Desta vez eu sonhei.
Não sei bem se eu posso chamar de sonho,pois eram minhas próprias memórias falando.Eu queria que elas fossem mudas.
"Eu não aguento mais isso! Você sempre esta cuidando da minha vida! Eu sei muito bem o que eu faço e onde eu piso! Ano que vem eu já vou fazer 17 anos!" eu dizia nervosa para minha mãe,depois de ter chegado mais tarde,bem mais tarde, do horário que ela havia proposto,antes de eu sair com meus amigos.
"Olha aqui moçinha,se você acha que já é dona do seu próprio nariz,vá tirando o cavalinho da chuva! Até que você tenha sua própria casa,sua própria comida e seu próprio emprego você continuará sobre as minhas ordens!" ela gritava detrás do balcão da cozinha. "E tem mais,se você acha que isso vai ficar impune,está enganada de novo,eu não vou permitir mais nenhuma farra sua por um bom tempo!" ela franzia as sobrancelhas e me fuzilava com os olhos. "E outra...que cheiro é esse na sua camisa? Não vai me dizer que você estava fu..."
"Isso não é da sua conta!" gritei."você vai me impedir de sair também?" eu perguntei quase chorando de raiva.
"é isso mesmo!" ela falou ,mais determinada que tudo.
"Ah! Essa eu quero ver! Você não pode me impedir de sair!" eu disse já me virando e pisando firme.
"Não posso?" ela disse me interrompendo. "que tal se você fosse para um colégio de mulheres? Em? na casa da sua tia,do outro lado da cidade!" ela falou,mais calma e firme.
"Você não seria capaz..." eu disse me virando e olhando para ela.
"Ah não,é? Você sabe muito bem que eu não gosto dessas suas amizades,e se eu te colocar em um colégio em tempo integral,não sobrará muito tempo para essas suas festas e saidinhas,além do mais,seus tios são ainda mais rígidos que nós,os filhos deles já se casaram,e,agora,a casa está vazia,eu não perderia um segundo em te levar pra lá e ver se sua educação melhora um pouco!" ela disse já com os olhos marejando.
"Primeiramente" eu dei um passo para frente. "Se eu tenho essa educação ,a culpa é única e exclusivamente sua! E outra !" eu dei mais um passo à frente olhando nos olhos dela. "eu não poderia esperar outra coisa de você ! É isso que você quer não é? Se livrar do seu problema?!" eu dei mais um único passo para frente,apontei meu dedo no rosto dela e continuei. "Eu te odeio!" gritei,assim me virando para ir ao meu quarto.
Pude ouvir Matt entrando em casa,ele provavelmente não havia ouvido nada,tinha acabado de chegar do clube de futebol que ele fazia parte,era uma festinha de despedida de um amigo deles que ia se mudar para Chicago,por causa do emprego dos pais,meu pai (que estava colocando o carro na garagem) foi com ele e provavelmente foi por isso que ele pôde ficar até tão tarde.
Ele jogou a bola de futebol suja para um lado e foi correndo até minha mãe,preocupado,vendo que ela estava chorando,muito.
"O que aconteceu mãe?!" ele perguntou colocando a mão no ombro dela,aflito.
"Nada filho,vai pro seu quarto vai!" ela disse tentando conter as lágrimas.
Antes que ele negasse,meu pai chegou,e,vendo o estado de minha mãe,com uma palavra,fez Matt ir correndo até o quarto.
"O que aconteceu, Luciana?" ele disse meio bravo.
Eu não pude ouvir direito,pois já fui de novo para o meu quarto,e fechei a porta,infelizmente não tinha tranca,meus pais não deixaram,e eu estava esperando que eu não tivesse que ouvir mais nenhuma pessoa falando e falando sobre como eu fazia tudo errado na vida.
Mesmo não ouvindo a conversa,eu já imaginava o que minha mãe falaria...o motivo de seu choro,era eu.
Em poucos minutos,meu pai já estava abrindo a porta,fechou por trás dele,e se sentou ao meu lado,na cama.
Eu estava realmente esperando o maior sermão do mundo! que ele dissesse o quanto eu estava errada,que eu fiz minha mãe sofrer,que eu tinha que mudar minhas atitudes,mas não foi nada disso que ele falou,antes,ele tivesse dito isso,com a expressão mais calma que eu já vi em seu rosto,ele começou a falar.
"Olha, filha...você está crescendo,no ano que vem,já completa dezessete,e eu aqui ficando mais velho!" ele deu uma risadinha. "eu também fiz muitas coisas quando jovem,umas de que me orgulho,outras de que me arrependo,mas eu demorei muito para amadurecer,e isso prejudicou muito a minha vida" ele se ajeitou melhor na cama,e olhou diretamente para os meus olhos.
"O fato,é que você sabe o que faz querida,já não é mais uma menina,sabe o que é certo e o que é errado,eu não posso te obrigar a ser de um jeito,não posso te obrigar a sair com gente de quem eu goste,não posso te mudar,mas,as coisas que você faz hoje,que pensa que são para você,refletem na vida de pessoas à sua volta,sua mãe e eu sempre tentamos dar à você e seu irmão a melhor educação,a melhor comida,a melhor casa,e,mesmo sabendo que vocês nunca se tocaram muito bem disso,eu fico feliz por poder ajudar no crescimento de vocês" ele voltou seu olhar para o chão.
"Mas é só isso que eu posso ser,uma base,eu plantei a semente,vocês estão crescendo,e,logo darão seus frutos,eu só espero Lis,que você dê frutos bons,que depois de olhar tudo aquilo que foi ramificado da sua vida,sinta orgulho,você é a responsável pelos seus atos filha,e,se você não mudar,a vida te muda!,e as formas como ela nos trata,as formas que Deus encontra para nos fazer entrar no caminho certo,são mais dolorosas,do que se fizermos por livre e espontânea vontade..." ele se levantou,foi até a porta,a abriu,e,antes de sair,terminou dizendo: " Eu e sua mãe te amamos,e sempre iremos,mesmo que você pense que sinta o contrário,mesmo se tudo der errado,nós sempre estaremos aqui..." Ele deu um sorriso,e fechou a porta,me deixando sozinha com os novos pensamentos que ele havia me feito formar.
Ele realmente me impressionou, as palavras dele tinham doído mais do que se ele tivesse batido em mim,as coisas que ele disse...Será que o que eu estava fazendo no momento me daria orgulho daqui há alguns anos? Será que minha vida daria bons frutos? Será que o caminho que eu estava escolhendo era... errado?
Naquela noite,com meus amigos,tínhamos passeado até altas horas,só falando bobagens,contando besteiras,ouvindo algumas músicas,e,todos os outros estavam fumando maconha.
Maurício viu o outro grupo de amigos que havia se encontrado com a gente e pediu um pouco da droga para si, e ela foi passando, e,parou em mim,eu rejeitei todas as vezes que me ofereceram,eu já tinha ficado bêbada uma vez,não queria ficar viciada e muito menos dependente! Meu pai sempre dizia que a única dependência que tínhamos que ter era de Deus,que a única coisa que deveria nos viciar,era sua palavra,eu me lembrei dele nessa hora,e,também,pela primeira vez,comecei a olhar pelo lado de Deus,será que ele se agradava disso? Bem,acho que não...
Eu não toquei na droga,mas,quanto tempo mais eu ia resistir até que eu realmente experimentasse? Talvez eu iria me arrepender pelo resto da vida,será que tudo aquilo valia à pena? Só para ter amigos legais? Não ser rejeitada na escola?
As palavras de meu pai com certeza me fizeram pensar bem mais do que se ele tivesse brigado comigo simplesmente...ele era sábio,dizia as palavras nos momentos mais certos,por isso muitas vezes Gabriel me lembrava dele.
Eu fui dormir naquela noite,pensando na minha vida,nas coisas que eu poderia mudar,e essas hipóteses me perturbaram até a outra manhã,quando eu resolvi pedir perdão para minha mãe,mas,a parte que eu cogitava em mudar,mudar minha vida e tudo mais...eu adiei para mais tarde,e essa causa ficou adiada até o dia em que eu não pude mais ouvir os sábios conselhos de meu pai.
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I Segundo Para o Fim do Mundo
AdventureA vida para uma adolescente normal num mundo normal,já é complicada,mas a vida de uma adolescente não tão normal num mundo pós-apocalíptico é pior ainda. Elisa perdeu seus pais no arrebatamento e está dividida sobre o que realmente teria acontecido...