Capítulo 22

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"Mas o que é isso?!" perguntei quase pulando no pescoço dos dois malucos na minha frente.

"Como o que? Vamos nos marcar ué...eu é que não vou passar fome mais nenhum dia da minha vida!" Catarina exclamava indignada com meu questionamento.

"Mas vocês não podem!,Paulo! Você nem pensou no que eu disse? Foi tudo em vão?" Eu perguntei já me levantando com muito custo,eu estava com tanta raiva que a dor de minhas feridas havia amenizado.

"Lis...não é por mal mas...fala sério! Isso aí são só contos,eu acredito no que vejo,e o que eu vejo,é a salvação pra essa crise,e vocês podem se salvar também! Qual é!? Por causa de um livrozinho só de teorias vocês vão sacrificar a vida?!" ele dizia já pegando a sua mochila e a de sua irmã,eles realmente pretendiam ir até o local das marcações.

"Livrozinho de teorias?!" falei alto chegando mais perto dele. "Eu estou tentando salvar a sua vida! É isso que estou fazendo! Eu te considero um amigo,e é assim que você me retribui?!" falei histérica.

"Elisa, só você que vai querer passar frio e mendigar comida,porque todos nós estamos indo direto pra marcação! " Catarina pendurou sua mochila no ombro. "Vamos Paulo,vem Biel!" ela disse fazendo o gesto para que Gabriel se aproximasse.

"Eu não vou Catarina..." ele disse determinado, mas em um tom meio triste.

"Como assim não vai?!" ela perguntou desacreditada.

"Eu não vou...o que vocês chamam de Livrozinho de lendas,é o meu guia pra uma vida melhor,fora desse hospício que chamam de mundo,sinceramente,se vocês querem ser marcados vão,eu não vou impedir,mas estamos avisando,depois arquem com as consequências..." Gabriel disse,me deixando orgulhosa.

"Que consequências?" Paulo perguntou.

"Deve ser as de ter comida e abrigo pra viver!" Catarina respondeu por ela mesma.

Eu e Gabriel trocamos olhares,e voltamos a eles. "Eles não sabem..." Falei a Gabriel.

"Não sabemos o que?!" Paulo cada vez tinha mais perguntas.

"Falamos?" Gabriel perguntou,eu assenti,eles precisavam saber.

"É que..." Ele continuou. "Depois que vocês forem marcados,não vai ter volta..." ele dava passos até eles.

"Aqueles anjos que eu tinha dito que seriam libertos do Eufrates já fizeram a primeira parte da destruição...mas ainda falta a segunda..."

"Esses anjos demoníacos, vão se apossar das pessoas que tiverem a marca,fazendo com que matem as que não tiverem ela..." completei a fala dele.

Catarina caiu na gargalhada,pondo a mão na barriga,enquanto Paulo,parecia não estar tão hilário assim,ele permanecia sério,e preocupado.

"é sério mesmo isso? Isso está mais parecendo um daqueles filmes de zumbis e vampiros!" ela continuou rindo.

"Isso quer dizer que..." Paulo se manifestou. "Nós vamos...matar vocês?"

"Vão querer..." afirmei.

"Olha Gabriel...você nunca foi muito de contar histórias,na verdade se recusava a acreditar em qualquer fantasia na época em que namorávamos..." Gabriel olhou desajeitado pra mim,ele achava que eu ainda não sabia...acho que estava querendo me poupar da dor que ele sabia me fazer sentir,de alegria...de tristeza... "Mas isso foi até demais...agora pare de brincar e vamos logo..." ela disse pegando na mão dele e tentando o puxar.

"Eu NÃO vou Catarina!" ele puxou seu braço de volta.

Ela pareceu pensar um pouco,e,depois que viu que não havia mais volta,decidiu ceder.

"Tudo bem então...só espero que vocês sobrevivam..." ela se aproximou de nós dois,e pediu. "Posso só me despedir dele?"

Fiquei meio receosa,mas,como negar um pedido de adeus? Eu com certeza não iria gostar se eu tivesse tido a oportunidade de dar adeus a meus pais e isso fosse me recusado...eles tinham passado por muita coisa juntos...eu tinha que deixar.

"é claro..." falei me afastando e me aproximando de Paulo,de costas para os dois.

"Então...é isso?" Paulo me perguntou;

"Vai ser só isso se você quiser que seja só isso...você ainda tem escolha Paulo" falei mais calma.

"Eu sei! é só que...é tão difícil de acreditar,eu...só...não...consigo..." ele disse meio que gaguejando com as palavras.

"Você consegue sim...só tem que esquecer o passado" falei dando um abraço nele,e fui retribuída.

"Mesmo assim...obrigada por tudo! Você foi a minha melhor amiga apocaliptiana!" ele riu.

Ri também,mas,quando percebi que ele havia parado e estava olhando surpreso para onde Gabriel e Catarina conversavam,decidi olhar também.

E aquilo,doeu mais que as feridas.

Eles estavam se beijando.

Na minha frente.



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