Você deve se perguntar o que leva alguém a deixar tudo pra trás e tentar seguir em frente. Em alguns casos a resposta é "desilusão amorosa". Em outros casos pode ser apenas a busca de grandes realizações, no meu caso... bom, foram os dois.
Tudo começou quando me apaixonei perdidamente, não por um cara qualquer e sim pelo meu futuro curso na faculdade, cheguei a achar que estava no caminho certo, afinal a minha vida era uma constante dança. E eu tinha o namorado, digamos que perfeito. Nasci e me criei numa cidade grande, meus pais eram tão apaixonados e felizes que nunca achei que isso poderia ser diferente. Eles tinham um negócio juntos, fundaram uma escola de dança, meu pai é latino, tem o swing no sangue e minha mãe uma grande coreógrafa de dança moderna descendente de ingleses.
Minha vida virou um nó - pra não dizer algo pior - quando resolvi cursar administração em outra cidade e não continuar no mundo da dança, pra mim, dançar é tudo, mas poder administrar o que iria ser meu era o que eu realmente queria.
Entrei na faculdade cedo, aos 16 anos, sempre gostei de estudar, pulei uma série depois de fazer uma prova de aptidão, gostei disso porque conclui o ensino médio antes de algumas garotas insuportáveis. Então tive que voltar pra casa e o meu lar doce lar, já não era tão doce. Meus pais estavam afundados em dividas e tiveram que vender o que deveria ser nosso negócio de família pra tentar pagar a dívida. Não pude mudar isso, mas devia fazer alguma coisa pra tentar ao menos reverter a situação, ou ao menos tentar manter o que restava da minha família unida.
Procurei um emprego, mas vida de cidade grande tem custo elevado e meus pais resolveram ser pais muito tarde e só tiveram a mim. Somos nós três e uma enorme dívida que vou tentar pagar, ainda não sei como vou fazer isso, apenas vou fazer isso. Eles deram o melhor deles por mim, vou retribuir dando o meu máximo por eles.
Amanhã vou em uma empresa de grande porte logo cedo, tenho outras duas entrevistas marcadas, meu currículo é muito bom, trabalhei duro durante a faculdade pra não precisar receber nada de mesada dos meus pais, morei em republica, e costumava dar aula de reforço pra algumas crianças e adolescentes nos fins de semana, sempre fui boa com números. Além de trabalhar como professora de dança em uma academia. Por isso sei que posso me dar bem em qualquer lugar. Basta me darem uma chance.
*****
Acordo as 5h da manhã, me arrumo e deixo o café pronto pros meus pais, fiz boas compras no supermercado assim que cheguei, eles não acharam certo o que eu fiz, mas que se dane, não iria e nem vou deixar eles a "pão e água" não, isso nunca.
Como disse, trabalhei durante todo o meu curso e tenho uma boa economia, que consegui juntar pouco antes de ter que voltar pra casa e tentar resolver o problema financeiro que meus pais ganharam. Porém tenho que arrumar um emprego o mais rápido possível, o que eu tenho segura o supermercado por mais um mês e as contas de casa também, ainda bem que nossa casa é própria se morassemos de aluguel estávamos perdidos.
- Senhorita Macklay? - ouço a mulher da recepção me chamar, chegou a hora - por aqui por favor. - Segui a mulher até uma sala ampla e bem decorada - Sentesse, aguarde um momento que a senhorita será entrevistada pela vice presidente da empresa, a Sra. Izabella já irá atendê-la. - sorri e a mulher saiu.
Esperei pacientemente, até que uma porta que eu achei ser de um arquivo ou banheiro se abriu e uma garota que aparentava ter a minha idade apareceu, conversando com dois belos rapazes. Um loiro de olhos verdes e um outro de cabelos e olhos castanhos, ambos altos, fortes e bem vestidos em ternos alinhados e sob medida. Ela também está super bem vestida em um terninho básico e caro.
Izabella se parece com o rapaz de olhos verdes, devem ser irmãos. A conversa foi encerrada assim que o loiro me viu, ele gesticulou com a cabeça em direção ao lugar onde eu estava sentada e então o outro cara e a Izabella olharam. Ela se despediu deles, sorriu e se sentou de frente pra mim.- Bom dia senhorita Macklay, estava discutindo com meu irmão e meu pai sobre a sua contratação. - Ouvi certo, contratação? Pai? Bom, não deveria ser o outro cara que acabei de ver - Nós queremos que você comece o quanto antes, de preferência amanhã, nosso setor administrativo precisa de reforços e seu currículo é simplesmente espetacular e se encaixa perfeitamente nos planos da empresa.
- Obrigada senhora. - que difícil chamar alguém que aparenta ter a minha idade de senhora. - Fico lisonjeada com suas palavras e vou fazer o meu melhor.
- Quanto ao salário. Não se preocupe, receberás uma boa quantia dentro do padrão para o cargo que irás exercer. Você pode passar no RH e acertar toda a papelada da contratação, tenha um bom dia e nos vemos amanhã.
- Tudo bem, até amanhã. Apertei a mão que me estendeu e depois sai da sala, fui direto ao setor de recursos humanos e conclui a minha contratação, iria de fato ganhar um bom salário, claro que não seria o suficiente pra quitar as dívidas dos meus pais, mas com o tempo daria pra ajeitar as coisas. Voltei pra casa, precisava conversar com meus pais, dar a boa notícia. Mesmo que eles ainda estivessem dando aulas de dança no que um dia foi nosso, eles estavam velhos de mais pra continuarem ensinando, eram bons no que faziam mas era evidente o cansaço no rosto deles. Seria pedir muito que eles se aposentassem agora, tenho certeza que não fariam, ainda mais com as dívidas, nem mesmo a venda da antiga escola de dança foi o suficiente, até porque quem comprou não fez negócio direto com meus pais e sim com o antigo administrador da escola. E eles só estão nessa situação porque confiaram na pessoa errada pra tomar conta dos negócios durante o período que fui pra faculdade. Confesso que me sinto culpada pela atual situação da minha família, vou recuperar ao menos a dignidade deles dos velhos tempos sem a vergonha de se afundarem em meio a tantas dividas.
Cheguei em casa, preparei o almoço e esperei por eles, sei que era um pequeno exagero na atual situação, mas já estava contratada e começaria a trabalhar no dia seguinte, então preparei uma boa refeição a ocasião pedia, nunca fomos de beber, então nosso almoço seria acompanhado por suco de uva natural, fiz purê de batata, salada e carne assada de panela.
Assim que chegaram contei à eles a novidade, foi nossa melhor refeição desde que voltei, não houve nem um desentendimento sequer, apenas risos e grandes esperanças, agora tudo iria mudar e seria pra melhor, sem dúvidas.
*********
Já vai fazer um mês que estou trabalhando, a Izabella me proibiu de chamar ela de senhora, trabalho direto pra ela. Ela e o irmão Izaac o loiro que vi no dia da entrevista são os únicos herdeiros de uma rede de hotéis e prédios comerciais, uma construtora, entre outros empreendimentos. Descobri nesse tempo que estou aqui, que eles tentaram comprar a velha escola de dança dos meus pais, mas que outra pessoa o fez, foi um choque quando soube que o cara que administrava os negócios pro meu pai que fez a oferta de venda, de acordo com o que eu descobri ele vendeu e se mandou com boa parte da grana, isso mesmo, meus pais foram roubados.
Quando eu encontrar esse filho da puta, vou matá-lo, nem que pra isso eu precise pagar pelos meus atos. Nem ligo se isso acontecer, sei que ele não vai aparecer aqui em Salt Hill* tão cedo. Mas quando ele voltar vou estar esperando.
Chego em casa depois de um dia cansativo de trabalho, rever contas e orçamentos e ainda liderar uma equipe não é pra qualquer um, semana que vem, vou trabalhar em dobro a Izabella vai viajar com um dos sócios dela um tal de Ângelo, que pelo que ouvi nos corredores é o cara de olhos e cabelos castanhos que eu vi a quase um mês atrás, ele não trabalha aqui, são sócios em um negócio paralelo.
Meus pés estão me matando, acho super estranho o fato de meus pais ainda não estarem em casa, eles sempre chegam antes de mim. Tiro meus sapatos, vou direto pro meu quarto tomar um banho, visto um short doll e volto pra cozinha. Preparo o jantar e quando estou lavando a louça que sujei pra fazer uma fritada de carne ouço o barulho da porta abrindo e a voz da minha mãe. Vou até a sala e vejo pela primeira vez meu pai bêbado. O motivo? Eles foram demitidos, a escola de dança vai passar por uma reforma e vai virar uma galeria de artes. O novo dono tomou a decisão hoje pela manhã quando soube que uma galeria daria mais lucro do que a velha escola. Puta que pariu, preciso de outro emprego. Na idade dos meus pais ninguém vai querer contratá-los. Preciso de uma segunda fonte de renda. Onde e como? Ainda não sei. A grana que tenho segura esse mês e o próximo, mas preciso pagar a dívida da hipoteca da casa que é o que me preocupa de fato, fiz um acordo com o banco e não posso quebrar se o fizer perderemos a única coisa que nos restou, nosso lar.
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Salt Hill * - Cidade fictícia.
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Rox Drinking (REPOSTADO)
RandomUma garota, uma dança e todos os homens desejando possui-la. Um advogado em ascensão apaixonado pela filha do chefe. Duas melhores amigas e uma prima maluca ajudam Nataly Macklay a embarcar na maior loucura de sua vida. Durante o dia ela é a admini...