Capítulo 34

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Ele estava machucado,bem machucado,os interrogadores pareciam pegar mais duro com os homens,e pelo jeito,Gabriel sabia tão pouco quanto eu,ele estava caído praticamente ao chão,com os braços tampando seu rosto,seu cabelo ainda intacto,mesmo bagunçado,os seus cachos sedutores...

Sorri para Amélia,que,sem querer ouvir meus agradecimentos que nos dariam perca de tempo,disse:

"Sei que me ama Teles..." ela sorriu. "Vinte minutos...vou fechar a porta e vigiar daqui de fora..."

"Mas..."

"Vai Teles! Aproveite o momento! Eu ficarei bem! Sei me virar sozinha,você que precisa de mim" ela deu uma leve risada,também o fiz.

Com a maior esperança,entrei na cela,a porta se fechou atrás de mim,eu não teria muito tempo,mas diria tudo o que eu precisava dizer.

Ele ainda estava com a cabeça baixa,sem me ver,mas resmungou.

"Achei que me dariam mais um dia..." ele dizia sem me ver,senti falta de ouvir sua voz,um sorriso involuntário apareceu em meu rosto.

"Já disse que não sei de nada,então se vocês quiserem que eu diga de novo,eu vou dizer,podem até gravar, EU- NÃO- SEI -DE..." ele logo levantou a cabeça,me vendo.

Sorri,e ele,incrédulo,continuou a me olhar.

"Lis?" queria confirmar.

Assenti.

Logo um sorriso se formou em seu rosto,ele se levantou,e veio me abraçar.

"Enfermeira,é?" ele dizia alegre ainda me abraçando. "Achei que nunca te veria assim...achei que...que nunca mais te veria!" ele disse,mudando o tom de voz,para um preocupado.

Olhei para a face dele,uma boa parte roxa,mas continuava bonita,passei a mão levemente sobre suas feridas,ele não reclamou,parecia apreciar o momento tanto quanto eu.

"O que fizeram com você?" continuei a examiná-lo.

Ele pôs sua mão sobre a minha,a parando de inspecionar.

Olhei em seus olhos.

"Olha eu conversei com Amélia,se nos apressarmos conseguiremos ultrapassar os guardas e..." ele pôs seu dedo indicador sobre meus lábios.

"Shh..." ele me parou,eu não estava entendendo. "Lis...é difícil admitir...mas você sabe...não vamos sair daqui tão cedo,você acionou toda a segurança e logo o disfarce não vai mais servir,eles trancaram tudo...não tem mais jeito,então eu vou usar esse tempo,pra falar coisas que já deveriam ter sido ditas há anos atrás..." ele tinha um olhar encorajado,se afastou um pouco para me olhar melhor,mesmo abatido,lindo.

"Mas podemos!...nós..." tentei dizer que poderíamos sim sair de lá,que tínhamos esperanças,mas no fundo,eu sabia que não conseguiria,o que me movia era a esperança de revê-lo.

"Só...me deixe terminar, está bem?" ele pediu com tanta doçura,assenti,e ele continuou.

"Eu quero aproveitar pra dizer tudo o que tenho que dizer,antes que tudo acabe,porque você sabe Lis,todos sabemos,que um dia,iremos morrer..." eu sabia,sabia que o apocalipse adiantaria o prazo para mim,só tentava não me lembrar todos os dias.

"Quero viver a cada dia que Deus quiser ainda me proporcionar,com a certeza do que direi..." meu coração estava acelerado demais, o que ele teria de tão importante para dizer? . "Você se lembra do dia em que eu prometi que cuidaria de você?" ele perguntou,me relembrando,eu assenti,com um sorriso da boa lembrança. "Eu...eu não só queria cuidar de você naquele momento..." ele parecia estar meio confuso com as palavras,com medo de errar,mas estava determinado a dizer.

I Segundo Para o Fim do MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora