Dias depois...
Dulce estava caminhando lentamente por fora da Mansão. Ainda era começo de tarde.
Caminhou até a Fonte Uckermann, e sentou-se na beirada, colocando uma mão delicada dentro da água e começando a brincar com os dedos.
Estava pensativa... aqueles últimos dias tinham sido uma loucura, e até aquele dia
Christopher e ela não estavam se falando normalmente.Poucos minutos depois, Dulce virou-se com sobressalto ao ouvir um barulho nas folhas
secas do chão.Não viu nada e franziu o cenho.Levantou-se, e ouviu um miado baixo.
- Mas.. - Dulce andou um passo, e quando olhou para sua baixa diagonal viu um pequeno gatinho branco miando e tremendo, escondido nas folhagens perto da Fonte. - Um gatinho!
Sorrindo, Dulce foi até ele e se abaixou. O gatinho se retesou todo, com medo.
- Não precisa ter medo... O que faz aqui? - A ruiva pegou o animalzinho com muito cuidado, acariciando-o. - Pobrezinho! Está tremendo.
O pequeno bichinho miou mais alto.
- Coitado do animalzinho... - Dulce o observou, e viu que o gatinho estava todo sujo e parecia maltratado. Além de tudo, parecia estar faminto e frágil. - Não se preocupe, vou cuidar de você. Vamos para dentro.
Dulce, com a pequena bola branca de pêlos em seus braços, voltou para dentro da Mansão.
Estava se dirigindo à cozinha, quando Christopher apareceu, descendo as escadas.
- Aonde estava, Dulce? Nem Adelaide sabia onde você estava! Eu vou precisar sair e... - Ele se interrompeu quando viu o gato, enroscado em Dulce, miando baixo e olhando ao redor. Christopher ergueu as sobrancelhas e olhou para Dulce.
- Uckermann, eu encontrei o bichinho lá fora. Acho que escalou o muro e entrou aqui dentro das propriedades. - Dulce explicou, fazendo carinho no animal. - Ele está ferido e frágil pobrezinho. É um filhote ainda.
- E o que você e eu temos a ver com este bicho? - Chris perguntou, áspero e frio.
Dulce apertou os olhos, incrédula com tamanha frieza.
- Bem, você realmente não tem nada a ver. Mas eu tenho, não vou deixar o pobre animal lá fora para morrer de frio e de fome.
- Eu não quero animais aqui dentro, Dulce. - Ele apertou os dentes, lançando um olhar duro
ao gato. - Ele está imundo, e deve estar cheio de doenças. Você sequer deveria tê-lo pegado nos braços. Deixe esse bicho lá fora e vá se lavar.- Não vou deixá-lo lá fora! - Ela franziu o cenho. - Não se importa com nada que não seja você mesmo, não é Uckermann? Sequer um bichinho doente te dá pena!
Christopher suspirou, parecendo entediado.
- Não vai fazer diferença se o gato morrer na porta da sua casa, vai? - Dulce perguntou, já sabendo a resposta.
- A menor diferença. - Ele respondeu com ar gelado, quase divertido. - Pouco me importa se esse gato vai morrer de frio na rua, só não o quero aqui dentro!
Dulce sentiu-se arrepiar como nunca havia sentido. Deus, aquele homem era sem coração! Ele não era humano!
- Christopher, será possível você ter nascido com essa crueldade? Ou será que algo no seu passado o deixou assim, desumano? - Ela murmurou, olhando-o com uma seriedade quase pensativa.
As feições do marido se viraram, ficaram duras, e Dulce passou apressadamente por ele.
A ruiva foi até a cozinha, pegou um piris fundo e pôs leite morno dentro. Colocou no chão e pôs o gatinho na frente.
O animal foi com tanta gana ao piris que quase caiu dentro.Dulce riu, acariciando o pêlo do gato enquanto ele lambia o leite desesperadamente.
- Pobrezinho, está faminto. Não se preocupe, eu não vou deixar ninguém colocá-lo para fora. Ficará aqui até se recuperar e engordar um pouco.
Quando o gato raspou o piris, se espreguiçou.
- Ótimo, agora precisa de um banho.
O pequeno animal a olhou quase que com repreensão.
- Não, não me olhe assim. Você está imundo e se bobear deve ter até pulgas.
O gato ronronou, como se resmungasse. Sorrindo, Dulce o pegou no colo e o deixou seguro num braço, enquanto com a outra mão arrumava uma bacia com água morna, sabonete e um pano.
Deu um banho no gato (no começo ele estranhou, se eriçou todo e tentou fugir, mas no final deixou que Dulce o limpasse), o enxugou e o olhou satisfeita.
- Agora está bem melhor, não?
O gatinho miou, se espreguiçando todo.
- Bom menino. Ou será menina? - Dulce pegou o gato e foi conferir o sexo. - Não, é um menino mesmo. Você precisa de um nome, não acha?
Ele se recostou em Dulce, miando.
- Vejamos... - A ruiva pensou, afagando o pêlo (agora macio) do gato. - Já sei, Clark! É a sua cara...
Clark miou, aparentemente tinha gostado.
- Pobrezinho, é filhote ainda... - Dulce o observou. - Onde está sua mãe? Você ainda é tão pequeno.
- Senhora! - Adelaide apareceu de repente na porta. - O que é isso? Um... gato?
Dulce sorriu.
- Este é o mais novo membro da família, Adelaide. Se chama Clark!
Adelaide arregalou os olhos.
- Quem se chama Clark?
- Como quem? - Dulce girou os olhos. - O gatinho!
- Ah. Mas de quem é, senhora?
- Não sei. - A ruiva suspirou tristemente. - Achei-o lá fora, perto da Fonte. O pobrezinho tremia e mal se agüentava em pé de fome e cansaço. Trouxe-o aqui para dentro, lhe dei de comer e o limpei. Acredito que se perdeu na rua, ou o dono o abandonou, e ele acabou escalando o muro e vindo parar aqui.
- Que judiação. - Adelaide olhou para o pequeno animal. - Mas o patrão deixou a senhora ficar com ele? Que coisa mais gentil, o pobre gato devia...
Dulce pigarreou, desviando os olhos.
- O que foi? - Adelaide arqueou as sobrancelhas grisalhas. - Oh, o senhor não a deixou ficar com o gato, verdade?
- Na verdade não, mas eu ficarei com ele. - Dulce disse com impetuosidade. - Se Clark voltar para as ruas morrerá, está fraco.Eu tenho que cuidar dele, pelo menos até que se recupere. E nem mesmo o seu patrão poderá tirá-lo de mim, Adelaide.
A mulher suspirou, sem saber o que fazer. Ia discutir, mas o olhar de Dulce mostrava que a ruiva estava com plena certeza do que fazia.
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