Dias depois...
Dulce lia calmamente um de seus livros preferidos, na biblioteca. Aproveitava a paz daquele dia para reler aquele romance que tanto adorava.
Clark miava em seu colo, enquanto Dulce acariciava de leve seu pêlo.
- Está lendo de novo esse livro? Quantas vezes vai repetir? - Uma voz rouca disse logo atrás dela.
Sobressaltada, Dulce largou o livro no colo e virou-se para trás.
- O que faz aqui, Christopher?
- Não posso mais entrar na minha biblioteca agora? - Ele ironizou, passando para a frente dela. A grande figura forte fez uma sombra diante do corpo pequeno de Dulce, que estava sentada na poltrona.
- Pode. - Ela voltou a acariciar o gato, baixando os longos cílios.
- Não me respondeu. - Ele a observava. - Não cansa de ler este livro?
- É o meu romance preferido. - Ela deu um sorriso meigo. - Já li quatro vezes, mas não canso.
- E fala sobre o quê? - Ele perguntou com interesse, olhando-a de modo frio como sempre.
Dulce deu de ombros.
- É sobre uma terra encantada... sabe, com fadas, anjos, uma mocinha que parece uma princesa e um mocinho que enfrenta tudo por ela. - Ela de repente ergueu os olhos, achando que Christopher iria rir por ela gostar de ler um livro tão romântico, e que falava sobre encantamentos.
Mas para sua surpresa, Christopher não riu. Somente continuou observando-a com a expressão dura.
- E porque você gosta tanto de lê-lo? - Ele perguntou.
- Não sei, a história dele é diferente. Mistura romance, com magia, e tudo mais. Eu gosto.
- Com licença. - Adelaide
bateu na porta e entrou.- Sim? - Christopher
virou-se para ela.- Há uma visita esperando os dois na sala de estar.
- Quem é? - Dulce estranhou, porque normalmente quando chegava alguém querendo falar com Christopher, ela tinha que subir ao dormitório ou ficar na biblioteca. Os dois não tinham amigos em comum.
- Me acompanhem. - Adelaide pediu.
Dulce levantou, ainda segurando Clark no colo, e seguiu Adelaide. Christopher foi logo atrás.
Quando chegaram à sala-de-estar, Dulce teve que engolir em seco, enquanto observava a figura que estava sentada na poltrona.
A morena de cabelos ondulados até os ombros, olhos caídos e sorriso malicioso levantou-se da poltrona e foi até eles.
- Boa tarde... - Disse coma voz rouca, olhando superiormente para Dulce e logo erguendo o olhar até Christopher.
- Erondine? - Dulce murmurou. - O que faz aqui?
- Dulce, até parece que não está alegre em me ver. - A prima ironizou, mas de modo discreto.
A ruiva não respondeu, suspirando e olhando brevemente dela para Christopher. Ele estava
impassível.- Como está, Erondine? À que devemos a sua presença? - Christopher perguntou polidamente, indicando o sofá para que sentassem.
Quando se acomodaram, Erondine sorriu de forma meiga.
- Ora, somente quis fazer uma visita. Conhecer a nova casa de minha prima. Mas se estiverem ocupados, eu posso volta outro dia...
- Imagine. - Christopher disse. - Eu não permitiria isso.
Ela sorriu afetadamente, se aproveitando do cavalheirismo de Christopher.
- Perfeito. Então creio que meu dia hoje será muito agradável. Mas antes de conhecer a casa, que por sinal é belíssima, posso pedir um chá?
- Claro. - Christopher acenou para um criado, que logo se aproximou.
O criado saiu em seguida para buscar os três chás.
- Mas o que é isso, Dulce? - Erondine perguntou de repente, se dando conta de que a ruiva segurava Clark e o acariciava.
Ela olhou para o colo, puxando o pequeno gato branco (que estava maior pelo fato de estar sendo bem alimentado e cuidado) para cima.
- O nome dele é Clark. - Dulce sorriu para o animalzinho, que a adorava.
- Você... cria um gato? - Erondine pareceu enojada. - Deus, sabe que animais como esses podem passar milhões de doenças?
- Não creio, ele é bem cuidado. - Dulce respondeu, erguendo um olhar frio para a prima.
- Ao menos é de raça?
- Não sei responder. Encontrei Clark abandonado fora da Mansão.
- O quê? - Erondine olhou para o gato como se ele fosse uma coisa asquerosa. - Achou esse animal por aí? Christopher... - Ela virou-se para o homem. - Você não devia permitir que minha prima cumprisse todos seus caprichos.Desde pequena ela sempre foi muito voluntariosa, e se deixar que ela faça o que queira vai acabar mimada.
Dulce escancarou a boca. Sua prima tentava causar um conflito e a ofendia daquele jeito na cara dura? E na sua frente? Deus, a prima parecia piorar a cada ano.
- Erondine...
- Dulce. - Christopher repreendeu. - Erondine, eu não acho que o fato de Dulce ter um animal vá me fazer um marido tolo, ou fazer dela uma mulher mimada. Mas sobre o fato de você ter chamado-a de voluntariosa... - Ele olhou de soslaio para a ruiva. - Isso eu tenho que concordar.
Dulce olhou-o com indignação. E Erondine não sabia se ficava sem graça pela resposta dele, ou se sorria por ele ter concordado com ela na última frase.
- Bem... quer me acompanhar agora para que eu mostre a Mansão? - Ele propôs.
Erondine afirmou com a cabeça e colocou a xícara de chá sobre a mesa.
- Mas é claro.
- Vem conosco, Dulce?
De repente Dulce sentiu-se mal e indesejada. Levantou do sofá, depositando Clark sobre as almofadas, e respondeu com irritação:
- Não. Pode levar Erondine, Christopher. Eu tenho algumas coisas a fazer agora. Não vai se chatear, vai prima? - Perguntou com sarcasmo.
- Imagine, querida! Tenho certeza de que seu marido vai me fazer uma adorável companhia. - Erondine deu um sorriso cheio de más intenções, sem que Christopher notasse.
- Perfeito. - Dulce forçou um sorriso e passou por eles. Subiu correndo as escadas em direção ao quarto, e ao entrar trancou a porta e se jogou na cama.
Sentia um aperto na garganta.