Capítulo 37

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Christopher Alexander

— Cara, levanta desse sofá. Sua bunda já deve estar colada nessa porcaria.

A voz de Poncho invade meus ouvidos como um zunido infeliz. Quando abro meus olhos, percebo que ele e Christian estão de pé na minha sala, de braços cruzados, me encarando como se eu fosse a droga de um parasita.

— Você tá nojento, irmão — comenta Christian, olhando-me da cabeça aos pés. — Isso no seu rosto é ketchup?

Passo o polegar pela bochecha, ainda um pouco desacordado. Sim, é ketchup. Agora, desde quando ele está aí, não sei responder.

— Há quanto tempo você não vê um chuveiro?

— Deve ter uns três dias, pelo menos — Poncho diz por mim. — Ou quatro.

— Quatro? Aposto que há uma semana! — Christian rebate, olhando ao redor da sala. — Pelo menos esse lugar está limpo, graças às suas funcionárias. Elas são anjos na Terra.

— O que diabos vocês estão fazendo aqui? — finalmente tomo coragem para dizer algo, me sentando no sofá.

Coço meus olhos e alongo as costas. Estou dormindo aqui desde quando Dulce foi embora, porque simplesmente não conseguia ficar no meu quarto. No nosso quarto. Todas as vezes em que deitava naquela maldita cama, lembrava dela. Do seu sorriso, seu cheiro delicioso, da forma como ela dormia serena do meu lado, com os lábios levemente entreabertos e a mão apoiada no queixo... Porra, eu conseguia até mesmo sentir o peso do seu corpo do lado do meu.

Aquilo estava me deixando maluco. Aliás, tudo estava me enlouquecendo.

Os dias e as noites eram os mesmos. Eu acordava, me forçava a comer qualquer porcaria, ligava a televisão, mexia pouco no celular, bebi algumas - muitas - cervejas e, por fim, pegava no sono em qualquer horário que me desse vontade de dormir.

Desde quando ela foi embora, nada mais parecia fazer sentido ou ter graça. Até mesmo Zeus, que não é muito fã de pessoas, ficava sentado no mesmo lugar onde Dulce costumava tomar sol, como se pudesse sentir sua presença.

O entendia perfeitamente. Nos meus piores momentos, podia jurar que a via. Andando pela casa, gritando comigo por deixar o quarto desorganizado, me abraçando por trás e ficando na pontinha dos pés para beijar meu pescoço...

Porra, eu estou mesmo ficando maluco.

Minha operadora de celular devia estar prestes a bloquear o meu chip por importunação. Já devo ter ligado, no mínimo, umas cem vezes para Dulce. fora as mensagens na caixa postal, WhatsApp, onde imploro para que ela me escute mais uma vez e me dê a chance de explicar, de novo, porque tomei aquela decisão estúpida.

Se eu soubesse que guardar aquele maldito segredo custaria a única garota que ousei amar com tanta devoção na vida, teria mandado Scott para o inferno e contado no dia do casamento.

A verdade é que é a primeira vez que experimento esse tipo de sentimento - o de querer muito que alguém fique. Dentre as demais mulheres que vinham e iam embora da minha vida, nunca desejei que alguma delas ficasse de verdade. Ainda que muitas quisessem. Sempre faltava algo. Uma conexão a mais, uma entrega.

Demorei quase trinta anos para encontrar a mulher dos meus sonhos. A única que consegue me arrancar risadas verdadeiras e me deixar louco só de piscar para mim de um jeito diferente. E agora, ela se foi para nunca mais voltar. E não faço a menor ideia de como lidar com isso.

— Nós viemos te tirar dessa — Christian responde, sentando ao meu lado. Enquanto Poncho se mantém de pé. — Qual é, Alex. Você nunca ficou tão... podre e nojento antes.

O SOM DO IMPROVÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora