Capítulo 4

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Christopher Alexander

O último dia de turnê finalmente havia chegado. E eu não poderia estar mais fodido. Ok, talvez parte disso – noventa e cinco por cento – seja minha culpa.

Nos últimos shows, andei pisando um pouco – muito – na bola. Meu nome foi parar em mais tabloides e sites de fofoca do que o de costume. Não nego que dentre os demais integrantes da banda, sou o que mais costuma dar trabalho. Mas porra, eu extrapolei legal nessas últimas semanas.

Scott está uma pilha de nervos comigo – e com razão.

Eu poderia colocar a culpa no estresse. Na ansiedade que tenho antes de subir no palco, a qual desconto em bebidas e mulheres; nas discussões bobas que tenho com Christian sobre ele sempre, sempre errar o acorde principal de “Nothing at All” só porque, segundo suas próprias palavras, o tom fica melhor no agudo do que no grave; nas discussões intermináveis que tenho com Dulce sobre qualquer assunto - o último deles sendo que deixei uma toalha molhada jogada no chão do camarim; enfim, poderia jogar a culpa em N motivos, mas nenhum deles justificaria o meu comportamento.

Estava agindo como um jovem garoto de vinte anos que acabou de descobrir que quando se torna um astro do rock reconhecido, tudo vem fácil.

E vai na mesma proporção.

O título da última reportagem que eu li me causa dor de cabeça. Em letras gigantes, está escrito:

“O Jovem integrante da banda Furia Azteca estava abraçado com duas prostitutas e murmurando palavras desconhecidas, afirmam testemunhas”.

É, não é uma notícia muito boa de se ler. Eu não estava drogado, só para constar. Ok, talvez tivesse fumado um ou dois baseados, mas em minha defesa – ou nem tanto assim – já usei coisas piores. O problema era que todo o restante era verdade. Eu estava bêbado. Muito bêbado. E abraçado com duas prostitutas.

O show havia terminado, e eu era o único que queria me divertir. Então enchi a cara em um boteco qualquer e, quando fui perceber, havia virado o assunto do momento. De novo, sendo que uma semana atrás, acabei dormindo com uma fã que fez questão de vazar para o BuzzFeed detalhes sobre como o meu pau é. Porra, fala sério!

Por mais que eu ame o que faço, mal vejo a hora de entrar de férias. Serão três deliciosos meses onde me esforçarei ao máximo para me manter fora dos tabloides e das mãos dos paparazzis, desesperados por um furo. Além do mais, estou com saudades de casa. Saudades de me sentir, de fato, em casa.

— Mais uma vez na capa dos jornais, hein? — Diz Christian, entrando no Camarim.

Nosso espaço em Los Angeles é surreal de tão elegante e chique. Caramba, eles servem comida para cinco pessoas – contando Dulce e Scott – que seria o suficiente para um país inteiro.

Nossa gravadora fica aqui, então além das nossas “casas pessoais”, compramos apartamentos no mesmo prédio para morarmos aqui no período de gravações.

Sim, somos vizinhos. E isso é hilário.

— Cara, como eu queria que esse negócio fosse impresso. Faria uma parede no nosso
ônibus só com os seus furos.

— Há-há, muito engraçado. — Reviro meus olhos com sua brincadeira.

— Tô falando sério! Seria hilário, e com certeza caberia em uma parede inteira. E olha que aquele negócio é enorme.

— Por que você não cuida da sua vida?

— Porque a sua é bem mais interessante. — Sorri sarcástico, se sentando ao meu lado. —Caramba, esse é o último show da turnê FINITO. Parece que foi ontem que estávamos escrevendo essa música.

O SOM DO IMPROVÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora