Alguns dias se passaram...
Adelaide ajudava Dulce a se vestir para o jantar, no quarto.
- Permita-me perguntar, madame. A senhora e o patrão já estão bem? - Adelaide perguntou, observando o reflexo de Dulce através do espelho na frente da ruiva.
- Como assim?
- Esses dias passaram muito distantes... a senhora ficou até doente. Graças que está
melhor.- Está tudo ótimo. Como eu sempre imaginei que seria. - Dulce respondeu com amargura.
- Senhora, na fale assim. - Adelaide a olhou com ar compadecido, parando de apertar o corpete do vestido. - Basta...
TOC TOC
As duas olharam, quando Christopher entrou no quarto feito uma rajada de vento.
- Pode descer, Adelaide. - Ele ordenou, olhando implacavelmente para Dulce.
A ruiva o encarou de volta, pelo reflexo do espelho.
- Mas eu ainda tenho que terminar de arrumar o vestido da senhora! - A mulher protestou.
- Deixe que eu faço isso. - Christopher a olhou.O olhar duro indicava que não queria discussões.
Adelaide, hesitante, assentiu e saiu do quarto.Dulce apertou as mãos, temerosa, quando o marido (ainda encarando-a pelo espelho, os olhos brilhantes como os de um gato maldoso) se aproximou.
- O que falta aqui? - Ele perguntou, observando as costas do vestido dela.
- Falta... - Dulce pigarreou. - Falta amarrar o corpete e laçar.
Sem dizer nada, Christopher pegou os dois cordões da parte de trás do vestido e puxou-os com força, apertando o corpete.
Dulce piscou. Ele foi puxando os cordões cada vez com mais força, fazendo o corpo pequeno de Dulce se sacudir com os puxões.
- Amarre com menos força, ou eu vou ficar sem respirar. - A ruiva protestou, olhando para trás enquanto tomava fôlego por causa da roupa apertada.
Christopher de um sorriso cínico, e Dulce franziu o cenho. Ele terminou o que fazia, e finalmente amarrou o laço.
Virou Dulce de frente para ele de repente, com as mãos logo abaixo dos seios dela.
- Está parecendo uma princesa. - Ele disse, observando o vestido longo e azul celeste que ela usava.
- A princesa presa na torre pelo ser do mal. - Ela atacou.
Ele sorriu.
- Sim. A bela e frágil princesa, em seu enorme castelo, ao lado de seu DONO. - Ele frisou a última palavra.
- Você não é, nem nunca será meu dono!
- Eu já sou, minha bela. - Com um olhar cruel, ele a puxou pelo braço para descerem para jantar.
O jantar daquela noite foi tenso. Até mesmo os criados que serviam a comida notaram o ar pesado.
- Quando vai me permitir uma visita aos meus pais, Christopher? - Dulce perguntou, no meio da refeição.
Ele terminou de mastigar, observando-a com um olhar brilhoso e felino.
- Acho que agora não é a hora apropriada.
- Mas eu quero ir vê-los! - Ela disse meio indignada.
- Espere mais um pouco. - Ele se serviu de vinho, calmo.
- Esperar o quê? Eu não os vejo desde o casamento!
- Sim, o que não se pode dizer que faz muito tempo, não é? Praticamente acabamos de
casar, não é necessário você ir visitar seus pais toda semana, ainda mais agora no começo de nossa vida juntos.- Mas você não pode me impedir se eu quiser ir!
- Posso sim. - Ele a olhou, com as feições duras. - Sou seu marido agora. E você tem que entender isso, Dulce. Não é mais uma menininha que depende dos pais. Agora é uma mulher casada, não há necessidade de incomodá-los toda hora.
- Não é porque casamos que você vai me aprisionar, Uckermann! - Ela gritou, largando o guardanapo. - Pretende afastar-me dos meus pais também?
Christopher se levantou da mesa, a figura alta e poderosa causando um impacto.
- Não grite, nem discuta nas refeições, Dulce!
- Faço o que eu quiser, não pode me controlar, Uckermann! - Ela se levantou também.
Christopher passou a mão no rosto, como que para se acalmar, mas de repente caminhou até a esposa e a pegou pelo braço.
- O que está fazendo?
- Cale-se. - Ele ordenou entre dentes, subindo as enormes escadas da Mansão, arrastando Dulce atrás de si sem a menor delicadeza... sem se importar se estava machucando-a.
- Vai me bater agora, seu animal? - Ela gritou. Mas estava com medo.
Ele a olhou com os olhos duros e gelados.
- Você está merecendo, Dulce, para aprender a me respeitar. Quem sabe um dia eu te dê uma bela surra... mas não hoje.
Ele abriu a porta do quarto brutalmente e jogou Dulce lá dentro. A ruiva se desequilibrou e caiu no tapete.
- Vai ficar aí até que mude de atitude! - Christopher disse, arrogante. - Cansei, Dulce Maria! Você não é mais uma menina... agora é uma mulher, e casada! Tem que se dar conta de que as coisas mudaram!
- Uckermann! - Dulce se levantou com dificuldade, mas quando se aproximou, Christopher já tinha batido a porta e trancado à chave. - Uckermann!!! Me tire daqui! Abra!
Nada. Christopher já tinha ido. Desesperada, Dulce bateu forte na porta.
- Alguém! Abra a porta!Por favor!
Ela começou a chorar, caminhou até a cama e sentou-se. Sua vida estava um verdadeiro inferno ao lado daquele homem! Tinha que sair dali!
No dia seguinte, Dulce acordou toda dolorida por ter dormido de mau jeito na cama. Esfregou os olhos e sentou-se. Viu que tinha dormido com o vestido longo da noite anterior, e sapatos.
Ouviu o trinco da porta sendo aberto e ergueu os olhos na mesma hora, esperançosa.
Adelaide entrou, preocupadíssima.
- Senhora?
- Adelaide! - Dulce, sem saber porquê, começou a chorar.
- Ahhh, senhora, não chore. - A mulher foi até a cama, pôs Dulce no colo e a consolou. - Quando fiquei sabendo que o patrão havia trancando-a aqui, exigi que ele me desse a chave para que eu trouxesse algo para a senhora comer!
- Ele é um homem horrível! - Dulce disse chorosa. - Quero ir embora daqui!
- Se acalme, senhora. Veja, eu trouxe uma comida deliciosa. - Adelaide indicou a bandeja. - Você precisa se alimentar direito, ontem mal jantou! E depois ficou aqui presa, pobrezinha.
Dulce começou a comer. Estava faminta. Quando terminou, olhou para a criada.
- Obrigada.
- Imagine... Senhora, me escute por favor. Não discuta, nem provoque o senhor.Ele se torna impiedoso quando fica com raiva! Por Deus! Não o provoque!
Dulce ia responder, quando um dos cozinheiros bateu na porta.
- Adelaide! O patrão está chamando-a!
A mulher acenou e depois olhou para Dulce.
- Fique bem, senhora. E por favor, ouça o que lhe digo.
Adelaide saiu do quarto, e Dulce suspirou enquanto olhava para a porta.