No dia seguinte, Dulce resolveu fazer uma visita aos pais. Logo cedo, se vestiu, tomou um café rápido, e aproveitando que o marido não estava em casa pediu à um dos criados que a levasse numa carruagem.
- Minha querida! - Blanca exclamou, ao receber a filha. - Fernando, venha cá! - Chamou, enquanto abraçava Dulce.
O pai da ruiva apareceu momentos depois, fumando um charuto, a expressão séria.
- Olá papai. - Dulce foi abraçá-lo.
- O que faz aqui? E seu marido?
A ruiva recuou, um pouco sem jeito.
- Christopher está resolvendo alguns assuntos e não pôde vir comigo, papai. Mas não está feliz em me ver? - Ela o olhou.
Fernando fez um gesto impaciente com a mão, dando uma tragada no charuto.
- Sim.
- Claro que ele está, meu amor. - Blanca sorriu para Dulce. - Mas venha tomar um chá conosco.Como vai a vida de casada?
Dulce acompanhou a mãe, contente.Fernando seguiu-as logo atrás.
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Durante o chá, mãe e filha ficaram conversando alegremente. Fernando só comentava alguma coisa ou outra, e somente quando Blanca lhe dirigia a palavra, ou quando ele tinha uma oportunidade de criticar Dulce.
- Com licença, vou para o meu escritório. - Ele disse em certo momento, se levantando, colocando o copo de whisky na mesinha e saindo.
- Acho que ele não está muito feliz com a minha visita. - Dulce murmurou para Blanca.
- Não diga bobeiras, Dulce. Ele é seu pai.
- Isso não quer dizer nada. - A ruiva franziu a testa.
Blanca balançou a cabeça e deu um jeito de puxar outro assunto banal com a filha.
Decorrida meia hora, a mulher disse que precisava providenciar o almoço com os criados, e pediu que Dulce a esperasse e ficasse à vontade.
Quando a mãe saiu, Dulce encarou as chamas da lareira acesa da sala de estar. Logo se levantou, e decidiu ir até o escritório da casa.
Deu duas leves batidas e entrou. Fernando estava sentado numa poltrona, de frente para a janela e observando o lado de fora.
Ele olhou para trás e quando viu Dulce não falou nada.
- Posso entrar? - Ela perguntou, hesitante, já fechando a porta atrás de si.
- Já entrou. - Ele respondeu com frieza, voltando a encarar a janela.
Dulce engoliu em seco e se aproximou... já estava na hora de ignorar seus medos em relação ao pai e enfrentá-lo.E aquilo seria agora.
- Não parece muito contente com minha visita hoje. - Murmurou de forma banal.
Fernando deu de ombros.
- Estou normal, Dulce.
- Sim, normal. - Ela soltou o ar. -Normal porque você sempre me tratou assim, desde pequena. Mas somente é normal para você, papai. Não para outros pais.
- Do que está falando, menina?
- Eu quero dizer que o normal é um pai amar seus filhos. - Ela respondeu, distante. - Dar carinho, atenção, e querê-los bem.
- Agora vai querer dizer que eu não a trato bem, é isso?
Dulce soltou um suspiro.
- Só quero dizer que você não age como os pais normais. Você me faz sentir uma completa estranha aqui. Me faz sentir indesejada, como algo que incomoda. E me sinto assim desde pequena, papai.
Ele não respondeu, e a ruiva se aproximou, tocando o braço de Fernando.
- Porquê? Porquê me trata assim? Eu sou sua filha!
Dulce estava com vontade de chorar, mas estava prendendo todas as suas emoções.
Fernando voltou-se para trás, encarando a ruiva. Pareceu avaliar o que diria por um segundo, e logo voltou a virar para frente, ficando de costas para ela.
- Você foi um acidente. - Ele disse de repente. - Eu e Blanca não havíamos planejado você... na época éramos muito jovens e não estávamos preparados. Eu não queria filhos tão cedo. - Ele disse em tom distante. Dulce ficou estática. - Mal havíamos casado, um filho iria atrapalhar tudo. Eu... pedi para Blanca tirar, quando ela engravidou, mas ela não quis. - Ele confessou. Falava tudo sem olhar para Dulce, como se falasse sozinho.A ruiva começou a sentir os olhos arderem. - As pessoas começaram a tentar mudar meus pensamentos... começaram a dizer que se Blanca tivesse um menino, ele seria o herdeiro e que eu poderia ensiná-lo muitas coisas. E era verdade.Aos poucos eu me animei a ter um filho.
Dulce sentou-se numa cadeira, calada.
- E foi aí que você nasceu. - Fernando pela primeira vez olhou para trás e olhou no fundo dos olhos amêndoas de Dulce. - Tem noção da decepção que foi para mim?
A ruiva engoliu em seco, a garganta ardendo pelo nó que havia se formado.
- Uma menina... - Ele continuou, amargurado. - Destruiu todas as minhas esperanças de poder ao menos ter um herdeiro. Você é minha maior decepção, Dulce. - Ele murmurou, sem pena.
A ruiva ofegou, os olhos rasos pelas lágrimas. Mas não ia chorar na frente do pai.
- Agora eu entendo. - Ela sussurrou. - É uma pena que eu tenha te decepcionado tanto, mesmo que sem querer, papai. Dizendo isso, Dulce se levantou da cadeira e saiu do escritório sem olhar para trás.
Passou pela sala de estar, e saiu da casa sem se despedir de ninguém. Somente entrou na carruagem que a esperava do lado de fora, querendo sair dali o mais rápido possível.
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O que o Uckermann vai fazer? Próximo cap ^-^