65. Cara a cara

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Anahí não podia acreditar que estava mesmo fazendo aquilo, mas não via outra saída. Não fazia o menor sentido subir no palco para esse show, tanto tempo depois, se não fosse da melhor maneira possível. Para fazer algo meia-boca, ela preferia não fazer. Não estava nada satisfeita com o que via naquele ensaio. Era o último! Ela sabia o tempo todo que eles não estavam na melhor condição possível, com a saída de Maite, a briga com Poncho, o medo de Christian recair... mas havia aquela esperança de tudo ficar bom até o dia. Agora, não havia mais tempo. Sem tempo, sem esperança. Ela podia cantar "Empezar Desde Cero", claro. Mas podia tentar algo melhor também.

- Oi, er, sou eu. Você pode avisar que estou aqui? – ela disse ao chegar à porta da mansão... de Maite Perroni.

- Um minuto. – a governanta disse e desapareceu nas dependências da casa. Pela primeira vez, Anahí se deu conta de que Maite talvez não quisesse recebê-la. Bem, ela não tinha motivo para isso. Maite que beijara o namorado dela. Anahí se sentia muito evoluída por estar na porta daquela casa de novo. Outra não passaria por isso... Visitar a amante? Pfff! Ela respirou fundo, de olhos fechados, tentando afastar tais pensamentos. Não era o momento.


Maite achou que não tinha ouvido bem quando a governante disse o nome Anahí. Primeiro, Pedro. Agora, Anahí. Ela pensou que havia deixado claro que estava saindo do projeto. Não queria contato com ninguém. Aliás, era justamente por não querer contato com ninguém que havia pulado fora do projeto. O que Anahí queria agora? Outro barraco? Outro surto sem fundamento? Não era possível.

Deitada, Maite levou alguns bons segundos para ter qualquer tipo de movimento. Não tinha certeza se queria encarar aquilo. Disse para a governanta ir fazer qualquer outra coisa, pois ela mesma atenderia Anahí na porta. Não queria que ela entrasse. Anahí podia quebrar alguma coisa só de raiva. Da porta, era mais fácil despachá-la. Não dava para esquecer facilmente como haviam sido os últimos contatos...


Anahí imaginou que Maite estava discutindo com a governanta, porque nenhuma das duas aparecia. Espiou para dentro da sala e não viu nem um mosquito. "Talvez ela esteja se vestindo", pensou justamente no momento que Maite despontou no alto da escada, séria. Tudo bem, Anahí não achou mesmo que seria um encontro cheio de sorrisos. Ela mesma não sabia exatamente o que estava sentindo por estar ali.

- Oi. O que deseja, Anahí? – Maite disse somente quando estava próxima o bastante para não ter que elevar o tom minimamente que fosse.

- Oi, oi. Eu sei que é estranho eu estar aqui.

- Muito estranho, realmente.

- Nisso concordamos.

Maite não falou nada, e o silêncio incomodou Anahí, porque quem devia estar sendo durona era ela e não o contrário. Ela que foi traída!

- Vou ser breve, não se preocupe.

- Diga.

Anahí percebeu que não sabia como falar. Novamente, o silêncio pesava como concreto entre as duas.

- Você disse que seria breve. – Maite pressionou.

- Nós precisamos de você! – Anahí vomitou a frase, porque não havia maneira eufemística de dizer isso – É isso. Precisamos. De verdade. O que fazer? Precisamos. O show não vai ser o mesmo sem você, Maite.

- Eu não vou fazer esse show. Já disse. Não depois de tudo.

- Escute-me. Eu estou passando por cima dos meus sentimentos e mágoas para vir falar com você. Não está sendo exatamente fácil para mim. Não esqueci o que eu vi.

Maite revirou os olhos.

- Eu já disse que...

- Não, não. Não quero que discutamos isso. Eu vim pelo RBD. Somente isso. Independente de nossa briga, de minha briga com o Poncho, de sua briga com o Poncho, nós devemos isso aos fãs, Maite. Eu devo, você deve, todos nós devemos. Não podemos entregar nada menos que o melhor. Você sabe disso. O show sem você ou qualquer outro integrante seria um déficit enorme. Nosso público não merece essa decepção.

- Anahí, por favor!

- Maite, uma coisa que eu aprendi na vida é que temos que ser gratos. – ela deu uma pequena pausa – Meu Deus! Até o Poncho vai fazer esse show! O Poncho, que nunca mais cantou! Aquele filho da mãe está lá, ensaiando, tentando pegar os passos! Estou morta de ódio, mas há de se reconhecer. Ele está lá. Você também deveria estar. É tudo sobre gratidão, Maite. Você deve ser grata a alguém. Se não ao Pedro ou ao grupo, pelo menos aos fãs.

- Any...

- Eu te peço com todas as letras: faça esse show. Por todos.

- Eu...

- Eu já vou embora. Era só isso. Não precisa dizer nada agora. Tchau. – Anahí se virou e correu em direção ao carro. Maite ainda parada na porta. Antes de entrar no carro, ela completou: - Ah! Eu nunca estive aqui.

Maite acenou. Anahí se foi. Maite não percebeu, mas uma lágrima descia de seu olho direito. Anahí não havia pedido desculpas.  

Begin Again - O Reencontro do RBDOnde histórias criam vida. Descubra agora