Capítulo 24

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Dulce María

As consequências das minhas decisões estúpidas pesam uma tonelada quando acordo na manhã do dia seguinte em que beijei Christopher.

Tudo bem, até que essas decisões não foram tão estúpidas assim. Sim, nós nos beijamos; sim, eu gostei; sim, eu admiti para ele, logo para ele, o meu maior rival, que só transei com um cara na vida e uma vez... Argh, quanto mais eu penso, mais a situação piora.

Mas pensando bem, tenho uma gigantesca parcela de culpa. Acredito que a maior.

Christopher perguntou se eu gostaria que ele se afastasse, e respondi que não. Então, consequentemente, acabamos nos beijando.

Previsível.

Acho que o problema maior não foi o beijo em si - mas sim, o que veio depois dele.

Nossa conversa. A exposição que lhe entreguei no momento em que confessei um dos meus maiores segredos que me assombrou por anos e anos. Posso ter feito sexo apenas uma vez na vida, porém isso não significa que nunca senti vontade depois. Óbvio que já dei alguns amassos que poderiam ter chegado lá. Poderiam. Amassos que nunca chegaram a acontecer, porque eu não sabia o que fazer. E tinha vergonha de admitir isso em voz alta.

Christopher me fez uma proposta tentadora, mas será que ele estava mesmo falando sério? E não no calor do momento, na expectativa de que fôssemos transar ontem? Porque não foi o que aconteceu. Muito pelo contrário: passamos mais alguns minutos nos beijando até quase ficarmos com câimbra. Foi engraçado. Depois, ele colocou um filme que não me lembro o nome, e apaguei enquanto assistia. Acordei agora pela manhã, então presumo que fui carregada até aqui mais uma vez.

Talvez tenha sido isso; ele pensou que, com um acordo, conseguiria com mais facilidade.

É provável que, agora, ele volte a me odiar e me desprezar, já que não rolou nada entre nós.

Droga, estou pensando demais.

Preciso sair dessa cama e respirar um pouco.

Quando tento me sentar, sinto um peso diferente em volta da minha cintura. Meus orbes se arregalam ao ver o braço pesado de Christopher envolto nela, como se estivesse me abraçando.

Ah, Meu Deus. Será que nós dormimos abraçados?! Não, Chega. É demais para mim.

Com a maior delicadeza e cuidado do mundo, tiro seu antebraço de cima de mim. Ele grunhe, murmurando alguma palavra que não entendo, mas se vira para o outro lado e volta a dormir. Ainda bem. Contenho meu suspiro aliviado e, na ponta dos pés, caminho sorrateiramente até a porta. Ao me virar para trás, agradeço aos céus por ele continuar dormindo feito uma criança. Fecho a porta sem batê-la, deixando uma pequena fresta a fim de evitar barulho. Consigo relaxar somente quando desço as escadas e vou para o jardim, me escondendo de Zeus para que ele não lata ao me ver.

Coloquei uma cadeira de descanso estrategicamente atrás da pilastra para evitar seus latidos caninos perante a minha presença. Quando me sento, ainda de pijamas e com o cabelo bagunçado, permito-me suspirar bem alto.

Caramba, parece até que eu estava escapando de algum tipo de assassino. E não do meu marido/inimigo/amante/não-sei-como-o-chamar.

Só há uma pessoa no mundo que pode me confortar agora.

E enquanto digito uma mensagem de texto para ela, torço para que, independente do pólo mundial onde Maite esteja, nossos fuso-horários não sejam tão diferentes quanto costumam ser.

Dulce María from WhatsApp: Mai, por favor, me diga que vc tá aí. É uma emergência com E maiúsculo. Por favor, me responda.

O SOM DO IMPROVÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora