se mostrou agressiva.
Gostaríamos de esclarecer que tudo será resolvido judicialmente, e que nossa equipe já está em contato com o local do ocorrido para saber mais detalhes”.

É, me parece bom.

Após reler o texto e fazer algumas pequenas alterações, decido abrir o meu celular. E ali percebo que o buraco está muito mais embaixo do que eu imaginava.

Minha caixa de mensagens está lotada.

Maite me enviou cerca de cinquenta mensagens.

Sem entender a proporção do que está acontecendo, abro nossa conversa.

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