Dulce María
Hoje é o meu aniversário.
No dia seis de dezembro, Dulce María completa vinte e sete anos de uma existência patética, sem sentido e solitária.
O meu aniversário está longe de ser a minha data favorita - sendo sincera, acredito que é a que eu mais detesto. Adoro celebrar os anos de vida dos outros. Quando trabalhava para a banda, organizava festas surpresas para todos eles. Com exceção do meu ex-marido, é óbvio.
Quando jovem, fazia o mesmo com Maite. Apesar do nosso orçamento ser baixíssimo, sempre dava um jeito de comprar um bolinho ou até mesmo um cupcake junto de uma vela para comemorarmos.
Adorava ver as pessoas que amo felizes, celebrando seus dias únicos, onde vieram ao mundo.
Já eu, detestava comemorações.
Scott ou Fernando fazia questão de organizar algumas reuniõezinhas com os garotos, Anahí e Maite quando podia.
No ano passado, ele resolveu empolgar e fez uma festa surpresa como eu fazia para todo mundo. O desgraçado do Christopher contratou duas strippers para a ocasião, o que me fez gritar com ele e sair chorando do bar onde estávamos comemorando. Quando ele veio atrás de mim com aquele sorriso cafajeste me pedir desculpas, dei um tapa estalado na cara dele. Bem forte, sem dó nem piedade. Por um breve segundo, me arrependi na época. Mas no momento em que o desgraçado sorriu e disse: “Caramba, princesa. Você é feroz. Posso imaginar essa mão pesada e unhas afiadas fazendo loucuras com as minhas costas na cama”, lhe dei um chute no saco para combinar com o tapa.
Ele caiu e eu ri, voltando para dentro e expulsando as strippers.
Rio sozinha com essa lembrança, dando mais uma golada no que deve ser minha segunda garrafa de vinho que já está quase no final.
São onze horas da noite e estou completamente bêbada e solitária no meu apartamento, perambulando pela sala apenas com uma camiseta de linho branca com listras azuis na vertical que roubei de Christopher antes de ir embora para guardar de recordação. Não sei se ele deu falta da peça. Se deu, não disse nada. E mesmo se dissesse, eu não devolveria. Essa droga de roupa ainda tem o seu cheiro, por mais que já tenha lavado. O perfume maldito de Christopher continua aqui, vívido como se estivesse o cheiro.
Pego o colarinho da camiseta e inspiro o perfume com força.
Cheiro de Alex. Cheiro do homem que eu tanto amo, e que está tão distante de mim.
Isso é deprimente. Estou em um estado deprimente. Vagando pela minha casa solitária, de barriga cheia após comer sushi do restaurante mais caro que encontrei no aplicativo porque achei que merecia me mimar um pouco.
Maite não pode comparecer pois, como sempre, está em viagem com o otário do... droga, nem ao menos consigo me lembrar do nome dele. Ela insistiu que queria vir, que falaria com ele, mas sendo sincera? Prefiro estar sozinha. Aniversários nunca foram grande coisa para mim. É só mais um dia no ano - um dia em que lembro que dois adultos treparam em abril e boom, eu nasci.
Scott, Fernando, sei lá e mamãe deveriam ter usado camisinha. Nos pouparia de muitos estresses e traumas.
Os garotos da Furia Azteca haviam me parabenizado. Poncho, Christian, até mesmo Fernando, que não falava comigo desde quando nos encontramos na cafeteria.
Depois daquele dia, andei pensando muito sobre nossa relação. No que fazer, como fazer, se havia alguma forma de perdoá-lo com mais facilidade. No fim das contas, cheguei a conclusão de que, nesse caso, o tempo seria a chave para a cura. Não posso me forçar a aceitá-lo como pai, e não sei nem dizer se esse dia chegará. Não penso em tê-lo novamente como figura paterna; mas sim, como um amigo. Um velho amigo. Bem velho.
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O SOM DO IMPROVÁVEL
Fanfiction(+18) FANFIC VONDY Christopher Alexander é o típico astro do rock que todos amam odiar: talentoso, charmoso e cheio de problemas. Liderando a famosa banda "Furia Azteca", ele vive cercado por polêmicas, festas intermináveis e manchetes escandalosas...