O SOM DO IMPROVÁVEL

Capítulo 38

Christopher Alexander

Tudo havia dado absolutamente errado.

E por tudo, eu quero dizer T.U.D.O mesmo.

Para começar, o meu voo atrasou duas horas - o que, além de me fazer chegar atrasado para a porcaria de reunião com o advogado, fez com que eu ficasse tão desnorteado, que não consegui cumprir com meu plano para reconquistar minha esposa.

Bom, não que eu estivesse planejando um grande evento: apenas mandaria suas flores favoritas, chocolates e uma cartinha implorando pela milésima vez para que pudéssemos conversar e que, caso ela realmente decidisse sair da minha vida, fosse de forma amigável. O mais amigável possível.

De qualquer forma, quando pisei em Los Angeles já era tarde demais. A segunda parte do meu plano envolvia chamá-la para falar comigo antes de enfrentarmos o leão da separação, mas quando cheguei no escritório eles já estavam me esperando na sala.

A sorte não estava mesmo ao meu lado nos últimos tempos.

O clima era sufocante, desconfortável e insuportável. Maite, a melhor amiga de Dulce, estava ao seu lado e me fitava como se pudesse avançar no meu pescoço e me matar a qualquer momento. Se ela fizesse isso, eu não a impediria.

Scott e eu estávamos do outro lado da mesa e nosso advogado, Becker, lia as cláusulas do contrato, condições, benefícios acordados e todo um blábláblá jurídico que pouco me interessava.

Olho para Dulce. Ela continua com seus orbes abaixados, olhando para os próprios dedos. Até agora, não houve um momento sequer em que seus olhos cruzaram com os meus.

Dulce me evita a todo custo, enquanto eu me esforço para chamar sua atenção, pigarreando, remexendo-me na cadeira, batucando a mesa, fazendo qualquer coisa que possa lhe despertar o mínimo de interesse em olhar para cima.

Todas essas tentativas falham. Me sinto a porra de um homem miserável e insuficiente, que não consegue fazer nada para convencer sua mulher de continuar ao seu lado.

— Bom, devo dizer que esse é o melhor acordo que já testemunhei em anos de carreira — diz Becker, trazendo-me de volta para a realidade. Estava divagando desde quando coloquei os meus pés nesta sala e ele começou a falar. — Ambas as partes estão de acordo? Algum questionamento?

Olho para Dulce. Ela apenas acena com a cabeça, sem dizer nada.

Porra, isso está me matando.

Faço o mesmo.

O silêncio perpétuo que paira sobre o ar faz o advogado erguer as sobrancelhas, percebendo nossa tensão.

— Bom, se não há mais nenhum questionamento... — Becker tira um papel da sua pasta, vira algumas folhas, pega sua caneta e o entrega primeiro para Dulce. — Basta assinarem.

Dulce encara o contrato por alguns segundos. Posso ver as engrenagens do seu cérebro mexendo, pensando no que fazer. Ao erguer o pulso para pegar a caneta, noto seus dedos trêmulos.

Ela está em dúvida. Ainda há, nem que seja um por cento, de vontade dentro do seu peito de voltar atrás.

E essa é a minha chance.

— Você tem certeza de que quer fazer isso? — pergunto, pousando minha mão na sua, a impedindo de chegar nos papéis.

Pela primeira vez, nossos olhares se encontram. Dulce não desfaz o contato de nossas mãos. Quando vejo fundo nos seus orbes castanhos, sinto mil facas afiadas rasgando meu peito ao mesmo tempo.

Ela está... acabada. Visivelmente cansada. E, mesmo assim, continua encantadora.

É como se estivéssemos a sós nesta sala. Scott, Becker e Maite não existem mais; somos somente eu, ela e nossos sentimentos.