Capítulo 4 - A Festa

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Gabriel e eu ficamos esperando por uns 20 minutos até ocorrer a troca de turno dos policiais que rondavam nosso bairro, aproveitamos a chance e corremos os 2 metros e meio que faltavam até chegarmos em minha casa, tranquei a porta rapidamente, meu coração estava acelerado, eu estava muito ofegante, Gabriel também não estava muito equilibrado, sentou-se no sofá e apoiou sua cabeça em seus braços.

"Tá tudo bem?" ele perguntou erguendo a cabeça.

Eu assenti.

"Ainda com fome?" perguntei, retomando o fôlego indo em direção à cozinha.

Ele assentiu, perguntou se eu queria ajuda mas não tinha muito no que ajudar, eu só tinha alguns pães velhos e quase nada de água.

Sentamos na mesa e comemos sem falar absolutamente nada, terminamos a "refeição" em 5 minutos e o silêncio já estava ficando incômodo para mim, decidi dizer alguma coisa.

"Bom, quer ver o seu novo quarto?" eu dei uma risadinha e levantei em direção as escadas do andar de cima.

Ele pareceu um pouco surpreso com a proposta, talvez pelo fato d'eu ter dito seu, ele nunca teve um quarto só para ele, parecia que antes mesmo dos últimos acontecimentos ele nunca teve uma boa vida, me arrependo de não ter o ajudado, eu tinha tudo que poderia querer, uma boa família, casa, pessoas que me amavam, e agora eu só tinha Deus...e Gabriel.

"Adoraria" ele respondeu me seguindo.

Subimos as escadas, eu mostrei o quarto do Matt, não entrava lá desde que ele tinha partido, comecei a observar o lugar, ele estava do jeitinho que Matt deixou, sua cama ainda com o edredom dos astronautas, sua escrivaninha ainda cheia de espadas de plástico empilhadas, o chão ainda coberto por brinquedos, e em cima do criado-mudo ainda estava sua pequena bíblia, a bíblia do menino, minha mãe sempre lia um versículo com ele antes de dormir, e ele fazia várias perguntas pra ela, ela respondia algumas, e outras dizia que responderia no dia seguinte, o deixando muito curioso, Matt era um ótimo menino, ele...ele sempre tentava ajudar os outros, e seu coração era sincero, queria ter passado mais tempo com ele.

As lembranças fizeram meus olhos lacrimejarem.

Gabriel percebeu que lembrar dele me machucava.

"Se você quiser eu posso dormir em outro lugar..." ele disse olhando compreensivamente para mim.

"Não, não" eu enxugava algumas lágrimas rebeldes que saíam. "Pode dormir aqui sim, é que eu estava me lembrando do Matt...bom, vamos dormir, quem sabe o que pode acontecer amanhã né...está tarde"

Ele concordou, eu dei um tchau e fui para o meu quarto ao lado.

Eram 10 da noite, mas pra mim não fazia diferença, estava escuro o dia inteiro, fazia tempo que eu não via a luz, às vezes eu desligava meu abajur e deixava meu quarto totalmente sombrio, depois acendia uma vela, pequena, só para me recordar de como era o sol, outro que entrava na minha lista da saudade.

Eu não dormi nada.

Até tentei, pensei em me desligar de tudo e fingir que logo de manhã minha mãe me acordaria, como se nada tivesse acontecido, é...minha mãe...não consegui resistir, eu expulsava de meu pensamento toda e qualquer lembrança, eu já estava sofrendo demais, pensar neles fazia doer.

+++

"E eu conheço essa tal Amanda?" minha mãe indagava mexendo o recheio do bolo que estava fazendo na panela.

"É claro que sim mãe, não se lembra dela? Ela até falou com você na última reunião de pais" eu mentia descaradamente, precisava ir naquela festa, todos os meus amigos iriam e eu não ia ficar de fora pela quadragésima vez, sabia que bares não eram confiáveis, muito menos na área em que a Leila me falou, mas se eu recusasse o convite deles de novo com certeza meu grupo vicioso de amigos se despedaçaria, e eu ficaria sozinha como alguns nerds da minha sala, não, eu não podia decair assim.

I Segundo Para o Fim do MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora