O quarto vazio me fazia prestar mais atenção à minha respiração ofegante.
Nos poucos minutos que eles deixaram à mercê da minha mente,comecei a relembrar de muitas coisas,um pequeno filme com os melhores e piores acontecimentos da minha vida passou pela minha cabeça,não era tão bom quanto nos filmes,a realidade era mais severa.
Logo me direcionei para o dia em que conheci Gabriel,um dos melhores da minha vida,não foi tão romântico como todos esperam,mas...mais realista...
"Vizinho novo?" perguntei me aproximando do estranho agachado na escada de,agora,sua nova casa.
"É o que parece..." ele disse,um pouco desanimado,me estendendo a mão com um sorriso cansado,o cumprimentei.
Gritos ecoaram de dentro da sua casa,era seu pai.
" Ele...é...bravo,não?" tentei puxar assunto,afinal tinha muito tempo livre,não tinha mais pais,estava no final do mundo,e eu só trabalhava à tarde,( sim,naquela época eu ainda trabalhava) para suprir as minhas necessidades,enfim,nada pra fazer de noite.
"Muito...às vezes não consigo o controlar...principalmente depois da partida da minha mãe...e da minha irmã..." ele não parecia ser fechado,estava falando com uma estranha sobre perdas familiares...parecia ser uma boa pessoa,e,notando melhor,bem bonito.
"Me desculpe...eu..." tentei me retratar.
"Não...você não tinha como saber..." a conversa cessou e antes que eu pensasse em me despedir,ele voltou com o assunto mais pautado dos últimos meses.
" O que acha sobre tudo isso?"
"Bem louco..." foram as únicas palavras que consegui para expressar minha atual situação.
"É..." ele sorriu parecendo se lembrar de algo. "você me parece o tipo de pessoa que não acredita muito em poderes além dos nossos...divinos..." ele olhou para o céu.
"Ah não..." revirei os olhos. "Se quiser tentar me convencer dessa história também eu..."
"Calma,calma estressadinha! Eu não vou falar nada mais sobre isso...mas ainda posso prever mais sobre você,você até mesmo acabou de comprovar uma de minhas estatísticas..."
Sorri de modo a ironizar: que inacreditável senhor cigano! " ah é? E o que mais prevê sobre mim?"
"Tem um bom coração...mas cometeu muitos erros..." fechei o sorriso. "Sabe da verdade,mas não quer admitir porque ainda é muito orgulhosa,ou melhor,sempre foi..." tudo bem,sinceridade demais! " deveria ter se dado melhor na vida...se a teimosia não se acomodasse tanto em seu coração..." quem era ele pra dizer essas coisas? "Mas ainda sim...tem salvação...ou pode ter..."
"Olha eu não preciso ficar aqui ouvindo essas baboseiras de um estranho!" murmurei,ele estava me deixando louca em apenas 5 minutos de conversa,comecei a me afastar,mas ainda pude o ouvir.
"Quando deixar o orgulho de lado...eu estarei aqui ás onze da manhã...vou para um lugar onde ajudam pessoas como você e eu..." ele falou meio que gritando meio que normalmente.
"Ah é? E que tipo de pessoa eu sou?" falei,parando no meio da calçada e me virando para ele.
"Do tipo que precisa de ajuda!" ele disse,me virei de novo e comecei a andar, um pouco devagar,parecia que no fundo eu ainda queria ouvir o que ele tinha para falar.
"E tem mais...pressinto que ainda vamos nos ver muitas vezes!" ele gritou pra mim,que menino estranho era aquele?
"Eu duvido!" gritei entrando em minha casa e fechando a porta,pensando se no próximo dia,eu cogitaria a ideia de regar as plantas às onze da manhã...
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I Segundo Para o Fim do Mundo
PertualanganA vida para uma adolescente normal num mundo normal,já é complicada,mas a vida de uma adolescente não tão normal num mundo pós-apocalíptico é pior ainda. Elisa perdeu seus pais no arrebatamento e está dividida sobre o que realmente teria acontecido...