Capítulo 30

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Christopher Alexander

— Christopher Alexander, se você não estiver indo para a porcaria do aeroporto daqui uma hora, eu te vou estrangular!

O grito de Dulce teria rasgado meus ouvidos se ela não estivesse doente. Minha esposa está deitada na cama, gripada como nunca vi antes - infecção de garganta - e, mesmo assim, insiste em esbravejar comigo pelo fato de que não estou nem um pouco a fim de embarcar para Miami, onde será a premiação do Single Music Awards.

O grande dia finalmente havia chegado, e a pessoa que eu mais queria que estivesse do meu lado está impossibilitada de ir.

— Já te disse que não vou, princesa. — Cruzo meus braços na altura do peito, parando em pé na ponta da cama. Dul pega um travesseiro e joga na minha direção, mas consigo desviar. — Ei! O que é isso?

— O que é isso? A droga de uma intervenção! — Penso em dizer para ela parar de forçar sua voz rouca, porém sei que se disser isso, outro travesseiro irá sair voando pelo quarto. — O Voo de vocês parte em uma hora, e suas malas não estão perto de estarem prontas. Scott já cuidou da roupa para a premiação, e Poncho terminou de fazer o seu discurso. Só falta você pegar a porcaria de um táxi e ir para a merda do aeroporto!

— Uau, que boca suja. — Não consigo conter o riso do seu jeito furioso. Fazia tempo que eu não via Dulce assim: prestes a rasgar minha cabeça no meio se conseguisse levantar da cama. — Isso é muito feio em uma dama, sabia?

— Vai.Se.Fo.Der.

— Talvez eu devesse mesmo. Deveria te foder, se não estivesse tão doentinha. Prefiro te trazer uma sopa.

— É sério, Alex. — O cansaço em sua voz fraca me dá um aperto no coração. Sei que estou lhe dando um enorme trabalho como nos velhos tempos. Entretanto, não consigo evitar. Não quero deixá-la sozinha aqui. — Estamos esperando por esse dia há anos. Anos! E vocês vão ganhar, eu tenho certeza. Quero que esteja lá com seus amigos comemorando, e não aqui se infectando com minhas bactérias altamente contagiosas.

— Suas bactérias altamente contagiosas são lindas. Quero ser melhor amigo delas.

Dessa vez, consigo fazê-la rir um pouco.

— Eu vou ficar bem. Penélope disse que ela e Nate virão ficar comigo - na sala, para não ficarem doentes, mas pelo menos estarão aqui. E Samantha também está por perto. Além do mais, preciso começar a arrumar minhas coisas. Será bom ter esse tempo só para mim.

“Preciso começar a arrumar minhas coisas”. Não imaginei que, quando fosse ouvir essa frase pela primeira vez, ela iria doer tanto como está doendo agora.

Em uma semana nosso acordo de convivência chegará ao fim. Ainda temos mais alguns meses de casados, mas Dulce não é mais obrigada a morar comigo. Mais uma vez, sinto aquele nó involuntário revirar o meu estômago. Não quero que ela vá. Não quero passar os meus dias aqui, sozinho, sem ouvir o som da sua voz. Tenho pesadelos em imaginar minha cama vazia, o meu quarto que virou um ateliê sem suas pinturas deslumbrantes... Deus, sinto arrepios em pensar que não ouvirei mais seus passos sorrateiros pela casa. Quero que ela fique comigo.

Mas quem disse que eu tenho coragem de lhe dizer tudo isso em voz alta?

— Não quero te deixar aqui sozinha, amor. — É o máximo que consigo dizer. Não quero que você vá. Quero aproveitar todos os milissegundos que tenho do seu lado. — E se acontecer alguma emergência? E se você, sei lá, tropeçar a bater a cabeça?

— É por isso que existe o serviço de ambulâncias, cara. Você liga e puff, elas aparecem como mágica.

Nossa conversa é interrompida pela voz de ninguém mais ninguém menos do que Poncho. Um dos meus melhores amigos surge como uma invocação na porta do meu quarto, intercalando seu olhar entre mim e Dulce.

O SOM DO IMPROVÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora