Begin Again - O Reencontro do RBD

01. A abordagem - Parte 1

CAPÍTULO UM

Quando ele disse que queria falar com ela, Anahí logo soube do que se tratava. Ela estava morando na Europa há quatro anos, e não o via há seis. Mesmo assim, Pedro fez questão de tomar um voo até a França especialmente para vê-la. Assim, de repente. "Não podia falar pelo telefone". Então, não foi muito difícil adivinhar. Afinal, seus fãs vinham lembrando-a com frequência, como se ela pudesse esquecer: aquele era o ano do 10º aniversário do fim do grupo RBD - um sexteto pop do qual ela fizera parte por cinco anos antes de aposentar sua carreira artística. Após a separação do grupo, ela chegou a lançar um disco solo e fazer uma turnê pela América Latina, mas aí veio o primeiro casamento, as tentativas de engravidar, o divórcio, o segundo casamento, o segundo divórcio... O tempo passou, e agora ela estava com Pedro Damián ali na sua frente. Seu ex-empresário e produtor.

- Casa bonita. - ele elogiou, sentado de frente para ela, ambos acomodados nas poltronas confortáveis colocadas no jardim, cada um de lado da mesinha de centro, cercados por vasos de planta. Era uma tarde de sol, mas a temperatura estava amena, e os dois desfrutavam da sombra proporcionada pela árvore ao lado dela. Havia também passarinhos voando e, de vez em quando, pousando nos ombros dela.

- Obrigada. Ainda não tem a minha cara. A decoração é toda dele. Mas admito: ele fez um belo trabalho. E eu gosto dos pássaros.

"Ele" era o segundo marido, o segundo político. Diziam que Anahí havia trocado a carreira artística pela política, porque terminou com o primeiro marido assim que o mandato dele chegou ao fim em Chiapas e, logo depois, começou a se relacionar com o segundo, que estava em campanha eleitoral nessa pequena comuna francesa. Mas ela jura que foi coincidência. Conheceu o segundo apresentada pelo primeiro, em um evento político, e achou a troca justa. O primeiro era machista e a fez abandonar a carreira. O segundo a levou para a Europa. Para abandonar os palcos, que fosse para ser primeira dama no primeiro mundo. Em uma cidadela do primeiro mundo que fosse.

- Eu sei por que você está aqui. - ela disse, antecipando-se, porque estava muito ansiosa - E eu aceito!

- Você está brincando? Eu preparei uma lista de argumentações! - Pedro riu.

- Poupe seu tempo e o meu! Estou doida para voltar a trabalhar. Não aguento mais ficar aqui olhando para o horizonte e dando ordem para os empregados. Não quero nem saber quais são os termos, estou dentro. Confirmadíssima na volta do RBD, claro que sim!

- Eu podia ter dito pelo telefone, então.

- Podia!

De volta ao México, Pedro Damián foi ao encontro do Alfonso Herrera, que, ao contrário da Anahí, não tinha ideia do porquê da visita. Ele recebeu o ex-empresário em seu apartamento - um quarto e sala bagunçado na Cidade do México. Poncho usava jeans surrados, uma camisa com cara de velha e um All Star, o que lhe dava uma aparência deprimente para um homem de 36 anos. Simplesmente não combinava. Alfonso havia se tornado diretor de filmes indie que ninguém via, e era difícil entender como ele pagava as contas investindo mais do que recebia nesses projetos fadados ao fracasso. Não que alguém pensasse nisso. Não era como se alguém realmente se lembrasse dele para pensar em suas finanças. Mas Poncho se achava extremamente cool por ter conseguido abandonar de vez o mainstream pelo underground. Os outros artistas, ao contrário, sentiam um pouco de pena dele.

- Poncho, eu te procurei porque tenho uma proposta a fazer. - Pedro entrou no assunto, depois de jogar um pouco de conversa fora. Ele tinha um copo d'água na mão, e desconfiava que aquilo era tudo que o anfitrião podia oferecer. A sala fedia a nicotina, por causa da falta de ventilação, e ele queria sair dali logo antes que sua rinite ficasse insustentável.

- Diga. - Poncho não estava exatamente interessado, mas parecia atento, enrolando o dedo na barba farta.

- Estou pensando em trazer o RBD de volta. Esse ano faz dez anos da separação e os fãs merecem uma celebração.

- Celebrar o fim do grupo com o retorno? Isso não faz sentido. - Poncho parecia incomodado com a simples menção à hipótese disso acontecer - Eu não trabalho mais com isso, Pedro, não sei se você notou.

- Eu sei, Poncho. Mas você não sente saudade de todo aquele sucesso, dos estádios lotados?

- Uma farsa. Eu não canto. Milhares de pessoas pagando para ver uma farsa. Eu faço um trabalho autêntico agora. Não foi fácil me livrar do estigma de ex-RBD, dessa imagem comercial e superficial. Não tenho o menor interesse em voltar a isso.

Pedro deixou o apartamento sem um "sim". Ele buscaria Poncho de novo depois que tivesse acertado com os demais. Ele sempre soube que seria difícil convencê-lo, mas ficou impressionado porque nem a certeza do sucesso interessaram o cara. Poncho aparentemente não se deslumbrava com a hipótese da fama, o que tornava tudo mais difícil. De qualquer forma, Pedro deixou um DVD com ele, na esperança de agarrá-lo pelo sentimental. O cantor sempre foi sentimental. Isso tudo devia ser uma máscara.

Maite Perroni foi a terceira sondada. Agora, uma atriz do primeiro escalão do México, ela era outra pessoa. Pedro marcou de encontrá-la no estúdio de sua nova novela - a 11ª protagonista desde que se desvinculou do RBD. Ela havia emendado uma trama na outra e lançado alguns álbuns que as pessoas só compravam porque a amavam, pois não eram nem de longe bons. Ela mesma, de alguma forma, havia priorizado a televisão à música, porque foram ali que surgiram as oportunidades. Ninguém entendeu muito bem como aconteceu, mas de repente, a mais apagada do RBD havia se tornado a queridinha do país. A Televisa não conseguia deixá-la fora do ar por mais do que um mês por ano. Para Pedro, tanto sucesso era um obstáculo para seu projeto, mas ele tinha que tentar.

Logo que chegou ao estúdio, notou a mudança no tratamento. Maite, outrora a mais acessível, agora era colocada em um pedestal por todos os funcionários da casa. Chegar até ela significava passar por muitos subalternos e receber inúmeras autorizações. Era um pouco enfadonho e ele teria desistido, se não fosse tão importante esse encontro. Em certo momento, a avistou de longe, chegou a acenar, mas ela não o viu, correndo pelo corredor para seu camarim. Devia ter acabado de gravar uma cena, ele pensou.

Foi no camarim que ela o recebeu, pedindo desculpa por "qualquer coisa". Maite o abraçou forte, feliz por revê-lo, e pediu que trouxessem um suco para eles beberem. Disse que gostaria de ter mais tempo, mas só tinha meia hora disponível. Ainda gravaria mais quatro cenas naquele dia, e tinha que entrar ao vivo em um programa de entrevistas mais tarde. Era um dia especialmente corrido.

- Vou direto ao ponto, então. - Pedro disse - Eu quero saber se você está disposta a retornar ao RBD.

A expressão dela acusava seu espanto. Nem em seus piores devaneios, ela havia pensado nisso.

- O RBD, Pedro? - ela parecia não entender - Como assim?

- RBD, o grupo onde você começou sua carreira, ora bolas.

- O grupo que fazia sentido quando eu tinha 20 e tantos anos, e não 36 como hoje. - ela enfatizou, demonstrando que não estava particularmente empolgada com o convite - O que você quer exatamente?

- É o aniversário de dez anos do fim do grupo. Quero unir vocês de novo, ver o que acontece. Tenho várias ideias, mas quero saber primeiro se vocês estão abertos.

- Hum, isso não é meio andar para trás? Deixe o passado lá no passado. Todos nós construímos carreiras depois do grupo. Um revival arranharia minha credibilidade como artista, eu acho. Essas coisas são para quem está em fim de carreira e quer ganhar uns trocados. Não é o meu caso. Alguém já topou?

- Você é a primeira com quem estou falando. - ele mentiu.

- Hum... Eu posso ficar de pensar? Tenho que conversar com meus empresários, de qualquer forma. Me dê seu cartão que eles ligam para você. Há questões de agenda com a Televisa também... Vamos ver, vamos ver.

E Dulce, Christopher e Christian? Como os outros três integrantes vão receber a novidade?