Christopher bateu na porta e entrou.
Encontrou Dulce na cama, sentada com as pernas dobradas na frente do peito e o olhar fixo na parede. Parecia desanimada... pequena e frágil.
Ele se aproximou da cama e sentou-se ao lado dela. Observou-a e logo ergueu o queixo pequeno de Dulce, para que ela o encarasse.
- Está melhor? - Perguntou suavemente.
A ruiva tirou uma mexa vermelha do rosto e assentiu.
- Tem certeza?
- Sim. - Ela sorriu brevemente. - Aonde foi?
Christopher tirou a mão do rosto da moça e soltou um longo suspiro.
- Apenas resolver algo que estava incomodando à nós todos. Agora acho que pela primeira vez tudo vai ficar melhor.
Dulce não entendeu do que ele falava, mas aquilo lhe passou certa confiança. Por isso sorriu docemente para o marido.
Ele devolveu o sorriso. Um sorriso muito leve e momentâneo, mas verdadeiro. O primeiro sorriso verdadeiro que Dulce o via dar.
- Vamos descer? - Ele se ergueu da cama e estendeu-lhe a mão.
Dulce olhou para a mão dele. Então assentiu e se levantou também, colocando a mão pequenina sobre a dele. Christopher a conduziu para fora do quarto, ambos de mãos dadas.
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- Dul, me desculpe, mas eu não te entendo. - Maite disse. - Há algumas semanas atrás você abominava seu marido. O odiava. Até tentou fugir dele! E agora você me diz que tudo mudou?
- Maite... - A ruiva sorriu. - Christopher está diferente.Antes eu só o conhecia como todos o conhecem, de forma superficial e enganosa. Eu sempre o tomei por um homem que na verdade ele não é. Eu nunca busquei saber o porquê dele ser do jeito que é... só quando descobri a verdade é que o compreendi. E te digo que por baixo de toda a frieza, ferocidade e crueldade... há um bom homem, porém com a alma machucada.
Maite soltou o ar, erguendo as sobrancelhas.
- Bom, se você diz... é porquê deve ser. Afinal você desvendou o passado dele, e ninguém melhor para conhecê-lo do que a esposa. Mas eu ainda acho quase impossível de acreditar que Christopher Uckermann, o homem mais temido e maldoso da cidade, é na verdade um homem generoso.
Dulce sorriu e tomou seu último gole de chá.
- Eu sei que parece difícil acreditar. Eu no seu lugar tampouco acreditaria... mas agora que conheço o verdadeiro Christopher, posso lhe dizer que é exatamente assim. Bem, mas está na minha hora, Mai. Preciso ir pois hoje o jantar será mais cedo.
- Está bem. - A morena sorriu. - Não precisa me acompanhar até a porta. - Dulce murmurou gentilmente.
As duas se despediram, e Maite pediu que um criado acompanhasse Dulce.
A ruiva estava quase na porta, quando Alan apareceu, inclinado na parede e com um sorriso malicioso.
- Ora ora... não sabia que estava nos fazendo uma visita.
- Vim visitar Maite, não você. - Dulce respondeu.
Ele riu e se aproximou dela.
- Pode ir. - Ele fez um abano para o criado.
Dulce assentiu e o criado saiu.
Depois a ruiva virou-se para Alan de queixo empinado.
- Porquê tanta grosseria, docinho? - Ele perguntou com um olhar irônico.
- Sem sarcasmo, por favor. Agora se me permite... - Dulce se adiantou para a porta, mas Alan a deteve.
- Porquê a pressa? Como anda o casamento com Ucker?
Dulce apertou os olhos e se afastou dele.
- Cada dia melhor, obrigada.
- Ora... - Ele sorriu. - Não me diga que a princesa por fim se rendeu ao monstro?
- Não vou permitir que fale assim do meu marido. Christopher não é um monstro... é muito melhor do que você foi por todos estes anos, tenho certeza. - Dulce replicou, indignada.
Alan gargalhou com surpresa.
- Veja como o defende! Pelo que vejo se apaixonou por ele...
- Não apenas me apaixonei... eu o amo. - Dulce respondeu.
- Mas... - Ele pareceu confuso. - Como uma moça tão jovem e bonita pode amar uma criatura tão frívola e isolada?
- Não acho que o senhor entenderia. - Dulce sorriu. - Creio que amar não consta em seu vocabulário. Eu o amo sim. Amo o verdadeiro Christopher...pelo que é realmente. E não o Christopher que todos vêem.
- E como seria o verdadeiro Christopher? - Alan zombou. - Não se engane, moça. Eu o conheço há anos. Ucker não tem sentimentos, apenas ódio e maldade por dentro.
- Christopher passou por coisas na vida que você e os outros sequer sonham. Ele não é mau. É apenas um homem ferido. No fundo é generoso e possui sim sentimentos... - Dulce o olhou de cima a baixo. - Ao contrário de muitos homens que conheço.
Alan ergueu a sobrancelha com zombaria.
- Deus meu... realmente fico surpreso. Como pode uma beleza como você querer ficar presa à uma vida limitada ao lado de um homem como Uckermann? - Ele se aproximou. - Quando ao invés disto poderia aproveitar a vida de outras formas... - Ele a pegou pela cintura.
- A melhor forma para mim, é ao lado dele. - Dulce frisou as palavras, soltando-se. - Agora preciso ir, não posso mais perder tempo.
Dulce caminhou até a porta.Depois se virou para trás mais uma vez.
- Tenho pena de Maite. - Deu de ombros e saiu, deixando Alan chocado e irritado.