Dulce María
A ausência de um pai causou danos inimagináveis na minha vida.
Quando criança, não entendia muito bem o que estava acontecendo. No bar, quando confessei para Christopher sobre todo o drama familiar que abraça o meu passado, citei que, numa consulta rotineira com uma psicóloga, ela me explicou que eu não conseguia lembrar do rosto de meu pai porque o abandono combinado da morte eminente de mamãe foi um evento muito traumático. Como se mesmo aos quatros anos, de alguma forma, a pequena Dulce entendesse que seria melhor esquecer o rosto daquele homem e tudo de bom que ele havia feito. Porque a dor da ausência e da perda dele seria muito maior do que qualquer boa recordação.
Foi literalmente da noite para o dia.
Meu pai não chegou nem a comparecer no velório de sua falecida esposa. Simone contou que, logo quando ele soube, arrumou suas coisas e nunca mais olhou para trás.
Até agora.
Meus olhos estão fixos no de Scott. Ao contrário, ele nem sequer ousa olhar para mim. De soslaio, percebo minha tia intercalando seu olhar entre nós dois, balançando a cabeça em negação.
Penso em gritar com ela. Em mandá-la para o inferno por dizer tamanho absurdo, por ter coragem de aparecer aqui e destruir o meu conto de fadas.
Meu lado agressivo sonha com a ideia de avançar nos seus cabelos perfeitamente lisos, pretos e arrancá-los com os dedos. Simone nunca foi uma mulher desprovida de beleza; sua prioridade é a si mesma, e ponto. Na infância, passava fome porque ela havia se acostumado a viver sozinha, e não queria deixar seus luxos de lado para colocar mais comida na mesa. Vez ou outra, seus namorados ricaços faziam a despesa da casa. Mas na grande maioria do tempo, ela me deixava ali, sozinha, e passava a noite com eles.
Cresci só. Sem amigos, família, somente eu e os estudos que me dariam um futuro. No dia em que finalmente consegui juntar dinheiro e me mudar para Summerville, a fim de fugir do inferno que vivíamos na Geórgia, pensei que era um novo recomeço para mim.
E quando conheci Scott Lendger, tive certeza de que havia feito a escolha certa.
Morava em um apartamento compartilhado com mais cinco meninas que me detestavam sem motivo algum. Maite, que sempre viveu em todos os cantos do mundo com seu namorado de merda, me visitava quando podia e brigava com elas na maior parte do tempo em que passávamos lá.
Numa de suas visitas, decidimos ir até um bar próximo ao bairro, pois teria música ao vivo e cerveja barata. Quando vi a Furia Azteca entrando, e pousei meu olhar em cada um dos meninos, de alguma forma, eu soube que acabaria me envolvendo com eles. Era como se a pulga do destino repousasse no meu ombro e dissesse: “ei, acho que você vai se dar bem”.
Eles tinham um talento fora do comum.
Meu coração chegou a palpitar no segundo em que Christopher colocou a boca próxima ao microfone e começou a cantar “I Dare You to Date Me”, o primeiro single lançado pela banda.
Peguei meu celular de última geração que Maite havia me presenteado no Natal e comecei a filmá-los. Sempre fui muito aguçada e agilidosa com as redes sociais. Como os achei talentosos, queria ajudá-los de alguma forma, divulgando o trabalho para mais pessoas.
Foi então que Scott me abordou pela primeira vez.
[...]
— Você acha eles talentosos? — ele perguntou, ajustando seu óculos.
De primeira, não entendi porque um desconhecido estava falando comigo. Maite havia ido ao banheiro, provavelmente trair o seu namorado com algum gostosão tatuado, mas algo na áurea dele me passava segurança. Talvez fosse o cabelo grisalho... ou a cara de um adulto responsável.
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O SOM DO IMPROVÁVEL
Fanfiction(+18) FANFIC VONDY Christopher Alexander é o típico astro do rock que todos amam odiar: talentoso, charmoso e cheio de problemas. Liderando a famosa banda "Furia Azteca", ele vive cercado por polêmicas, festas intermináveis e manchetes escandalosas...