- Adelaide, preciso ir à cidade fazer umas compras. - Dulce disse no dia seguinte, pela manhã, arrumando o chapéu delicado na cabeça.
- Mas... não será melhor ir com o patrão?
- Não, ele parece ocupado na biblioteca. - Ela respondeu com um suspiro. - Melhor não incomodá-lo.
- Então vou pedir a algum criado que...
- Não é necessário. - A ruiva interrompeu. - Por favor, eu sei me cuidar Adelaide. Christopher me deixa numa redoma de vidro, mas me sufoca. Vou sozinha, até mais tarde.
- Mas senhora!
Dulce acenou com um sorriso e saiu.
Passou cerca de duas horas fazendo compras na cidade. Comprou livros, e até um presentinho para Adelaide, Maite... e algo para Christopher.
A ruiva enfiou a mão na sacola, enquanto se afastava da multidão na calçada. Pegou na mão o que tinha comprado para o marido e sorriu.
Ia recolocar na sacola, quando alguém a agarrou brutamente por trás e lhe tapou a boca com um lenço.
Dulce se debateu e gritou, mas a força da outra pessoa era infinitamente maior. Ela tentou olhar para trás, e então viu o rosto de Alan.
- Olá, doçura.
Dulce não pôde falar nada, pois a mão do homem lhe apertava a boca. E só então começou a sentir um cheiro forte penetrando suas narinas.
Tinha algo naquele lenço! Tentou gritar, fechar a respiração, mas logo seus sentidos ficaram lentos... e Dulce foi caindo, sem forças.
Abriu os olhos e sua cabeça latejou. Se viu numa escuridão.Tentou gritar, mas sua garganta doía.
Dulce se ergueu com certo esforço e ficou de pé, olhando ao redor em busca de uma saída.
- A bela adormecida despertou enfim? - Ela ouviu uma voz logo atrás de si e pulou de susto, se afastando para longe com medo.
Alan riu e se aproximou. A leve luz que saía da porta entreaberta lhe iluminou o rosto, e Dulce achou que ele parecia um louco naquele momento.
- Onde estamos? - Ela perguntou baixo, com a voz rouca. - Para onde me trouxe, Alan?
- Calma, boneca.
- Como quer que eu me acalme? - Ela gritou. - Onde estamos?!
- Estamos num lugar muito deserto, onde ninguém faz idéia de onde seja. - Ele respondeu, calmo. - Por isso pode gritar, espernear, fazer o que quiser, minha bela. Aqui só estamos você eu.
Dulce começou a ficar seriamente desesperada. Suspirou, e tentou agir racionalmente.
- O que pretende com isso tudo? Porquê está fazendo isto?
Ele sorriu.
- Vou te explicar porquê. - O homem começou a andar lentamente ao redor de Dulce. - Acho que você sabe que eu sempre trabalhei para Uckermann.
A ruiva piscou, soltando o ar.
- Na verdade eu só sabia que vocês eram sócios nos negócios, ou algo assim.
- Pois não é só isso. Na minha vida inteira eu tive que sofrer para fazer tudo o que seu marido mandava. Ele era como o rei e eu seu súdito. - Alan deu de ombros. - Uckermann sempre foi o mais rico e poderoso, e eu no início não passava de um morto de fome. Quando ele me contratou, eu comecei a mudar de vida, e foi aí que me casei com Maite. Porém para conseguir tudo o que tenho, tive que sofrer. Sofrer nas mãos de Christopher. Tudo o que ele mandava eu fazia, sem poder reclamar... e tinha que fazer as coisas perfeitamente, ou ele me colocava na rua novamente. Com o passar dos anos, me tornei um quase sócio de Ucker. Começamos a trabalhar nos negócios dele juntos, mas claro que ele sendo o superior. Sempre mandando, e eu cumprindo.
Dulce soltou o ar. Não sabia nada daquilo, mas tampouco estava entendendo aonde Alan queria chegar.
- Ok, mas ainda não entendi seu ponto.
- Uckermann vai me deixar na rua! - Ele disse de repente, com amargura. - Esse é o ponto daqui. Depois de tantos anos de serventia e lealdade, ele resolveu que não precisa mais de mim. Me descartou. E agora vou perder tudo, querida Dulce... eu e Maite vamos ficar na rua, e tudo por causa do maldito egoísmo de seu marido!
Dulce o olhou, sem saber o que dizer.
- Eu sempre soube perfeitamente como Christopher era maldoso, não confiável, e vil. - Alan disse. - Mas nunca imaginei que ele pudesse fazer algo assim COMIGO! Que estou ao seu lado por anos, como um criado fiel! - Ele despejou, venenoso. - Ele não passa de uma pessoa má e sem coração, incapaz de ter pena ou de sentir generosidade.
- Não! - Dulce disse, abalada.
Não era possível... Será que Christopher não havia mudado como ela pensara, e que continuava sendo aquele homem frio que conhecera? Como ele seria capaz de colocar Maite na rua?
- Sim! - Alan replicou com fúria, pegando Dulce pelos cabelos de
repente. - Uckermann ao final das contas continua o mesmo, não é verdade?Dulce sentiu as lágrimas lhe pinicarem os olhos. Alan sorriu e jogou-a para frente, fazendo a ruiva cair ajoelhada no chão. Ela se encolheu, com o olhar perdido.
Alan se aproveitou da fragilidade da moça para se aproximar.
- Ora, não chore... - Ele disse, observando a primeira lágrima dela escorrer pelo rosto. - A decepção dói, não é? Ainda mais quando se trata de alguém que amamos. Dulce prendeu um soluço, virando o rosto. - Será que você continua amando Uckermann, mesmo depois de descobrir que ele nunca mudará? - Alan sussurrou em seu ouvido. - As palavras que me disse há alguns dias, minha doce Dulce Maria, continuam valendo? Como foi mesmo...? Ah sim! "Eu o amo... ele é diferente do que os outros pensam, e está mudando!" A ruiva fechou os olhos com força.
- Agora vê que ele não mudou nada. - Ele continuou. - Que tipo de homem generoso faz o que ele pretende fazer? Jogar nas ruas um amigo fiel, que o conhece há anos... e colocar sua amiga na rua sem dó, nem piedade. Encare, Dulce, ele nunca mudará. Nem mesmo você consegue mudá-lo. Ele é um animal em corpo de homem, não tem coração. Não sente piedade... carinho... nem amor.
Dulce se levantou com esforço, limpando o rosto.
- Pode ser verdade. - Ela murmurou, tentando ser fria. - Mas o que Christopher sente, ou não, não me importa agora. O que me importa é o motivo de eu estar aqui. Me diga, Alan, o que quer afinal comigo?
- Com você nada. Eu quero algo, mas com Christopher. E usarei você para chegar à ele.
Dulce estava pálida, por isso se encostou na parede.
- Não entendo...
- Mandei um bilhete ao seu marido. - Alan suspirou, relaxado. - Se ele não mudar de
idéia quanto à me mandar para a rua, eu a mato.A ruiva arregalou os olhos, tremendo.
- Mas não se preocupe, coisa linda... - Ele se aproximou e acariciou-a no rosto. - Só terei que matá-la se ele não aceitar minha proposta. Se ele aceitar, você está livre.
- E... c-como vai saber se ele aceitou?
- Eu deixei um endereço perto daqui, para que ele deixe a resposta escrita num papel, e com a assinatura dele garantindo que cumprirá sua palavra de me devolver o trabalho. Se até a meia-noite não houver uma resposta, ou se ele mandar alguém atrás de você, eu terei que matá-la. - Se aproximou de Dulce. - Por isso, torça para que seu marido faça as coisas certas, benzinho.
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